Leitor Anônimo

Capítulo 8: Primeiro passo

Fevereiro já está na metade e mesmo esta sendo apenas a minha quarta semana em Riviera, muitas coisas já mudaram. A começar pela universidade que já não é mais tão leve quanto achei na primeira semana. A cada dia ela fica um pouco mais intensa. Sempre me pergunto se as coisas podem ficar piores e recebo como resposta a confirmação de que sim, a cada semana vai ficando mais puxado e vai aumentando a quantidade de atividades, trabalhos e textos para serem lidos e resumidos. Leo com certeza concorda comigo, já que nas últimas semanas não só conversamos sobre várias coisas e compartilhamos segredos, mas também dividimos trabalhos universitários e desesperos com algumas "atividades avaliativas".

Mas no meio de toda essa correria, há algo positivo. Essa vantagem tem nome, sobrenome e um sorriso torto que me faz relaxar em meio ao caos. Sim, estou falando de João Vitor. Estamos juntos todas as quartas, na aula da Sra. Pimenta e nas quintas à noite, quando temos reunião do nosso grupo – também conhecido como o dia que acabo ganhando uma carona e alguns minutos a mais em sua companhia. A cada novo encontro, o conheço um pouco mais e meu encantamento aumenta – se é que isso é mesmo possível.

Só que neste final de semana, encontrei outro ponto positivo nessa bagunça e correria que tem se tornado a minha vida. E ele não tem nada a ver com as coisas que amo fazer e muito menos com rapazes, mas sim com uma melhor amiga, que me faz tanta falta.

Enquanto estou precisando desesperadamente de uma pausa, Olívia ganhou uma semana livre de suas aulas. Sua faculdade está realizando um evento cheio de seminários, que a participação dos alunos não é obrigatória. E não preciso dizer que ela nem se esforçou em participar e preferiu usar esses dias livres para matar a saudade dos seus pais e vir passar o final de semana comigo, não é? 

Como era de se esperar, uma das primeiras coisas que fez ao chegar foi preparar um brigadeiro, se jogar na minha cama e me pedir para contar pra ela tudo o que não tínhamos conseguido comentar nas últimas mensagens, ligações e chamadas de vídeo. E por mais que Leo venha sendo o meu novo confidente, toda ruiva precisa da sua morena e até agora não encontrei combinação melhor do que brigadeiro e um bom papo com sua melhor amiga.

— Tá. Mas deixa ver se entendi... Você tá achando que o João Vitor é o garoto que tem mandado essas mensagens aqui para você? — essa foi a pergunta que Olívia soltou assim que acabei de te dar as últimas atualizações da minha vida e mostrar todo o histórico das minhas conversas com o Bender98, meu leitor não mais tão misterioso assim.

Pois é, mais uma novidade. Sabe toda aquela aproximação com o João, que me trouxe todo aquele encantamento? Então, ela também me trouxe algumas suposições, que apesar de não querer levar muito a sério, não consigo parar de pensar sobre.

As conversas com o meu leitor estão evoluindo. O que me surpreende a cada mensagem que trocamos é como estamos nos aproximando. Ainda não sei muito sobre ele, isso é verdade, mas cada vez que abro o bate papo e vejo uma mensagem sua, sinto que o conheço um pouco mais, encontro algum detalhe que ele deixou escapar e, é claro, aumenta a minha vontade de conhecer (pessoalmente) esse leitor. Já não estou mais na fase de achar que todos os caras que cruzam comigo no bloco de Letras podem ser o dono do perfil com tão poucos detalhes, mas agora fico olhando os rapazes perto de mim e buscando semelhanças. E digamos que foi com João que tudo pareceu dar match.

Não sei se estou, inconscientemente, buscando motivos para deixar as coisas fluírem com ele, mas fazendo uma comparação tudo me leva a crer que sim, ele é mesmo a pessoa que está por trás daquele perfil, mesmo sem saber que é comigo que conversa.

O meu leitor misterioso estuda na minha universidade e não cursa apenas disciplinas de Letras, já que ele nem deve ser do mesmo curso que eu. Só que mesmo com a minha insistência, ele jamais chegou a comentar quais disciplinas cursa ou qual curso faz, então pode muito bem ser de publicidade, não?!