Capítulo 36: Descobertas, medos e promessas

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Ao final da noite, enquanto cruzo a portaria do meu prédio, começo a me perguntar o que realmente aconteceu e tento entender a maneira como lidei com tudo isso. Não sei se posso me arriscar a dizer que entrei no modo automático, mas com certeza, não agi como esperava. E não quero dizer que a minha reação seria negativa diante de todas as descobertas e acontecimentos dessa noite. Mas não posso negar que estou surpresa com o modo como deixei as coisas fluírem, como se aqui dentro não estivesse tudo bem confuso.

A cada passo que dou, parece surgir um novo flash dessa noite, acompanhado de uma pergunta cuja resposta não vou encontrar nesse momento. Entro no apartamento ainda um pouco aérea e noto que está tudo escuro. Não sei se agradeço por minha irmã não estar alerta, no aguardo de todos os detalhes da noite ou se fico angustiada por não poder lhe chamar para conversar sobre tudo que aconteceu.

Tiro os meus saltos e caminho até meu quarto tentando fazer pouco barulho. Não quero acordar a minha irmã e nem o meu cunhado que, pela mochila jogada no sofá, deve ter resolvido passar a noite aqui. Acho que tudo o que preciso agora é um bom banho e, mesmo acreditando não ser a melhor opção, um momento a sós para pensar sobre tudo isso.

- Acho que alguém teve um encontro maravilhoso... - escuto a minha irmã dizer, em um tom mais baixo para não acordar seu namorado, depois que passo pela porta do seu quarto. Pulo com o susto que acabo de tomar e a vejo prender uma gargalhada.

- Se eu te contar sobre a minha noite... - digo acendendo a luz do meu quarto e jogando os sapatos ali na entrada do cômodo mesmo, Juliana me acompanha e se deita na cama ao meu lado - O Leo é o meu leitor anônimo. - volto a falar depois de respirar fundo e encarar o teto. Pela minha visão periférica, vejo a minha irmã se sentar na cama em um sobressalto.

- Você tá falando sério? - pergunta e noto que está um pouco exaltada. O seu queixo caído mostra que ela está surpresa, mesmo depois ter considerado essa possibilidade.

- Tô. Por que eu brincaria com isso? - respondo e temo ter soado seca demais - Parabéns, você acertou! A sua teoria, que eu achei maluca, na verdade estava 100% correta!

- Tá, o Leo é o seu leitor anônimo... Mas como foi o encontro? Conta!

Quando me preparo para começar a contar sobre a verdadeira aventura que foi essa noite, o som de uma nova mensagem em meu celular parece atrair a minha atenção. Corro para buscá-lo em minha bolsa, acreditando ser uma mensagem de Leo. Mas me surpreendo quando vejo que, aparentemente, a minha irmã não foi a única que ficou acordada até essa hora, esperando por detalhes sobre esse evento.

- EU NÃO ACREDITO! - Olívia grita em nossa chamada de vídeo no começo da madrugada, assim que acabo de contar sobre a identidade do leitor. Conhecendo-a tão bem não esperava outra reação, mas não sei se meu cunhado, que dorme no quarto ao lado, vai saber lidar com esse grito que parece ter soado ainda mais alto quando saiu das pequenas caixas de som. Espero que ele esteja num sono profundo.

É engraçado prestar atenção na reação delas duas. Enquanto a minha irmã mudou rapidamente do seu ar surpreso para o convencido, minha melhor amiga parece estar a quase um minuto surpresa, de boca aberta e dizendo coisas típicas de quem ainda está chocada demais com o que acabou de ouvir.

- Só queria dizer que eu suspeitei... - Juli diz, como se estivesse se exibindo.

- Mas Cami, conta do resto da noite... Como você reagiu? O que vocês fizeram? Ele se declarou para você? - Olívia, um tanto agitada, começa a me encher de perguntas que, sinceramente, não sei nem por onde começar a responder.

- Bom, eu fiquei surpresa né... No começo, eu achei que fosse uma pegadinha. Achei que a Juli tinha contado para ele que estava indo me encontrar com o leitor e ele, com o seu jeito super protetor, resolveu passar por lá para dar uma conferida, evitar que algo pior acontecesse, sei lá... - digo, tentando começar a narrar os acontecimentos dessa noite - Mas aos poucos a ficha foi caindo, as peças foram se juntando, ele foi me explicando algumas coisas que não ficaram claras para mim... Tudo começou a fazer sentido.

Leitor AnônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora