IV

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“Foi num dia de chuva que eu me apaixonei.”
Carmen

Eu era um canário. Eu vinha vivendo toda a minha vida presa em uma gaiola onde eu podia ter tudo que eu queria e a portinhola estava sempre aberta me passando uma falsa sensação de liberdade. Eu fitava os outros animais através das grades e em minha cabeça eles eram os únicos presos em suas vidinhas onde tudo se tratava de amor e amizade.

Em um dia fatídico, quatro corujas do lado de fora da gaiola olharam para o mórbido eu e me aconselharam a fazer alguns amigos, mas eu não lhe dei ouvidos. Eu tinha tudo que eu desejava dentro da cela, amigos apenas seriam um empecilho.

E então uma raposa astuta apareceu e abriu as portas da gaiola sem a minha permissão, ficou ali por um tempo, contando as maravilhas do mundo a fora e ludibriando-me a despeito de tudo. Foi por causa desta última que eu decidi abandonar meus preceitos e sair dali para conhecer este onírico mundo a qual ela me contava.

Na minha classe o meu assento era na penúltima carteira da fileira ao lado da janela - o que nos dias quentes era demasiado conveniente e nos frios nem tanto

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Na minha classe o meu assento era na penúltima carteira da fileira ao lado da janela - o que nos dias quentes era demasiado conveniente e nos frios nem tanto. - As paredes da sala eram alvas e por sorte não haviam grades nas janelas como em diversas escolas daquela região, os alunos em geral eram bem comportados, os funcionários do colégio eram amigáveis e isso era tudo que eu sabia a despeito daquela escola mesmo que eu tivesse começado a estudar lá a quase três anos.

Já estávamos praticamente no meio do semestre e era embaraçoso saber que eu nem sequer uma vez levantei minha cabeça para ver quem estava sentado ao meu redor, pelo menos até aquele momento.

Depois de Pedro ter me aconselhado a fazê-lo eu ao menos tentaria fazê-lo. Eu sei que meus irmãos haviam me aconselhado antes e veementemente a sair da minha bolha de conveniência, mas era um pouco distinto quando o conselho vinha de fora:

Languidamente eu espichei meu pescoço e contemplei as pessoas que sentavam-se aos meus arrabaldes: uma garota de cabelos e olhos escuros feito piche e um corpo voluptuoso; um garoto moreno de cabelos tingidos de azul; e um garoto que usava preto da cabeça aos pés e tingia a crina e os sobrolhos de vermelho.

Depois de analisar o meu feitio eu percebi que não era assustador, era um começo e me provia um sentimento agradável.

Quem eu queria enganar? Podia até ser um começo mas era aterrador e me provia um embrulho horrível no estômago. Como eu futuramente poderia conversar com eles se somente observá-los já era um desafio? Ser amigo deles se fiz de tudo para que eles ignorassem minha existência? E é claro, minha dúvida pendente: Como pude olhar com tanta facilidade para Pedro se olhar outras pessoas era uma peleja?

 Como eu futuramente poderia conversar com eles se somente observá-los já era um desafio? Ser amigo deles se fiz de tudo para que eles ignorassem minha existência? E é claro, minha dúvida pendente: Como pude olhar com tanta facilidade para Pedro s...

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