Capítulo 15: Reconciliação

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Quando cruzo os portões do condomínio, sou parada pelo porteiro, que me avisa da minha visita, que me aguarda não muito longe dali. "Ele não quis voltar depois e preferiu esperar por você" é o que ele me diz antes que possa reclamar do seu descumprimento às regras ou algo do tipo. Meu estômago parece revirar de tanto nervosismo, pois não preciso pensar muito para saber quem é que me aguarda. Então respiro fundo e sigo caminhando, como se tivesse certeza do que devo fazer ao estar de frente para ele.

João está sentado no sofá do hall do prédio. Paro um pouco para analisa-lo, tomando coragem para me aproximar. Não consigo ver o seu rosto, pois ele olha fixamente para o chão, mas posso apostar que, provavelmente, ele está tão confuso quanto eu. E não só isso. A sua postura que me parece sempre tão relaxada, agora tem traços tensos, principalmente em seus ombros, onde a tensão parece gritar para que seja notada. Ele também me parece nervoso, pelo jeito como balança suas pernas.

Acho que ele está tão imerso em seu nervosismo ou em qualquer outro sentimento que esteja lhe dominando, que me passa a impressão de ter sido transportado para outra dimensão. Tão atento aos próprios pés e fixo em seu próprio mundo paralelo que os sons dos meus passos não parecem ser o suficiente para atrair sua atenção.

— João? — digo e agradeço por minha voz não ter falhado.

— Oi... — ele responde, um tanto incerto — Eu queria saber se a gente pode conversar...

É claro que ele ia aparecer com a proposta de conversarmos, até porque de que outra maneira ele vai entender o que está acontecendo entre nós? Mas mesmo sabendo disso, uma parte de mim parece não estar pronta para ter aquela conversa. Não agora. A vontade de resolver cada um dos problemas que estão me incomodando tanto duela com outra vontade, a de pedir para que ele vá embora e essa conversa fique para depois.

João parece ficar mais nervoso a cada segundo que o silêncio prevalece entre nós. Então, mesmo sem ter certeza de que estou fazendo a melhor escolha, concordo com sua proposta e o convido para ir até o apartamento comigo. Essa não é uma conversa para termos em um lugar onde os vizinhos possam ouvir.

O silêncio nos acompanha em cada andar que passamos juntos dentro do elevador e enquanto caminhamos pelo pequeno corredor em direção ao meu apartamento. É como se nós dois estivéssemos cheios de coisas para serem ditas, mas sem saber por onde começar ou sem ter coragem para dar o primeiro passo. E isso continua quando sentamos no sofá da minha sala, de frente um para o outro, mas apenas nos olhamos.

— Então... — ele arrisca começar a conversa — Você quer me contar o que foi que aconteceu? Ou prefere que eu comece explicando a cena que você viu ontem na minha casa?

— Não, não precisa me explicar. — me apresso em dizer, mas depois as palavras pareceram sumir — Acho que ontem estava mais preparada para falar sobre isso, mas não podemos fugir do assunto e, se você não se incomodar, eu prefiro começar.

— Então estou aqui pra te ouvir... — diz enquanto se ajeita no sofá, como se estivesse buscando a posição mais confortável para a longa conversa que teremos.

— Desculpa. — é tudo o que o meu nervosismo me permite dizer. João é pego de surpresa, acho que ele esperava que começasse a lhe contar algo e não que lhe pedisse desculpas — Quero começar te pedindo desculpa pelo que fiz no dia da festa do meu aniversário. Não devia ter te deixado sozinho e sim ficado e conversado com você sobre o que estava acontecendo.

— Relaxa! — ele diz e dá de ombros, como se não fosse grande coisa — Eu fiquei surpreso com a sua atitude, ainda mais quando você não voltou. Não entendi o que tava acontecendo, mas imaginei que algo que fiz te incomodou e aí, quando tentei falar com você no dia seguinte, você não atendeu...

Leitor AnônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora