XIII

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Eu desejei do fundo do meu coração que domingo nunca viesse, não queria que Verônica viesse.

Em todas as nossas conversas eu nunca disse com clareza para ela o que eu sentia pelo Pedro ainda que eu tivesse a certeza de que ela sabia, da mesma maneira eu entendia perfeitamente que Verônica amava-o tanto quanto eu, se não mais, não queria ter de dize-la que uma garota que acabou de surgir havia pego-o diante de seus olhos.

Ainda assim, não há como prorrogar o inevitável.

Verônica chegou no final da tarde de domingo - aquele dia específico estava tão frio que passei o dia amontoada com meus irmãos sob as cobertas do sofá -, ela me mandou uma mensagem dizendo que me esperava na frente do portão.

- O que foi? – questionou Carlos quando comecei a me erguer.

- Tenho uma visita.

- Você? – Cauã e Carlos se entreolharam, fingi não ver. - Quem?

- Uma amiga.

Ignorei os olhares que eles lançavam em minha direção e desci as escadas apressadamente ainda que fitasse de esguelha a parede negra de nuvens que se formava no céu.

Verônica estava completamente agasalhada, vestia um casaco coral, longo e grosso e um cachecol vinho que combinava perfeitamente com sua touca e suas luvas. Seu nariz e suas bochechas estavam rosas com ínfimos pontinhos roxos e seus olhos brilhavam intensamente como uma esmeralda.

- Oi Carmen!– Ela me abraçou, o cheiro de shampoo de chocolate subiu pelas minhas narinas. – Eu não quero te soltar, você está tão quentinha.

- É que eu estava debaixo das cobertas. – Eu retribui seu abraço sentindo a sua pele gelada  em contato com a minha. - Vamos entrar, aqui fora está muito frio.

Ela assentiu deixando-se ser guiada pela escada em espiral até a parte de cima da floricultura. Seus olhos vagaram por toda a extensão da cozinha demorando-se nos armários de madeira pintados de azul com negligência e na mesa de mogno no centro.

- A escolha da cor dos armários é.... – ela hesitou – interessante.

- Pode dizer a verdade, eles são horrorosos.

Ela olhou para mim enquanto sorria. – São mesmo, quem teve a ideia de pinta-los de azul?

- Minha mãe. – Eu me deixei vagar para uma época distante. – Ela amava azul, pensou que se pintasse ficariam bons.

- Onde ela está aliás? Queria cumprimentá-la.

- Minha mãe morreu faz um tempo já.

Verônica arregalou os olhos, abrindo e fechando a boca como se buscasse palavras no fundo da garganta. – Me desculpa...

- Não tem por que se desculpar, não tinha como você saber.

A jovem deu um sorriso forçado em minha direção, seus olhos voltaram a vagar pelo aposento só que agora ela tinha outro olhar.

De repente Carlos e Cauã adentraram a cozinha aos trambolhões destruindo qualquer que fosse a situação em que nos encontrávamos.

- Eaí, tudo bom? – cumprimentou Cauã assumindo a liderança.

- Oi, prazer – cumprimentou polidamente Verônica.

Carlos apenas acenou para a jovem no umbral da porta sem muita intenção de socializar, era óbvio pelo olhar dos dois que eles estavam curiosos sobre o tipo de pessoa que eu possuía como amiga.

- São meus irmãos, Carlos e Cauã. – Eu encarei a jovem com um ar hesitante. – Esta é Verônica, é minha amiga.

- Entendo, de onde vocês se conhecem? – inquiriu Cauã dando um enorme sorriso.

CarmenOnde histórias criam vida. Descubra agora