Eram onze e meia da manhã quando chegamos ao parque, a fila para comprarmos os bilhetes era meio longa apesar do local ter acabado de abrir. Na nossa frente havia um casal de adultos com roupas verde água combinando abraçados um no outro e atrás de nós haviam três garotas que conversavam eloquentemente com suas vozes nasais e vestiam calças curtas.Eu gostaria de não ter que ouvi-las mas aquelas jovens eram um bocado escandalosas.
- Não olha agora mas o cara na nossa frente é muito gato – disse a mais alto, as outras duas riram baixinho enquanto concordavam.
Nesse momento subiu-me aquela mesma sensação do ônibus, um instinto animalesco de rosnar para proteger meu território – a que, é claro, eu não cedi.
Apesar do grande muro que rodeava todo o parque eu ainda conseguia ver a silhueta rígida das montanhas russas e da roda gigante se estendendo até quase beijarem o céu e ouvir o barulho dos grandes brinquedos em movimento.
- Deveríamos tentar ficar igual a eles? – balbuciou Pedro em tom de chiste encarando as pessoas a nossa frente.
Eu enrubesci presenciando o momento exato em que eles davam um beijo francês bastante longo e voraz. – Eu não consigo ficar assim em público.
- Você já ficou tantas vezes, Carmen – zombou com um meio sorriso debochado brotando em seus lábios.
- Eu prefiro pensar que estávamos sozinhos, não me desiluda, por favor.
A fila andou mais rápido do que era esperado e antes que percebêssemos estávamos caminhando a esmo pelo parque ao mesmo ínterim em que ouvíamos os gritos e risadas das pessoas nos brinquedos.
- Em qual nós vamos primeiro?
- Se estamos falando de um parque estamos definitivamente falando de uma montanha russa, Carmen.
Eu dei de ombros enquanto seguíamos em direção a mais uma fila.
O parque de diversões em si era bastante aprazível; os paralelepípedos no chão variavam suas cores em tons de rosa, azul, e amarelo; as vestimentas das árvores eram frondosas e verde vivo; a grama no chão era cortada simetricamente e rente a terra; os brinquedos eram coloridos e cheios de adornos brilhantes e protuberâncias arabescas; e haviam diversos quiosques de comida e bugigangas espalhadas por toda a extensão do local ainda que a maioria estivesse fechado.
- Sabia que essa é minha primeira vez numa montanha russa? – indaguei jogando o peso do meu corpo para o pé direito.
- Você nunca teve a oportunidade de subir em uma?
- Não, eu tive a oportunidade, só que não quis subir.
Pedro me olhou enquanto ponderava. – Sabia que é a primeira vez que ando de mãos dadas com uma garota num parque de diversões?
Meu coração deu um salto animado, meu corpo quase podia senti-lo batendo contra minha pele. – Sério?
- Não. – Pedro riu.
Finquei minhas unhas na mão dele enquanto via-o retorcer-se de dor e só parei quando ele me implorou que eu fizesse.
- Desculpa – pediu enquanto sorria.
- Porque você está sempre sorrindo, Pedro? – indaguei encarando seu rosto de feições leves e bem humoradas.
- O que você quer dizer? – Ele me encarou, eu tinha sua atenção.
- Bom, acho que eu nunca te vi carrancudo, com raiva, triste ou mal-humorado. – Eu fitei seus olhos. – Quero dizer, você deve ter sentido isso diversas vezes mas você não demonstra, um ser humano não pode estar feliz o tempo todo, isso é crime sabe.
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Carmen
Romance"Foi no segundo ano que eu me apaixonei" Todos os seres deste mundo são instintivos, inclusive os seres humanos a qual se vangloriam por sua insigne racionalidade. Carmen, como qualquer ser humano, tinha seus próprios instintos, tal como aquele que...