Capítulo 10 - Confronto

331 62 44
                                    

                         (23:00p.m,
                             do mesmo dia)
*
— Renderick já sabe que está aqui?

— Sim. Acabei de sair do escritório dele. Creio que ele ficou bastante feliz com a pequena surpresa.

— Imagino. - Sue ri. — E então, o que sucedeu-se?

— Bem, ele permitiu minha estadia na Base.

— Mas...?

— Mas terei que treinar os novos recrutas. - bufa. — Pelo menos, será o tempo ideal para concretizar nosso plano.

— Tem certeza que dará certo?

— Eu passei quinze anos em prol de recolher provas, Sue. E você ainda tem dúvidas?

— Tem razão. Me desculpe.

  Abro os olhos após me certificar que os dois saíram da enfermaria. Respiro profundamente, almejando que esse ato esclareça as dúvidas que surgiram ao ouvir esse diálogo.

  O que eles planejam de tão grandioso que o comandante precisou de quinze anos simplesmente para obter provas?

Provas do que, necessariamente?

O que o presidente Renderick esconde?

  As dúvidas me sobrecarregam tanto ao ponto de desencadear uma enxaqueca insuportável e despertar minha ansiedade que estava em estado de hibernação.

  Levanto-me da cama, não suportando a ideia de passar nem mais um minuto nessa ala.

  Caminho pelo corredor estranhamente vazio e sigo na direção do refeitório. A luz externa ilumina as mesas extensas projetando sombras fantasmagóricas. Olho para todos os lados, constatando não haver ninguém.

  Adentro a cozinha e sigo para a dispensa. Meus olhos chegam a brilhar ao pousarem nas barras de chocolate e cereais.

— Estava com saudade de vocês, docinhos. - Sussurro, rindo do trocadilho idiota. Pego umas cinco barras e sento-me no chão, com as pernas cruzadas estilo borboleta.

  Eu não deveria ingerir tanto açúcar, mas simplesmente não consigo evitar. Me acalma, me alegra e diminui minha ansiedade.

  Quando estou na minha última barra, ouço uma movimentação do lado de fora. Fico estática, sem saber o que fazer.

— Nenhuma movimentação estranha por aqui. - Um vigia diz próximo a cozinha. No susto, Levanto-me rapidamente e, sem querer, acabo esbarrando na prateleira de trás, fazendo um enlatado cair e emitir um som alto.

— Espera. Acho que ouvi algo vindo da cozinha.

— Tem certeza? - o outro guarda pergunta. Os passos se aproximam mais e a porta da cozinha é aberta.

— Não tem nada aqui, vamos.

— Pode ter vindo da dispensa. - ele contrapõe e o som dos seus sapatos batendo contra o chão denuncia sua aproximação da dispensa.

"Droga, droga, droga..." penso, aflita. Preciso me esconder!

  Tateio na escuridão, mas não encontro nada. Apenas prateleiras. Começo a desesperar-me ao ouvir os passos se aproximando da porta da dispensa.

  Se me encontrarem e reportarem ao presidente, irei direto para a Califorcação por infringir duas leis: sair após as luzes se apagarem e por roubar coisas da dispensa. Me submeteriam a pelo menos dois dias de tortura. Não posso suportar mais nenhuma dor física.

ResquíciosOnde histórias criam vida. Descubra agora