Capítulo 24 - Equipe D

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  Todos os alunos e funcionários se reúnem no saguão da base. Grupos são formados e diferenciados pelas cores dos uniformes. Equipe médica de branco, Syrons de preto, engenheiros de verde e alunos de cinza.

Quando o Presidente entra, o saguão fica em completo silêncio. Ele locomove-se para o centro e observa a multidão por alguns segundos antes de dar início ao discurso. Por míseros segundos, seus olhos demoram-se na minha direção. Sinto um arrepio atravessar minhas costas, olho para Sam e ele percebe que algo me incomoda. Ele pega minha mão e a aperta gentilmente.

— Obrigado a todos pela presença. — Renderick começa depois de pigarrear.  Sua expressão é neutra, mas o nervosismo em que ele aperta as mãos denuncia que algo não está normal.  — Primeiramente, eu gostaria de resgatar uma memória muito importante para nós. 1074 foi o ano em que nossos antecessores construíram nossa base aérea, na troposfera da Terra.  Um ano de muitas guerras e perdas irreparáveis. Óbvio que nem todos tiveram a sorte de serem resgatados, então permaneceram na Terra anos após anos, lutando por sobrevivência. Eu era um deles. Sempre lutando para proteger a mim e a minha Comunidade. — Ele fica em silêncio e observa o saguão, medindo a reação das pessoas presentes.  A maioria o olhava com admiração.

— Acho que todos vocês conhecem a história da Terra. O motivo que a fez colapsar. — Ele diz e todos suspiram tristemente. — A ganância dos sucessores que substituíram os antigos comandantes da Base destruiu um planeta inteiro, com um único experimento mal sucedido.

"Eduard e Mairo eram filhos de Dom Petrov, o presidente na época. Eles eram jovens obstinados que tinham curiosidade sobre a Terra. Ambos uniram-se com o objetivo de estuda-la, mas para isso, eles precisavam ir até lá. Foi então que junto a um amigo engenheiro, eles criaram um transporte denominado Jet, em homenagem ao amigo engenheiro, Jet Leminski.

Mais tarde, naquela mesma época, os dois partiram para uma viagem incerta e perigosa. Ninguém sabia qual era o real estado da Terra após os ataques. A viagem durou algumas horas até acharem um local seguro para desembarcar. Inicialmente, o lugar parecia completamente intacto, como se tudo o que contaram a eles fosse mentira. Como se a Terra nunca tivesse sido bombardeada.

Mairo ficou encantando com a paisagem vasta e cheia de vida. Montes verdes se espalhavam pela vastidão. Ele fechava os olhos toda vez que o vento tocava seu rosto e respirava fundo, tentando guardar cada detalhe daquele lugar nas suas memórias.

Eduard, por sua vez, sentiu ódio por ter sido enganado por tanto tempo. Sentiu ódio por crescer num lugar grotesco, com rotinas cansativas, treinos pesados e comida artificial. Olhou em sua volta e sentiu mais ódio.

Passaram muitos anos na Terra para estuda-la, e descobriram que, de fato, as guerras aconteceram e muitas pessoas sobreviveram. Aquilo intrigou Eduard, ele não conseguia acreditar que um corpo humano poderia resistir a bombas e gases mortíferos por vários anos sem afeta-los física e mentalmente. As pessoas pareciam felizes demais para ele, e aquilo o incomodava.

Enquanto Eduard mergulhava num poço de dúvidas e martírio, Mairo conhecia Ellien e apaixonava-se perdidamente por ela. A ponto de desistir do seu objetivo inicial e decidir ficar com ela na Terra. Quando Eduard soube, o resquício de sua noção esvaiu-se e ele perdeu o controle. 

Algum tempo depois, Eduard decidiu que precisava de uma cobaia para estudar os componentes do corpo humano que resistia a ataques. Movido pela raiva de ser trocado por seu irmão, Eduard cometeu um erro irreversível. Um erro que culminaria uma nação inteira.

Certa noite, ele esperou Ellien sair do hospital onde trabalhava, e a sequestrou. Ele sabia que Mairo não descansaria até encontra-la, então decidiu leva-la para um lugar que Mairo nunca poderia alcançar  sem o transporte adequado. Eduard a levou para a Base Aérea.

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