VIII

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“Não, eu não sou ela

Nem nunca vou ser

Nunca vou conseguir me mover como ela

Parecer com ela

Ser como ela

Eu não sou ela.”

Clara Mae, i'm not her

É chegado o momento de eu me mover

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É chegado o momento de eu me mover.

Já estávamos no intervalo, eu podia ouvir e sentir claramente uma multidão de adolescentes excitados com as férias a minha volta. Como eu sentia inveja deles. Eles eram tão parecidos, tão vivos, tão jovens.

O ar aos meus arrabaldes estava pesado e tinha um cheiro frio. As nuvens escuras cobriam cada centímetro do céu como a tampa de uma caixa. O vento cortante adentrava o recinto por cada fissura e rachadura que havia, beijando e acariciando nossos rostos e corpos.

Eu levantei-me de meu assento passando pela soleira da porta. Meu corpo pesava mais do que o normal como se este se recusasse a dar mais um passo sequer, meus pés mal saiam do chão. Parecia que todos tinham seus olhos voltados à mim, eu realmente conseguia senti-los queimando minha nuca.

Antes que pudesse me arrepender eu já me encontrava na soleira da porta da sala de Pedro, encarando apreensiva aquele bando de pessoas barulhentas desconhecidas a mim. Eu segurei meu nervosismo procurando por ele em cada ínfima extremidade, sem sucesso.

- Precisa de ajuda, menina? – perguntou um garoto que vestia laranja da cabeça aos pés e sentava-se perto da porta.

- Eu estava procurando Pedro – expliquei, minha voz saiu falhada.

- Ei Rodrigo! Chegou mais uma!

- Não acredito! – Exclamou um garoto que usava tranças e sentava no fundo da classe. – O Pedro deve estar achando que eu sou o empregado dele.

Ele veio resmungando e bufando da cadeira onde se situava até o umbral da porta.

Rodrigo era baixo, tinha a pele negra e olhos da cor de piche. Seu nariz e lábios eram grandes e robustos. Haviam inúmeros piercings em suas orelhas e uma em seu sobrolho esquerdo. As roupas que ele trajava eram largas e escuras dando-lhe uma aparência discreta e polida.

- O que quer? – inqueriu entredentes.

- Eu só queria falar com Pedro – murmurei me encolhendo.

- Foi mal, ele não tá agora.

- Você sabe onde ele foi?

Ele soltou um suspiro por entre seus lábios morenos. – Não sei onde ele está, mas ele foi conversar com uma garota como sempre.

CarmenOnde histórias criam vida. Descubra agora