Resquícios

Capítulo 4 - Viagem

Depois do treino, os alunos foram liberados para o jantar. Todos se locomoveram para o refeitório, mas eu decidi ficar para tirar algumas dúvidas com o mestre G.

- Mestre? - chego perto dele, que está ocupado recolhendo suas coisas. Ele me olha por cima do ombro e abre um sorriso.

- Olá, Jamie. Tudo bem? Está sentindo alguma coisa? - Ele pergunta aparentemente preocupado. Estralo meus dedos das mãos em sinal de nervosismo. Não sei se é uma boa ideia pedir a ajuda dele.

- Não, está tudo bem... É só que... - Travo, escolhendo as palavras certas para dizer. Ele me envia um olhar inquisitivo.

- O Presidente Renderick disse que eu deveria participar do Evento. - Digo rápido, soltando todo o ar dos meus pulmões. Evito encarar o rosto dele, temo que ele me encare com os olhos cheios de julgamentos.

- Isso é...

- Absurdo? - Interrompo, desanimada. Ergo os olhos para ele e me surpreendo ao vê-lo sorrindo e com os olhos brilhando.

- Isso é fantástico, Jamie! - Exclama, extasiado. - Eu sempre acreditei que um dia ele reconheceria seu potencial! - Sorri. Procuro algum indício que ele está sendo irônico ou brincando comigo, mas ele realmente parece sincero. Abro a boca embasbacada, eles só podem estar loucos!

- Mas...

- Jamie, escute. Todos são capazes. Basta ter dedicação, esforço e compromisso. E você tem tudo isso, menina!

- Mas e minhas limitações físicas... - tento argumentar, mas ele me interrompe.

- É apenas um detalhe... Veja bem, a equipe será composta por diversas pessoas. Uns mais fortes que outros, entende? - Começa a falar, andando de um lado a outro. - Tudo é questão de equilíbrio. Enquanto uns usam a força física para a proteção, os outros usam de suas habilidades para complementar o que faltar no grupo. Você, minha aluna, usará o que aprendeu para criar estratégias e muitas outras coisas. Você é importante tanto quanto os demais.

- Eu não sei se é uma boa ideia... - Suspiro, tristemente. Eu queria poder acreditar em mim mesma, mas é simplesmente impossível visto todos os contras da situação. E quando não tiver ninguém para me proteger? E se eu atrapalhar e causar a morte de alguém? Eu nunca seria capaz de me perdoar.

- Se você pensar muito nos outros... Quem irá pensar em você?

- É, você tem razão... - murmuro, aturdida. - Prometo que irei pensar. - sorrio. - Obrigada, mestre.

- Não há de quê.
**
  Sigo para o refeitório pensando em tudo o que me foi dito. Por que eles acreditam na minha capacidade se até mesmo eu duvido?

  Quando adentro a bifurcação onde um dos corredores da acesso ao refeitório, vejo um movimento estranho vindo do outro corredor que leva ao compartimento dos Syrons.

  Aproximadamente oito Syrons saem dos seus compartimentos devidamente uniformizados com seus macacões de couro preto com a insígnia dos Syrons pregado no lado superior direito.

  Eles estão discutindo algo, mas não consigo compreender as palavras que saem de seus lábios.

  Eles formam uma fila e marcham em linha reta, seguindo a direção da ala proibida para os alunos. É de lá que eles saem para as missões.

  Um pensamento surge na minha cabeça, é loucura, contudo, eu só me dou conta do que estou fazendo quando paro em frente a porta em que os Syrons acabaram de entrar. Está destrancada.

  Levo a mão na maçaneta, não tenho tempo de pensar nas consequências, abro uma fresta e espio o interior do cômodo.

  A sala é ampla e totalmente branca. Não há nada além de um arsenal de armas e uma caixa metálica de grande porte.