X

95 15 30
                                    

“Meu coração é fraco

Rasgue-o pedaço por pedaço

Deixe-me para pensar

Sobre minha estrutura

Acho que ainda a amo

Mas eu preciso dormir

Você me deixou sem fôlego

E agora eu quero respirar

Por que eu não posso ver o que você vê com tanta facilidade

Eu pensei que meus demônios estavam quase derrotados

Mas você escolheu o lado deles e os puxou para liberdade.”

Jacob Lee, Demons


Encontrei-o na praça mal iluminado. Ele estava sentado na cerca de ferro vermelha que rodeava o parque e nos separava da estação. Um monstro cinza às vezes passava pelos trilhos enferrujados e sujos enchendo meus ouvidos com seu rosnado ruidoso. As árvores retorcidas e nuas tinham um eflúvio balsâmico e opalescente que espalhava-se pelo ar como fumaça.

Pedro estava obviamente com frio, seus lábios estavam roxos e sua tez meio azulada. Sua respiração languida transformava-se em bruma sólida e então desvanecia.

O jovem não havia notado minha presença ainda, encarando o esplendor da noite com olhos fuscos e braços cruzados. Quando ele finalmente notou minha presença seus olhos acenderam, eu ouvi meu nome saindo de seus lábios, sua voz veludosa causava-me arrepios.

- Venha aqui – chamou tão sedutor quanto uma cobra, mesmo que não fosse venenoso quanto tempo ele demoraria para enrolar-se em minha garganta e me asfixiar?

Meu corpo se moveu sozinho em resposta a sua voz, me aproximei dele enquanto sentia sua mão gelada em meu pescoço, subindo para as minhas bochechas e acariciando minha face com dedão, seus olhos derretidos encaravam o mais profundo da minha alma.

- Você cortou o cabelo –  balbuciou rouco de maneira que apenas eu poderia ouvi-lo. – Eu vou sentir saudade do seu cabelo longo mas ainda assim você está belíssima.

Por que ele era tão cruel?

Outro trem passou fazendo um estardalhaço.

Pedro aproximou meu rosto do seu até que nossos narizes se encontrassem, encarando o mais profundo dos meus olhos. Pensei que ele me beijaria, desejava que ele me beijasse, um beijo intenso, longo, voraz, contudo ele não o fez.

Seus olhos voltaram a se tornar gelo e ele me soltou deixando-me fria, a quietude da noite cobrindo-nos. Por alguns segundos eu mesma tive o desejo de jogar-me em seus braços e oscula-lo, colocar minha língua junto a dele para que elas pudessem tripudiar em conjunto, queria sentir seus braços me segurando, suas mãos em minha nuca puxando-me para mais e mais perto....

- Por que estava chorando aquele dia, Carmen? – inqueriu quebrando minha linha de pensamentos.

Meus olhos se arregalaram em terror, como eu diria para ele que o amava? Eu sabia o que acontecia com as amigas de Pedro que não se contentavam com que tinham, a imagem de Bianca no estacionamento ainda pulsava vivida em minhas memórias.

De repente um outro pensamento surgiu em minha mente, este era mais forte e se sobrepôs ao primeiro, “O que dói mais, um amor não correspondido por anos ou um coração partido por semanas?”. Com este pensamento eu tomei minha decisão, eu sabia que não existia um final nessa história em que eu não sairia machucada, eu apenas queria sentir a menor dor possível.

CarmenOnde histórias criam vida. Descubra agora