VII

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“Foi na última semana de aula que eu me apaixonei.”
Carmen

Quando eu dei um (na verdade vários) beijos franceses em Pedro eu me tornei automaticamente algo que poderia ser chamado de: amigo com benefícios.

Definitivamente não era um título que eu esperava possuir algum dia contudo não era um título que eu me arrependia de ter recebido (o que era de facto estranho pois isto era o que eu deveria estar fazendo). Se o meu eu do passado me visse agora ele provavelmente diria:

“Isso deve ser um engano, esta aí não sou eu” – e ele não estaria de todo errado pois eu mesma achava que havia algo de distinto crescendo em mim.

Quando eu me olhava no espelho tudo parecia exatamente igual, a mesma Carmen de sempre, entretanto se você escrutinasse bem a fundo em meus olhos, você poderia ver que havia alguma coisa estranha aumentando e se transmutando dentro de mim, algo que não se sabia se era bom ou mau, bonito ou feio, inteligente ou parvo, só se sabia que era novo.

Também era sabido por mim que tal coisa não começou com o beijo, não, começou bem antes, no exato momento em que encontrei Pedro no estacionamento foi que a cousa surgiu. Veio na penumbra, sem produzir ruído, alimentou-se de mim por dentro quando eu estava distraída e agora o glutão já estava tão enorme que sequer fazia questão de se esconder.

- Tem algo de errado com a Carmen – murmurei para mim mesma tocando meu próprio reflexo no espelho.

Faltava exatamente uma semana para as férias de Julho e eu notei que Pedro vinha agindo estranho ultimamente, melhor dizendo: ele estava me evitando

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Faltava exatamente uma semana para as férias de Julho e eu notei que Pedro vinha agindo estranho ultimamente, melhor dizendo: ele estava me evitando.

Quando ele me via no corredor virava na direção inversa ou puxava assunto com algum outro conhecido que estivesse passando, na biblioteca ele fingia não me ver ou estar imerso demais em um livro para notar-me e no pátio ele corria para o refeitório ou para o banheiro masculino.
No início pensei que era apenas coisa da minha cabeça mas quando chamei seu nome diversas vezes e ele fingiu não ouvir, tive certeza, ele estava me ignorando. A questão era por que?

Eu o havia ofendido de alguma maneira? Eu beijava tão mal que agora ele queria distância de mim? Será que ele finalmente havia perdido o interesse no meu ser?

De qualquer maneira, receber tal tratamento de modo gratuita me deixava com uma mistura estranha de sentimentos - mágoa, ressentimento, tristeza, raiva, culpa, cólera, irritação e muitos outros que eu sequer poderia definir em palavras.

Não ter nenhum entendimento do que se passava me deixava ébria e cansada, minha cabeça e o meu corpo doíam, meu coração estava escanzelado e débil e eu me sentia enjoada, não um enjoo daqueles que parecia que você iria regurgitar a qualquer instante, era mais como uma repulsa por toda aquela situação. Uma dor estranha que as vezes fazia com que eu me sentisse sufocada, presa numa pequena caixinha escura e abafada cuja a porta estava a minha frente mas eu não podia abrir, onde mesmo que eu gritasse minha voz não alcançava o lado de fora.

CarmenOnde histórias criam vida. Descubra agora