Eu estava na minha escola do fundamental uma segunda vez, dessa vez haviam muros em torno de todo colégio, crianças brincavam no parquinho do pátio com um sorriso inabalável nos lábios. Poderia ser real, eu poderia ficar ali para sempre, iludida eternamente em uma doce infantilidade contudo o céu era vermelho como sangue e as nuvens negras como a noite, as crianças estavam em um loop jubiloso, sempre felizes brincando naquele parque enferrujado num intervalo eterno. Apenas uma cena muito bem feita de um filme.
Olhando mais um pouco eu via algo fora daquela pintura, uma criança loira distante de todas as outras. Sem pensar duas vezes, me aproximei dela e entreguei uma Lilás em sua mão, uma flor com pétalas incrivelmente belas numa tonalidade que se assemelhava aos olhos de Pedro.
- Você me salvou – murmurou o garoto encarando-me com frieza.
Ao invés de pegar a flor, o garoto segurou meu pulso entre os seus dedos gélidos tal como uma algema puxando-me para perto de si: - Agora você me pertence.Eu pulei de minha cama assustada. O céu ainda estava escuro do lado de fora e o ronco baixo da minha família ecoava pelas quatro paredes de minha residência.
Eu coloquei os dedos em minhas têmporas, massageando-as e tentando me acalmar.
“Quando você sonha uma vez com uma pessoa é apenas coincidência, duas vezes, é um mau presságio.”
*
**
- Namorando? Vocês dois? – exclamou Letícia batendo o punho cerrado na mesa, algumas pessoas que passavam perto de nós olharam-na assustados. – Ah, por favor, vocês tem capacidade para uma mentira melhor.
- Não é mentira – replicou Pedro sorrindo gentilmente.
Nosso grupo no momento era constituído de cinco tipos distintos de pessoas, as que estavam surpresas pela nossa notícia (Rodrigo e Francisco), as que não estavam surpresas (Guilherme e Gabriel), pessoas que não acreditavam (Letícia e o porteiro), as que já sabiam (Verônica) e as pessoas do refeitório que fingiam conversar mas na verdade escrutinavam nossa conversa na surdina.
- Eu não acredito!
- Eu geralmente não concordo com a Letícia, mas ela tá certa – concordou o porteiro, hoje ele vestia marrom dos pés a cabeça.
- Se vocês acreditam ou não o problema é de vocês, não muda o fato de que é verdade. – O rapaz deu um longo gole em seu refrigerante meio que ignorando a balbúrdia que se formava ao nosso redor.
Sinceramente, eu não sabia onde me esconder.
- Ah, para! Não dá para acreditar que depois de todas aquelas minas gostosas com quem você saiu você vai namorar logo a Carmen. Sem querer ofender.
Eu me encolhi. – Tudo bem, não ofendeu.
“Nada que eu não soubesse” pensei comigo mesma.
- Ofendeu! – replicou Pedro cruzando os braços e esticando as pernas, um meio sorriso cínico formou-se em seus lábios: – Se você gosta tanto delas pode ficar com todas, eu permaneço com a Carmen.
- E quanto a Verônica, ein? – gritou Letícia, seu rosto flamejava em rubor pelo cólera que se formava em seu âmago.
- Letícia, por favor... – murmurou Verônica com o rosto rubro por outro motivo, ela girou seu pescoço para todos os lados como se procurasse um local para se esconder.
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Carmen
Romance"Foi no segundo ano que eu me apaixonei" Todos os seres deste mundo são instintivos, inclusive os seres humanos a qual se vangloriam por sua insigne racionalidade. Carmen, como qualquer ser humano, tinha seus próprios instintos, tal como aquele que...