Capítulo 18 - Decisão

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  Deixar a Jamie se arriscar me fez sentir um fraco. Como as pessoas podiam chama-la de tantas coisas ruins se ela era a única que estava enfrentando uma máquina trezentas vezes mais feroz enquanto todos eles fugiram covardemente? A vida é mesmo contraditória.

  Quando vi a criatura correr atrás de Jamie, eu saí do meu esconderijo e corri na direção da pessoa completamente paralisada e respirando feito louca.

— Ei, você está bem? - Pergunto e só então percebo que a pessoa, de fato, se trata de Lena. Seu corpo está completamente sujo com uma crosta escura e nojenta. Seu cabelo antes loiro agora possuía uma cor indefinível devido a sujeira. Ela está trêmula e ao ponto de ter um colapso.

— Lena? Lena, escute. Precisamos ir. - Tento puxa-la, mas ela se debate e começa a chorar alto. — Eu vou te levar para um lugar seguro, tá bom? Me dê sua mão. - Estendo minha mão e espero que ela a segure. Vagarosamente ela se acalma e decide segurar minha mão. Puxo ela e rodeio seu ombro com meu braço para apoia-la enquanto corremos para longe.

  No meio do caminho, ouço um grito. Estanco no lugar e olho para trás com o coração quase saltando da minha boca. Não. Jamie, por favor, não.
**

  Céu. Ar fresco. Farfalhar das folhas. Conversas paralelas. Vida.

  Abro os olhos e percebo que estou em um lugar diferente. Sei disso pois a energia do local é mais leve. Sinto a brisa gelada tocar o meu rosto e brincar com meus cabelos. Sorrio.

  Dou uma volta de trezentos e sessenta graus na região e tenho a certeza de que não estou mais na floresta da Base. Então, onde eu estou?

  Ouço vozes ao longe e decido segui-las com passos cautelosos. Não posso deixar que me descubram antes que eu saiba que lugar é esse.

  Por todos os lugares que olho, vejo apenas uma imensidão verde e alguns animais. Espera. Animais? Eles não foram extintos há milênios de anos? Estranho.

  Continuo minha caminhada enquanto tento entender o que está acontecendo. Paro abruptamente quando ouço risadas e passos vindo na minha direção. Corro e me escondo atrás de uma árvore de troncos grossos.

  Duas pessoas passam por meu caminho conversando e rindo escandalosamente. Suas vestes são familiares, mas não é algo que estou acostumada a ver na Base. Parece mais um modelo antigo, desses que aparecem nas figuras de livros.

  Decido continuar andando sendo acobertada pelas árvores. Por fim, chego a uma vila silenciosa. No centro há uma fogueira recém apagada. Sei disso pois a fumaça ainda sobe e se dissipa no ar.  Ao redor, há inúmeras casas construídas com madeira. Isso me lembra algo...

— Achei você! - Alguém berra atrás de mim arrancando um grito estrondoso da minha boca. Viro-me rapidamente na direção da voz e levanto minhas mãos, em sinal de rendição.

— Desculpe, e-eu não quis invadir... - As palavras saem emboladas devido ao nervosismo. O rapaz, o qual aparenta ter uns treze anos, não diz nada mas começa a andar na minha direção. Por reflexo, eu me afasto a medida que ele se aproxima.

— Vamos, saia. - Ele ordena, mas seu semblante não transpassa raiva. Assinto com a cabeça.

— Sim, eu... - Não termino a frase. Uma garota surge de repente e atravessa meu corpo como se eu fosse um fantasma. Minha respiração fica acelerada. Não estou num lugar específico. Estou em um sonho.

— Não tem graça brincar com você. - A garota diz de forma brincalhona enquanto empurra o rapaz.

— Isso é porque seus esconderijos são tão óbvios. - Ele caçoa e puxa a menina para seus braços. Ela olha para ele com os olhos brilhando e um sorriso dúbio nos lábios. É nítido o amor que sentem um pelo outro.

— Eu tive aquele sonho de novo. - Ela diz e a aura divertida do ambiente é substituída por um ar mais tenso. — Eu não estou gostando disso. Eu tô ficando com medo. - Ela confessa cabisbaixa, com os ombros caídos. O garoto beija lentamente sua testa e a envolve num abraço.

— Eu não vou deixar nada de ruim acontecer com você. - Ele sussurra em seu ouvido. — Você confia em mim? - Ele pergunta e ela apenas assente positivamente enquanto uma sequencia de lágrimas escorrem por seu rosto.

— Eu vou cuidar de você, eu prometo. - Ele diz e levanta o rosto da garota delicadamente. Eles se olham por um breve segundo e se beijam. Depois, ele se afasta e diz:

— Eu te amo, Jamie.

Não é um sonho. É uma lembrança

                     E então, tudo some.

**

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  Abro os olhos com dificuldade, pois sinto uma camada de sujeira em cima deles. Tento levar minha mão até meu rosto, mas há um peso que me impede de mexer meu corpo.

   Eu preciso manter a calma.

— Socorro! - Peço. Tenho a sensação de já ter vivido algo assim. — Tem alguém aí? - Nao há respostas. Tento libertar minhas mãos para empurrar o que está em cima de mim, mas é extremamente pesado.

Sinto que vou entrar em desespero quando o ar parece sumir gradativamente. Tento me debater mas a ideia é descartada quando ouço um estrondo e o aperto se intensificar mais.

— Sam! - Grito a plenos pulmões, mas um gás entra pela minha via respiratória e parece me queimar por dentro. Me sinto zoneada. Começo a perder os sentidos.

— Olá? Não se preocupe, vou buscar ajuda. - Ouço, mas não sei se é real ou apenas um delírio. Sem chance para descobrir, eu desmaio.

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