Infelizmente, não demoramos a atingir nosso destino.
O Jet pousa com um baque surdo, apenas os sons das hélices pairam no ar. Escondo-me num canto escuro, atrás de uma máquina que se parece uma ressonância magnética. Não demora muito e os dois Syrons abrem a porta traseira.
Sinto a adrenalina percorrer meu corpo, o medo de ser descoberta me paralisa totalmente. Vejo plugarem dois cabos nas laterias da caixa que imediatamente é suspensa no ar, sanando minha dúvida do porquê eu me sentia flutuando lá dentro. Logo, eles saem do Jet.
Meu objetivo é ficar escondida até eles terminarem a missão e voltarem para a Base.
Sento-me no chão e abraço meus joelhos.
Aonde eu fui me meter?
**Meia hora depois, começo a ouvir vozes alvoroçadas.
Apuro minha audição e chego próxima a janela, verificando o lado de fora, contudo, uma espessa camada de areia embaça a janela, dificultando a visão.
Ao longe, vejo algumas silhuetas em constante movimentação.
Um som estrondoso semelhante a uma bomba explodindo pode ser ouvido. Parece vir de um lugar não tão distante.
Meu coração começa a acelerar quando as silhuetas começam a tomar forma e entrar no meu campo de visão.
Alguns se tratam dos Syrons, mas os outros são diferentes... Altos, robustos e imponentes.
Estão travando uma luta aguçada. Fico automaticamente nervosa. Eu não sabia que o estado da Terra era tão crítico.
— Recuem! - Um Syron próximo ao Jet grita para o restante. Ele faz menção de abrir a porta traseira do Jet onde estou, mas algo o impede. Uma bomba.
Sou arremessada junto com o Jet que gira algumas vezes até parar totalmente. Meu corpo está todo dolorido e minha visão turva. Sinto um liquido viscoso escorrer do meu nariz. É sangue.
Tento abrir os olhos, mas não encontro forças para isso. Antes de apagar, ouço um barulho estranho seguido de passos pesados.
— Deixem-na viva. Precisaremos dela. - Uma voz um tanto robótica ordena, tento gritar por ajuda, mas perco os sentidos.
Meus olhos se abrem vagarosamente, demora alguns segundos até minha visão se focar em alguma coisa.
Eu ainda estou dentro do Jet de Carga. Uma fumaça sai do buraco causado pelo impacto da bomba, há muitos destroços e a cápsula a qual eu havia usado como esconderijo está totalmente destruída.
Um movimento me chama a atenção e quando deduzo o que é, meus pelos se erijecem. Há uma pessoa escondida nas sombras.
— Quem é você?! O que você quer?! - Pergunto, tentando manter-me firme e não demonstrar o pavor que cresce gradativamente em meu peito. A silhueta se mexe na escuridão.
— Responda! Quem é você?! - Exalto-me. Tento me levantar, mas sinto algo pesado em cima da minha perna, que impossibilita qualquer movimento.
— Droga! - sussurro, tentando puxar a perna.
— Eu não faria isso se fosse você. - A pessoa diz, como um aviso. A voz é terrivelmente robótica.
— Diga-me, o que você quer?
— Preciso de sua ajuda.
— E por que eu te ajudaria? - pergunto, sarcástica.
— Porque, se você quiser sair debaixo dessa viga, você terá que cooperar. Caso contrário, você explodirá junto com essa nave.
— Isso não é uma nave, e sim um Jet de Carga. - Eu explico, sem saber o porquê. Isso não importa no momento.
— Ah, é assim que chamam lá em cima? - Ri, com escárnio. — E então, o que vai ser?
Pondero por alguns míseros segundos, eu não posso pensar muito visto que estou correndo risco de vida.
— Depende de que tipo de ajuda você quer.
— É simples. - Ele ri, sua risada é bem forte e parece reverberar pelas paredes do Jet. — Você voltará para a sua base, descobrirá os planos daquele presidente imundo e dará um jeito de voltar para cá.
— O que?! Como eu farei isso? - Indago, aturdida. O que ele está me pedindo é loucura.
— Eu sei que você dará um jeito.
— E há troco de quê eu faria isso? - questiono, sentindo uma fincada na minha perna imobilizada. Eu não vejo a hora de me livrar desse peso.
Prendo a respiração quando o homem sai das sombras e se revela para mim. Não é humano. Na verdade, é metade humano e metade robô.
Uma parte de seu rosto é coberto por uma máscara metálica. Um dos seus braços e a perna esquerda foram substituídos por peças de robôs. Ele é um KJ.
— A troco de sua vida. Não há nada mais importante para você, não é? - Ele se ajoelha perto do meu rosto e retira algo pontudo de seu casaco, aproximando-o do meu pescoço.
— O que é isso?! - debato-me, em vão. Ele injeta aquele líquido desconhecido no meu pescoço e se levanta, afastando-se.
— Você terá um mês para realizar nosso acordo. Se você conseguir retornar, nós retiraremos o veneno da sua corrente sanguínea... Caso contrário, em um mês, você estará dura feito uma pedra. - diz sombriamente.
— E é melhor você não contar nada há ninguém. Acredite, a cura só existe aqui. E se descobrirem que você contatou um KJ... - sorri. — Bom, aposto que você não gostaria de descobrir o que eles fazem com traidores.
— Por que eu e não um dos Syrons?
— Você acha que sou estúpido?! - altera o tom de voz, enraivecido. — Eu sei que ninguém desconfia da sua presença, eu sou a porra de um robô e posso analisá-la por completo! Basta um olhar para eu saber tudo sobre você, Jamie McCarth.
**
O KJ ajudou-me a sair debaixo da viga e me entregou um dispositivo que me deixava invisível a olho nu.Após se certificar de que eu irei cumprir a parte do plano, ele me deixa perto do Jet de quatro lugares. Espero o restante dos Syrons chegarem e apenas cinco voltam com vida.
Por sorte, apenas dois entram no Jet em que eu estou.
— Relatório da missão, senhor? - O Jet indaga. Os dois se entreolham com pesar.
— Missão fracassada. Jet de Carga danificado. Caixa de Suprimentos deixada para trás. Cinco Syrons sobreviventes. - relata enquanto o Jet reescreve e manda diretamente para o escritório do presidente Renderick.
Após alguns minutos, decolamos de volta a Base.
**
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Resquícios
Science FictionExiste um momento certo de descobrir o que somos e porque somos? Quando você abriu os olhos e teve consciência de que estava viva? Eu lembro-me vagamente dos acontecimentos passados, como se fossem fragmentos unindo-se a medida que as memórias se...