LEONARDO
Não sei se algum escritor ou cientista já falou sobre isso, mas a cada dia tenho mais certeza de que somos eternos insatisfeitos. É incrível como sempre parece haver algo que queremos muito, mas que quando temos ou alcançamos não parece ser mais o suficiente.
No mês passado, tudo o que mais desejava era um tempo livre, não ter tantos compromissos e mil e uma obrigações para cumprir. Se, naquela época, um gênio da lâmpada surgisse na minha frente, pediria para que pudesse ter um pouco de sossego, passar um tempo em casa, revendo alguns dos meus filmes preferidos, lendo alguns livros novos, talvez passar horas trancado no meu quarto vendo séries... Qualquer coisa diferente daquela correria em que me encontrava.
Mas a verdade é que quando chegou o momento de executar todos esses planos, eles me pareceram tão ruins. Revi todos os filmes antigos que não me canso de assistir e até fui ao cinema ver algumas estreias; escolhi as séries com mais temporadas para assistir e também coloquei a preferida de Camila, The Debate Club, na lista (vi todas as temporadas tão rapidamente que ela ficaria orgulhosa de mim); inventei mil programas com Luísa, até mesmo aqueles que normalmente eu não gosto; e aproveitei a viagem de uma semana em família, só que mesmo assim ainda não estou contente com essas férias. Sendo bem sincero, estou é torcendo para voltar logo para a minha rotina. Olha que louco!
E é por causa dessa necessidade de fazer algo diferente e que anime a minha folga que acabo tomando uma decisão, talvez no impulso. Na segunda semana de julho, quase no final das nossas férias, acordo na segunda feira e decido que vou pedir o carro da minha mãe emprestado para passar uns dias em Magnólia com Camila. Assim, sem avisar a ela, sem muita programação, mas, é claro, torcendo para que ela não me odeie por surpreendê-la batendo em sua porta quando menos espera.
Se estou sentindo falta da minha rotina, posso dizer que essa saudade é maior quando se trata dela. Como já imaginava, o nosso contato nessas férias nem chegou a se aproximar do que normalmente temos. Trocamos algumas mensagens, nos ligamos algumas vezes e ela me mandou alguns capítulos novos da fanfic para dar a minha opinião, mas nada além disso.
Acabo relevando tudo isso, porque só pelo que me contou posso imaginar a loucura que está a sua vida no momento. Camila já não estava tão bem depois de sua decepção amorosa e acho que o fato da sua meia-irmã ter aparecido em sua vida só ajudou a bagunçar um pouco mais as coisas - mesmo que, aparentemente, a relação delas duas esteja ótima. Em nossas conversas ela não chegou a comentar a respeito de como estão as coisas em sua casa, apenas quando tinha algo muito legal para compartilhar ou que estivesse precisando colocar para fora com uma certa urgência. Isso me dá uma sensação estranha de não saber como ela realmente está. Talvez tenha sido isso que, em parte, me impulsionou a pegar o carro e seguir rumo a sua cidade natal.
Enquanto dirijo, coloco na melhor estação de rádio que encontro e é inevitável me lembrar da última vez que estive nessa mesma estrada. Olho para o banco do carona e não tenho Camila ali como da última vez; e embora as lembranças comecem a me invadir, dessa vez não estou tentando entender o porquê de ela ter deitado em meu peito na noite em que, vencidos pelo cansaço, acabamos dormindo juntos.
Demoro um pouco para me situar quando atravesso a entrada da sua cidade. A única vez que vim aqui foi com ela e o tempo não estava tão bom quanto agora. Mas sigo dirigindo na esperança de me lembrar de, pelo menos, algum local que passei enquanto ela me guiava em direção à sua casa. Acabo não lembrando e me perdendo, precisando parar para pedir uma orientação para alguns moradores dali.
Quando finalmente chego a casa de Camila, respiro fundo antes de tocar a campainha, começando a me arrepender de não ter avisado que estava vindo e temendo a recepção que terei. Mas depois, me sentindo 10% mais corajoso, aperto a campainha e aguardo alguém aparecer, torcendo para que seja Camila.
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Leitor Anônimo
Novela JuvenilCamila Borges está prestes a ver a sua vida mudar. E não é só porque ela está se mudando para Riviera para começar a universidade. A maior fã de The Debate Club e escritora de uma fanfic bastante conhecida entre os amantes da série americana, precis...