Seus pés se locomoviam sobre os escombros, ultrapassando alguns corpos destroçados e evitando demorar o olhar sobre os mortos, que variavam entre adultos e crianças.
— Já averiguamos todo o perímetro, senhor. Não há sobreviventes. - Um dos soldados disse, firme e objetivo.
— Tem certeza disso? - Perguntou, e o soldado confirmou rapidamente. O Comandante não sentiu firmeza nas palavras do soldado, porém decidiu não contestá-lo. — Tudo bem! Digam aos demais soldados para retornarem, eu checarei uma última vez. - informou decidido, enquanto afastava-se daquela área.
— Não quer que eu o acompanhe, senhor? - O soldado ofereceu.
— Não será necessário. Agora, vá! - ordenou seguindo adiante, disposto a checar minuciosamente a área da explosão. Seus instintos apontavam para um determinado lugar, algo ali o atraía de uma maneira que ele não conseguia explicar.
Deu uma volta no perímetro retirando alguns entulhos que o atrapalhavam na busca por sobreviventes soterrados e, bufando, tanto de cansaço quanto de frustração por não obter sucesso, decidiu retornar ao abrigo improvisado. Na manhã seguinte partiriam de volta a Base.
Seus pés cessaram quando ouviu uma espécie de tosse. Ele ficou estático por alguns segundos enquanto apurava os ouvidos para conseguir ouvir melhor.
Sons de entulho sendo empurrados.O comandante deu uma volta de 360 graus com os olhos, parando num montinho de escombros que, antes, deveria ter sido uma pequena casa de madeira. Ele se aproximou cautelosamente e ficou apenas olhando, para se certificar que fora apenas fruto da sua imaginação.
Contudo, o escombro fora empurrado novamente. Havia alguém tentando sair dali. Havia um sobrevivente! Ele se animou com a ideia e começou a escavar o resto do que um dia fora uma casa.
Cansado, ele limpou o suor que escorria por sua testa com o antebraço. Suas mãos estavam sujas de terra e com alguns machucados. Seus olhos se iluminaram quando encontrou a mão do sobrevivente. Escavando com mais determinação, ele conseguiu retirá-lo dos escombros.
Era uma garota totalmente desnutrida e esquelética. Ela estava completamente encardida e com o corpo seminu, pois suas roupas estavam rasgadas.
— Meu deus... - Ele sussurrou diante tal sofrimento. Pegou seu cantil de água e a derramou na boca entreaberta da garota. Devido seu estado de saúde ser visivelmente grave, ele acreditou que ela não passaria daquela noite.
**Fora uma surpresa para o comandante quando recebeu a noticia de que a garota estava entubada e não corria risco de vida.
Naquela noite, quando retornou ao abrigo improvisado, fora recepcionado pelos olhares inquisitivos dos demais soldados.
— Senhor, nós...
— Não quero ouvir suas desculpas, Soldado. Apenas prepare o soro.
— Sim, senhor. - ele bateu continência se dirigindo a uma parte da tenda que servia como uma cozinha e começou a preparar soro para a sobrevivente. Fora um descuido e o soldado odiava desapontar o comandante.
O comandante aplicou o soro na veia da sobrevivente, desejando secretamente que a mesma conseguisse permanecer viva. Pelo estado da garota, ele a considerava uma guerreira.
— Você acha que ela sobreviverá? - Um dos soldados indagou, observando o corpo anoréxico da garota. O comandante suspirou pesadamente.
— Eu espero que sim.
**
— Comandante? - Uma enfermeira o chamou vindo em sua direção. Ela tinha feições delicadas, embora firmes e determinadas. — A sobrevivente acordou. Achei que deveria avisá-lo, visto que o senhor a salvou.— Sim. Obrigado. - Ele agradeceu indo em direção a ala onde os casos mais graves eram tratados. Sentiu-se tenso de repente, não sabia o que dizer a ela.
Espiou pela pequena janela que ficava na porta, tendo a visão da frágil garota de cabelos castanhos escuros e curtos, deitada em seu leito. Ela ainda tomava soro e seu rosto transparecia o quanto ainda estava debilitada. "É claro, ela acabou de acordar de um coma." ele pensou, balançando a cabeça de um lado a outro.
— Senhor, não vai entrar? - A mesma enfermeira indagou, atrás dele.
— Ahn, eu... Volto amanhã. - Ele disse, se afastando da porta e sumindo pelo corredor.
Na manhã seguinte ele retornou ao quarto da garota, ficou observando-a novamente pela pequena janela, mas decidiu entrar.
A sobrevivente dormia serenamente, sua feição transparecia tranquilidade. Sem as camadas de sujeira, ele podia notar pequenas características da menina. Ela tinha a pele branca, como se nunca tivesse saído a luz do sol, e pequenas escoriações pelo rosto e pescoço. Além de pequenas cicatrizes, as quais pareciam antigas. Seus cabelos eram castanhos escuros, lembrando-o a cor de chocolate.
Submerso em observar os detalhes da garota, nem percebeu quando seus olhos se abriram e o fitaram, curiosa.
— Q-Quem é você...? - murmurou, com dificuldade. Ele assustou-se momentaneamente com a voz fraca da menina, mas se recompôs direcionando o olhar para os olhos amendoados da sobrevivente.
— Olá. Sou o comandante. - respondeu, acanhado. Ela não demonstrou reação.
— Onde eu estou? O que aconteceu? - Ela o bombardeou com perguntas. — Onde estão os outros? - Ele franziu o cenho com a colocação da menina, mas decidiu não interrogá-la. Certamente, estava com os pensamentos confusos.
— Você está na Base de Treinamento. Houve um grande bombardeio, e... Você foi a única sobrevivente que encontramos. Sinto muito. - Ele disse, sincero. A garota desviou os olhos, embora não demonstrasse nenhum sentimento. O silenciou perdurou por muitos minutos e percebendo que ela não diria mais nada, ele abandonou o quarto.
No dia seguinte, ele retornou a visitá-la, porém foi uma surpresa quando a cumprimentou.
— Quem é você? - Ela indagou como se fosse a primeira vez que o via. Ele franziu o cenho, não entendendo o que havia acontecido.
— O comandante. - respondeu, incerto. Ela assentiu, não falando mais nada. Ele saiu do quarto e parou no corredor, alinhando os pensamentos. Ela era a quinta sobrevivente que perdia a memória após chegar a base.
O Presidente sempre se esquivava de seus questionamentos, mas ele estava disposto a descobrir sozinho.
Algo de errado estava acontecendo naquela Base, e o comandante temia que suas teorias fossem confirmadas.
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Resquícios
خيال علميExiste um momento certo de descobrir o que somos e porque somos? Quando você abriu os olhos e teve consciência de que estava viva? Eu lembro-me vagamente dos acontecimentos passados, como se fossem fragmentos unindo-se a medida que as memórias se...