Leo está em silêncio desde que entramos no carro. Ele apenas olha a estrada a frente dele, totalmente concentrado, enquanto eu continuo sem acreditar que ele está enfrentando duas horas de viagem apenas para me deixar em Magnólia.
Apesar de admirar o gesto dele, não consigo olhar para o rapaz ao meu lado sem sentir o meu coração se apertar com tanta culpa. Os flashes da noite passada estão voltando aos poucos e a cada nova lembrança, a minha vergonha só aumenta. Quando foi que me transformei nessa pessoa que coloca a sua própria saúde em risco só para tentar provar algo bem idiota para o ex? Essa pessoa que dá trabalho para as pessoas?
Não sei como consegui encarar tia Adriana, a mãe de Leo, na mesa do café da manhã algumas horas atrás. Entre as lembranças que estão ficando cada vez mais nítidas, eu me recordo de ter visto ela cruzar a porta da sala onde estava e cuidar de mim, me ajudar a sentar no banco de trás do carro do seu marido, também me dar um banho e vestir um dos seus pijamas em mim.
- Camila, bom dia! - foi o que ela disse quando me viu entrando de mãos dadas com seu filho na cozinha, tentando me esconder atrás de seu corpo mais largo que o meu - Você está melhor, minha linda?
- Estou sim, tia. - respondi, jurando que as minhas bochechas estavam bastante coradas - Obrigada por tudo e me desculpe pelo trabalho e preocupação que dei ontem.
- Não se preocupe com isso, querida. O importante é que você está bem. E o que vai querer comer? Estou fazendo panquecas, você quer uma? Ou prefere outra coisa?
- Não precisa se preocupar com isso, panqueca tá ótimo para mim.
- Ótimo. Então vou fazer mais algumas para vocês comerem e depois descansarem mais um pouco.
- Na verdade, nós vamos ter que sair para resolver umas coisas, mãe... - Leo fala por mim - A Camila ia para a casa dos pais hoje, mas perdeu a hora do ônibus, então vamos pensar em um jeito dela chegar lá ainda hoje.
- Vocês vão tentar uma vaga em outro ônibus? Acho que vai ser difícil conseguir... Por que você não leva ela, Leo? O meu carro está aqui e hoje é o seu pai quem vai buscar a Lulu na escola. Então você pode pegar sem problemas. Só tenham cuidado na estrada.
- Que é isso tia?! - disse antes que meu amigo pensasse em concordar com essa ideia maluca da mãe dele - Eu pego um ônibus, mesmo que seja para a cidade vizinha ou mais tarde. Não precisa se preocupar com isso. Não quero dar esse trabalho.
- Mas o Leo não está fazendo nada... As férias começaram e até onde sei, ele não tem planos. Não é trabalho nenhum te levar em Magnólia e voltar mais tarde ou se hospedar em alguma pousada e voltar amanhã de manhã para não pegar a estrada à noite.
- Pois é, eu posso te levar.
- Tá vendo? Ele vai te levar lá e está resolvido! Mas antes vocês vão comer essas panquecas aqui ó...
E foi assim que viemos parar aqui, no meio da estrada em direção a minha cidade natal.
- Posso ligar o rádio? - Leo pergunta, tentando quebrar o silêncio. Concordo com a cabeça, após notar que o único som naquele carro era o da nossa respiração. Mas então, quando ele seleciona a opção do rádio, Bleeding Love começa a tocar e nós dois caímos na gargalhada.
- Que rádio é essa que tá tocando essa música a essa hora? Ela não toca somente nos programas de flashback da madrugada? - pergunto em meio as risadas.
- Ah, qual é?! Essa música nem é tão ruim assim... I keep bleeding, I keep, keep bleeding love... - ele começa a cantarolar e rir de si mesmo - Vamos Cami, canta comigo!
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Leitor Anônimo
Teen FictionCamila Borges está prestes a ver a sua vida mudar. E não é só porque ela está se mudando para Riviera para começar a universidade. A maior fã de The Debate Club e escritora de uma fanfic bastante conhecida entre os amantes da série americana, precis...