Capítulo 6 - Gatilho

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  Regressamos a Base sem maiores problemas. Os dois Syrons saem do Jet e eu os sigo, antes que o transporte volte a garagem.

  Quando a porta secreta se abre para a sala vazia, os Syrons observam que não estão sozinhos. Presidente Renderick os espera de braços cruzados e seu semblante não é um dos mais amigáveis.

— Senhor Presidente... - O Líder dos Syrons sobreviventes começa, mas é interrompido por um levantar de dedo.

— Guarde suas desculpas para você mesmo, Syron Luther. - Renderick diz, parecendo calmo. — Alguém pode me lembrar qual é a nossa colocação no pódio do fracasso? - pergunta retoricamente, enquanto caminha em direção aos soldados que estão cabisbaixos e sérios.

— Quantas vezes fracassaram nesta mesma missão? - pergunta, esperando alguém se pronunciar. — Estão surdos?! - grita, quando não obtém resposta. Vejo alguns Syrons tremendo. Todos estão machucados, com roupas rasgadas, pele suja de poeira e marcada por hematomas. O Syron, que agora sei chamar-se Luther, é o único que se mantém firme perante o olhar feroz do presidente.

— É a nossa quinta missão fracassada nesse mês, senhor. - Ele responde em tom firme, embora a vergonha transpareça em seu rosto.

— Quinta! - O presidente repete em voz alta e se aproxima mais de Luther, fixando o olhar nos olhos dele. — Você deveria se envergonhar de ser o escolhido para substituir o comandante, Syron Luther. - Renderick provoca, intimidando-o. Luther fecha a mão em punho e tenciona o maxilar.

— Permissão para descansar, senhor? - Ele ignora a provocação, deixando os olhos vacilar por um instante, mas volta a encará-lo novamente. Renderick balança a cabeça, desapontado.

— Permissão concedida. - concorda e se retira da sala, deixando-os sozinhos.

— Ele nos cobra tanto porque não viu o que temos que enfrentar lá embaixo. - Um dos Syrons com aparência mais jovem reclama, irritado. 

— Não se engane, Buck. Ele sabe o que tem lá.

— Não só sabe, como tem dedo dele no meio. - Outro Syron de pele negra complementa, trocando um olhar significativo com Luther. Franzo a testa, tentando entender suas insinuações, mas algo me faz entrar em alerta. Meus pés começam a ficar visíveis. Reparo que o dispositivo que o KJ me deu está piscando numa luz vermelha, avisando a falta de carga. "Droga", penso. Começo a me distanciar dos Syrons antes que percebam minha presença, contudo, quando consigo abrir a porta, um dos Syrons vê as minhas botas andando "sozinhas".

— Que porra é essa? - Buck quase grita, apontando para os meus coturnos amostra.

— Alguma daquelas máquinas devem ter se infiltrado no Jet, vamos exterminá-la! - Luther diz empunhando sua arma. Não espero para ver seu próximo passo, escancaro a porta e começo a correr.

  Ouço os passos deles me perseguindo. " Pare!" Um deles grita, mas eu continuo fugindo. Viro o corredor que da acesso aos compartimentos, o meu é o último do corredor. Meu coração está acelerado, minha visão começa a ficar turva e sinto a falta de fôlego retardando meus movimentos. Estou tendo uma crise. Não consigo continuar.

"Deve ser o efeito colateral do vírus circulando no meu sangue em contato com minha doença degenerativa."

  Paro no corredor, impossibilitada de continuar minha fuga. Lágrimas escorrem pelo meu rosto magro. Nesse momento, amaldiçoo a pessoa que me salvou na Guerra.

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