XVII

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Após o almoço nós dois descansamos por um tempo antes de voltar a usufruir de todos os brinquedos disponíveis. O navio pirata e o carrinho de bate-bate foram uns dos que especialmente quase fizeram meu almoço voltar.

Enquanto andávamos a esmo pelo parque ouvindo o farfalhar musical das árvores misturada com a vozes ruidosas das pessoas encontramos uma estrutura propositalmente tosca e escura que acompanhado do tempo fechado fazia-nos parecer personagens de um filme de terror mal orquestrado; a casa mal assombrada.

- Parece interessante, porque não entramos Carmen? – indagou Pedro apontando para o brinquedo.

- Sinceramente Pedro, isso é um desperdício de dinheiro – comecei erguendo meus braços como se dissesse “não há o que ser feito”. – Esse brinquedo sequer assusta.

O rapaz sorriu. - Ainda assim não custa nada dar uma olhada.

- Claro que custa. – O sorriso de Pedro se alongou. – Se você quiser pode entrar sozinho, eu não vou.

- Vamos... no mínimo isso vai ser divertido, Carmen.

Eu bati o pé. – Não!

Pedro começou a gargalhar. – Você está com medo, né?

Eu senti o sangue esquentar em minhas bochechas e em minha orelha. – Não é isso, eu só não quero entrar no brinquedo. – No entanto, não importava o que eu dissesse ele não parava de rir, seu corpo imenso contorcia-se e tremia ao mesmo ínterim que sua gargalhada ecoava pelo parque.

Um muxoxo se formou em minha face enquanto eu cruzava meus braços.

- Não precisa ficar assustada, Carmen, eu seguro sua mão – disse entre risos.

- Não estou, é sério! Eu só não quero entrar – retruquei apesar das minha fala não soar convivente. – Eu vou em qualquer outro brinquedo que você quiser menos nesse.

Um sorriso nocivo brotou em sua boca. – Então vamos para um motel.

- I-isso sequer é brinquedo – retruquei nervosamente ao mesmo tempo que minha cara erubescia.

- Depende do ponto de vista. – Seus olhos estreitaram-se na direção de um grande prédio opalescente na extremidade do local. – Se não é um brinquedo então porque tem um num parque de diversões.

Eu não sabia como responder isso, meu rosto estava tão quente que eu podia até mesmo ver vapor saindo dele. – Qualquer um menos esse.

- OK! Então vamos naquele ali. – Eu acompanhei a visão periférica de Pedro até um brinquedo cuja sua plataforma carmim ascendia vagarosamente por uma metálica estrutura entulhada até quase tocar as nuvens e descia tão rápido quanto um raio cortando os céus. – Percebi que você o evitou o dia inteiro.

- Ah... – murmurei sentindo meu sangue gelar ao ouvir os gritos desesperados das pessoas que eram jogadas para baixo pela torre Eiffel. – De repente a casa mal assombrada não parece péssimo.

- Nada disso – respondeu pegando minha mão e me guiando até a fila -, agora não tem mais volta.

Eu realmente adoraria dizer que eu enfrentei aquela situação com dignidade mas aí eu estaria mentindo.

Eu tentei de diversas artimanhas para escapar, tentei fugir, tentei fazer charminho, tentei implorar, até mesmo mostrei todas as expressões apelativas do meu catálogo para Pedro contudo nada o abalou, claramente um demônio que se deleitava com o meu sofrimento.

A fila andou mais rápido do que qualquer  outra e logo chegou minha vez mesmo eu rezando que ela ficasse estagnada; todos pareciam muito animados para serem jogados de uma altura de pelo menos vinte metros o que me fazia pensar se eles seriam mentalmente capazes.

CarmenOnde histórias criam vida. Descubra agora