IX

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“Meu jeito mau esteve sempre aqui,
você só não podia ver antes.”
Ghost Town, Voodo

As férias frias de julho enfim chegaram e não havia nada a ser feito a não ser passar meus dias a fio em labuta na loja. Em casa, eu usualmente ficava com Cauã que havia entrado de férias da faculdade ou lia algum livro para desperdiçar meu tempo. Mas independente do que eu fizesse em nenhum momento eu fiz a menção de Pedro em minha mente, ou eu menos eu tentei não fazê-lo.

Em realidade, era difícil não pensar nele, qualquer coisa que eu via e realizava levava-me ele. Como na vez em que contemplava as pessoas que caminhavam pela rua e vi uma mulher passeando com seu cachorro de pelagem ruiva que parecia uma raposa, logo a raposa fez-me alusão da astúcia de Pedro e não consegui mais tirá-lo da cabeça pelo restante do dia. Ou quando Carlos saiu para se encontrar com a namorada e vestiu a blusa favorita dela, um moletom com uma tonalidade lilácea que recordava-me os olhos de Pedro.

Aquilo era uma tortura, eu apenas desejava bater a cabeça numa parede para ver se recuperava a sanidade.

Neste meu dia a dia, antes que eu pudesse perceber já haviam se passado duas semanas e eu não fizera nada mais que lamentar-me e grunhir pelos cantos. Foi quando Verônica apareceu.

Ela veio com pernas longas e galgazes, seus olhos brilhavam como a mata verdejante, seus cachos de ouro pulavam feito molas conforme seu caminhar. Quando ela abriu a porta da minha floricultura na segunda-feira pensei que a mataria apedrejada.

- Olá Carmen. – Eu senti seus lábios rubros contra minha face.

- Você veio pegar orquídeas? – perguntei secamente.

- Nah, hoje eu só vim lhe fazer companhia – respondeu sentando-se no banco ao meu lado e rindo como sinos tilintando. – Aliás, você poderia me passar seu número? Afinal, somos amigas agora.

Eu dei de ombros enquanto ditava meu telefone para ela, não sabia se podia considerá-la uma amiga com os sentimentos que nutria por ela mas ainda assim não fazia mau.

- Mas me diga – começou, um fulgor surgiu em seus olhos – conseguiu fazer as pazes com Pedro. Descobriu porque ele estava lhe ignorando?

- Não consegui fazer as pazes e nem descobri o porque dele estar agindo dessa maneira.

- Ah, que pena, Carmen. – Os sobrolhos loiros de Verônica franziram, era quase como se ela estivesse frustrada.

Até aquele momento eu tentei prender bem minha língua na boca pressionando-a contra meus dentes e cerrando firmemente minha mandíbula no entanto ao contemplar tua face não pude mais segurar-me:

- Mas eu descobri algo realmente interessante. – Minha voz soou maldosa tanto que eu própria me surpreendi. – Parece que você foi a namorada dele a uns anos atrás, né Verônica?

Seus olhos se arregalaram em surpresa:

- Eu pensei que toda a escola já sabia sobre isso.

Aquilo foi uma bofetada no meu rosto.

- Eu apenas descobri isso recentemente – murmurei tentando me recompor.

CarmenOnde histórias criam vida. Descubra agora