XIX

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A raposa de pelagem lilás arranca com seus dentes as pétalas da flor de múltiplas cores incessantemente chegando enfim ao seu centro, ao coração daquilo que um dia foi um pássaro em uma gaiola e se surpreende ao encontrar uma garota, uma garota que foi matizada pelo mundo e que ainda se encontra em uma constante mudança, uma garota cuja as asas ainda tem de crescer.

A garota encara a raposa, fitando seus grandes e brilhantes olhos, procurando neles aquilo que ela realmente é.

Era o último dia das férias de julho, eu estava trabalhando na loja

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Era o último dia das férias de julho, eu estava trabalhando na loja. Pela primeira vez em muito tempo não estava frio, a luz do sol entrava pelas janelas redondas em estilo japonês e pela grande porta de vidro a minha frente, as flores mergulhavam deleitantes na luminosidade, era quase possível ouvi-las rindo pelo prazer que há muito não tinham.
Eu vestia um regata preta, uma Jeans surrada e um avental verde.

Meus irmãos e meu pai saíram para as compras, eles iam demorar e disso eu estava certa, neste momento eu vi a oportunidade e pedi para Pedro buscar os óculos que ele havia esquecido comigo – eu teria levado para ele eu mesma se não estivesse ocupada com a loja.

Quando Pedro chegou eu estava regando as plantas com um borrifador de água, ele sorriu e acenou para mim.

- Bom dia, Carmen! – Ele beijou minha testa e sentou no cadeira com espaldar estofado azul atrás do balcão. – Vim buscar meus óculos.

- Eu já vou buscar seus óculos, só deixa eu terminar aqui, tudo bem?

- Tudo bem, quer ajuda?

- Não precisa, eu já estou acabando, não vai demorar nada.

Pedro também vestia roupas leves, uma camisa azul clara e uma jeans cinza rasgada (surpreendentemente, nada de preto).

Pode parecer um trabalho cansativo para muitos, mas dar água para as plantas sempre foi um trabalho prazeroso para mim, elas estavam cansadas e com sede, me imploravam suplicantes por algo para beber então eu dava-as água e elas me agradeciam.

As gotículas de água pendiam em suas pétalas e suas folhas, quando sol batia no orvalho fazia com que ele brilhasse como milhares de ínfimos diamantes.

- Pode cuidar da loja para mim rapidinho? Eu estou subindo – avisei tirando o avental e o colocando em cima do balcão quando terminei meu serviço.

- Claro.

- Obrigado, só não roube nada.

- Vou pensar no seu caso.

Eu subi rapidamente pelas escadas, passei pela cozinha (percebendo que eles haviam deixado a televisão pendurada ligada) e andei pelo corredor em direção ao meu quarto. – Agora só preciso lembrar onde foi que enfiei.

Meus olhos escrutinaram pelo meu quarto, eu sabia que o tinha guardado em algum lugar, só não me lembrava onde. Enfim, eu desisti dessa método de procura e decidi “meter o louco”, abri cada gaveta e cada armário, procurei em baixo da cama, da escrivaninha e do criado mudo, procurei na cozinha, na sala, no banheiro e no quarto dos meus irmãos, de tempos em tempos eu estalava minha língua apenas para mostrar minha indignação ou exclamava um palavrão para extravasar a raiva, até que eu enfim me lembrei que havia o guardado na minha caixinha de joias, dentro do meu guarda-roupa.

CarmenOnde histórias criam vida. Descubra agora