Eu desejei do fundo do meu coração que domingo nunca viesse, não queria que Verônica viesse.
Em todas as nossas conversas eu nunca disse com clareza para ela o que eu sentia pelo Pedro ainda que eu tivesse a certeza de que ela sabia, da mesma maneira eu entendia perfeitamente que Verônica amava-o tanto quanto eu, se não mais, não queria ter de dize-la que uma garota que acabou de surgir havia pego-o diante de seus olhos.
Ainda assim, não há como prorrogar o inevitável.
Verônica chegou no final da tarde de domingo - aquele dia específico estava tão frio que passei o dia amontoada com meus irmãos sob as cobertas do sofá -, ela me mandou uma mensagem dizendo que me esperava na frente do portão.
- O que foi? – questionou Carlos quando comecei a me erguer.
- Tenho uma visita.
- Você? – Cauã e Carlos se entreolharam, fingi não ver. - Quem?
- Uma amiga.
Ignorei os olhares que eles lançavam em minha direção e desci as escadas apressadamente ainda que fitasse de esguelha a parede negra de nuvens que se formava no céu.
Verônica estava completamente agasalhada, vestia um casaco coral, longo e grosso e um cachecol vinho que combinava perfeitamente com sua touca e suas luvas. Seu nariz e suas bochechas estavam rosas com ínfimos pontinhos roxos e seus olhos brilhavam intensamente como uma esmeralda.
- Oi Carmen!– Ela me abraçou, o cheiro de shampoo de chocolate subiu pelas minhas narinas. – Eu não quero te soltar, você está tão quentinha.
- É que eu estava debaixo das cobertas. – Eu retribui seu abraço sentindo a sua pele gelada em contato com a minha. - Vamos entrar, aqui fora está muito frio.
Ela assentiu deixando-se ser guiada pela escada em espiral até a parte de cima da floricultura. Seus olhos vagaram por toda a extensão da cozinha demorando-se nos armários de madeira pintados de azul com negligência e na mesa de mogno no centro.
- A escolha da cor dos armários é.... – ela hesitou – interessante.
- Pode dizer a verdade, eles são horrorosos.
Ela olhou para mim enquanto sorria. – São mesmo, quem teve a ideia de pinta-los de azul?
- Minha mãe. – Eu me deixei vagar para uma época distante. – Ela amava azul, pensou que se pintasse ficariam bons.
- Onde ela está aliás? Queria cumprimentá-la.
- Minha mãe morreu faz um tempo já.
Verônica arregalou os olhos, abrindo e fechando a boca como se buscasse palavras no fundo da garganta. – Me desculpa...
- Não tem por que se desculpar, não tinha como você saber.
A jovem deu um sorriso forçado em minha direção, seus olhos voltaram a vagar pelo aposento só que agora ela tinha outro olhar.
De repente Carlos e Cauã adentraram a cozinha aos trambolhões destruindo qualquer que fosse a situação em que nos encontrávamos.
- Eaí, tudo bom? – cumprimentou Cauã assumindo a liderança.
- Oi, prazer – cumprimentou polidamente Verônica.
Carlos apenas acenou para a jovem no umbral da porta sem muita intenção de socializar, era óbvio pelo olhar dos dois que eles estavam curiosos sobre o tipo de pessoa que eu possuía como amiga.
- São meus irmãos, Carlos e Cauã. – Eu encarei a jovem com um ar hesitante. – Esta é Verônica, é minha amiga.
- Entendo, de onde vocês se conhecem? – inquiriu Cauã dando um enorme sorriso.
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Carmen
Любовные романы"Foi no segundo ano que eu me apaixonei" Todos os seres deste mundo são instintivos, inclusive os seres humanos a qual se vangloriam por sua insigne racionalidade. Carmen, como qualquer ser humano, tinha seus próprios instintos, tal como aquele que...