XXI

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As aulas passaram rapidamente e logo era o intervalo.

Letícia levantou de seu assento com o celular na mão, ela arrumou rapidamente suas roupas engomadas e seu rabo de cavalo alto que fazia seu cabelo negro cair até um pouco abaixo dos ombros, seus brincos de argola argênteos balançaram de maneira esmera no processo.

- Vamos? – inqueriu sorrindo.

- Tudo bem. – Eu fui atrás dela, Francisco, Guilherme e o garoto loiro seguiram-na também.

Paramos na frente de uma sala que eu conhecia muito bem, era a sala de Pedro. Eu estava tão distraída ultimamente que havia esquecido que todos eles eram um grande grupo de amigos, agora era tarde demais para voltar atrás.

Saiu de lá um garoto baixo (acho que mais baixo que eu) vestido completamente de verde fluorescente (o porteiro), um garoto com tranças (Rodrigo) e enfim Pedro, este último encarou-me significativamente por poucos segundos, tempo o suficiente apenas para eu notar e ninguém mais.

- E a Verônica? – indagou o garoto miúdo.

- Mandou mensagem – respondeu Guilherme ainda no celular. – Já tá chegando.

- Não tá faltando mais alguém? – inquiriu.

- Não, na verdade temos alguém sobrando – respondeu Letícia apontando em minha direção.
Todos me olharam curiosamente, eles obviamente não tinham me notado até o momento.

- Você não é aquela garota daquele dia? – inquiriu Rodrigo apontando para mim, neste momento eu tive o ímpeto de me esconder. – Era Carmen, né? Você estava procurando o Pe....
No exato instante em que ele iria dizer Pedro, Verônica chegou distraindo a todos. Eu tive sorte.

- Bom dia, gente! – cumprimentou animada, ela também me encarou por alguns poucos segundos.

- Vamos logo ou vamos ficar sem uma mesa – disse Pedro.

E todos nós fomos até o refeitório lotado pegando a mesa mais próxima das paredes de vidro, dali dava para se enxergar o pátio com suas árvores retorcidas e grossas, o chão rachado e recoberto por folhas secas de canto a canto.

Eu tirei um Doritos da minha bolsa e comecei a beliscá-lo. 

Todos conversavam eloquentes e aleatoriamente entre si e eu tentava prestar atenção em todos apesar de ser quase impossível com toda a babel.

Rodrigo começou a conversar sobre um cara que apalpou sua bunda no trem lotado e a maneira como ele deu um murro na cara dele, Letícia estava falando sobre uma garota do terceiro ano que ela estava afim e Pedro estava distraído encarando a janela.
Eu fitei Francisco comendo seu pão enquanto ria de Rodrigo e eu percebi que atravessado em sua língua havia um objeto pontiagudo, na forma de uma flecha, prateado e brilhante.

- Isso é um piercing? – indaguei enquanto ele olhava pra minha direção, Pedro também me encarou.

- O quê?

- Na sua língua. – Eu coloquei a minha própria para fora e apontei para dar-lhe uma indicação.

Letícia também parou e olhou para mim.

- É sim – afirmou distraído.

- Deve ter doído... – murmurei franzindo os sobrolhos.

- Na época doeu como a morte mas aquela pungência não se compara ao que veio depois.

Eu curiosamente inclinei minha cabeça observando o rosto austero de Francisco. – O que veio depois?

Pedro deu risada. – Ele teve que viver de miojo ou se não o corte ia inflamar.

CarmenOnde histórias criam vida. Descubra agora