XXV

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Nem a escola, nem minha família, nem meus amigos, nem ninguém aceitou muito bem meu namoro com Pedro, “como uma invisível poderia estar saindo com o príncipe?” era o que todos se perguntavam. Foi apenas com o tempo que as pessoas começaram aceitar - que eu mesma comecei a aceitar -, que nada daquilo importava contato que eu estivesse feliz. Também foi com o tempo que aprendi que era muito presunçoso da minha parte pensar que podia viver bem sozinha porque eu não podia; se eu tivesse sido feita para estar sozinha eu teria sido qualquer coisa menos uma humana, desde as roupas que eu usava até os alimentos que eu comia foram providos por outros seres, das pessoas que colheram o algodão, que o processaram e tornaram tecido, até às pessoas que o venderam. Eu não estava sozinha no mundo e não conseguiria viver tão bem se estivesse.

Antes que eu pudesse piscar cinco meses passaram voando, era o último dia de aula antes das férias de dezembro e eu andava de mãos dadas com o Pedro em direção a minha casa.

- Por que você nunca me levou para sua casa? – indaguei ao acaso olhando para vários passarinhos empoleirados em uma árvore – ou para conhecer seus pais?

- Isso é importante? – perguntou de maneira inocente ajeitando seus óculos escuros e seu boné.

- Não, não! Nem um pouco importante! – retruquei com sarcasmo.

Já fazia muito tempo que eu insistia em conhecer os pais de Pedro e ele sempre usava a mesma desculpa “isso é realmente importante?”.

Pedro riu. – Pode ficar tranquila, meus pais sabem que você existe e que está viva.

Aquele garoto era inflexível, eu tinha que dar um jeito de fazer ele me levar para casa dele.

- Você não quer me levar para casa porque tem vergonha de mim? É isso? – questionei atuando de maneira melancólica.

- Não é isso.

- Ou talvez você ainda não esteja pronto para assumir um relacionamento. – Eu funguei como se estivesse a um passo de debulhar-me em lágrimas e olhei para o chão chutando o asfalto.

Pedro revirou os olhos enquanto cruzava os braços. – Chega dessa atuação tosca! Eu posso até te levar para minha casa mas não tem ninguém por lá.

- OK, vamos lá! – concordei imediatamente, agarrando firmemente seu braço.

- Você não tem medo de que eu faça alguma coisa com você?

- Minha curiosidade é maior.

Viramos para o sentido oposto da cidade enquanto as casas ao nosso redor se tornavam cada vez mais opulentas a medida do nosso caminhar até um ponto em que chegamos a parte mais rica da cidade. Eu encarei Pedro estupefata ao ínterim em que passávamos pelo porteiro e entravamos num condomínio onde cada casa era uma mansão imponente e esbelta.

- Caramba Pedro! – exclamei quando paramos em frente a uma grande estrutura solene e esmera, aquela casa devia custar o salário do meu pai por trezentos anos.

Ele não disse nada e abriu a porta dos fundos da casa onde habitava uma piscina gigantesca, ao redor dela havia um belíssimo jardim com diversas plantas distintas e mesas de madeira clara espalhadas por toda sua extensão.

- Você até tem uma piscina! Isso já é ostentação demais! – comentei atônita.

- Quer experimentar a piscina? – perguntou aleatoriamente.

- Em algum momento, acho que sim – respondi de maneira automática.

- Prenda a respiração.

- O quê?

Sem mais nem menos, Pedro passou seu braço em volta da minha cintura e se jogou dentro da água comigo junto. A água entrou pela minha boca, nariz e orelhas. Eu me desvencilhei dele buscando a superfície e sentido o doce oxigênio adentrar meus pulmões enquanto eu cuspia um bocado de água com cloro.

CarmenOnde histórias criam vida. Descubra agora