Capítulo 12: Coincidências

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Os feriados prolongados são sempre maravilhosos, exceto pela parte em que precisamos voltar para a nossa rotina. Depois de uma semana acordando com vista para a praia, na hora que queria e sem me preocupar com obrigações, foi um tanto complicado levantar da cama bem cedo para um dia cheio de aulas e trabalhos.

Mas a rotina não é a única coisa que me incomoda.

Dentro de mim há uma inquietação, principalmente sobre o meu relacionamento com João. Pode parecer besteira, mas me preocupo como serão as coisas entre nós agora que não estamos mais sob o céu azul e que parece mágico de Laguna, e quando temos tantos outros fatores que podem vir a estragar aquele clima maravilhoso que só um começo de relacionamento é capaz de nos proporcionar.

Olho ao meu redor e começo a me sentir um pouco mal por estar me preocupando tanto com isso. Leonardo, que teve um péssimo encontro com a sua ex e uma história de verão com nenhuma possibilidade de se prologar, parece mais feliz do que em todo esse tempo que já passamos juntos. Olívia, mesmo sabendo que um relacionamento à distância nem sempre funciona, está empolgada com a possibilidade de acontecer algo entre ela e o Fernando. Mas eu, que tive dias maravilhosos com o cara que provoca essas malditas borboletas no meu estômago e que fez questão de assumir nosso relacionamento para todos, estou com... medo.

— Posso saber no que você tá pensando que tá te deixando assim tão séria? — meu namorado (nossa, estou usando mesmo essa expressão?) diz ao se aproximar, depositando um beijo em minha bochecha.

— Em você. — solto, talvez séria ou seca demais, meio no automático.

— Ah é?! E tava pensando em mim assim tão séria? — sua sobrancelha se ergue como se me fizesse um questionamento, mas só consigo sorrir da expressão em seu rosto.

— Sim, bem séria. — na verdade, a seriedade acabou de ir embora — Porque, advinha só, os meus pais descobriram que a menininha deles tá namorando. — digo, de uma maneira descontraída algo que realmente aconteceu. Não vou compartilhar com ele os receios que não deveriam mais existir.

— Vish! E eles souberam pelo Facebook e não pela filha deles? Que vacilo hein?! — percebo que apesar de ter ficado um pouco nervoso com a informação, João está conseguindo soar descontraído.

— Foi um vacilo mesmo. Mas relaxa, já resolvi isso. Eles me ligaram ontem, assim que você saiu e já contei tudo. Acho que eles gostaram de saber que estou com alguém e que você tá me fazendo bem... Mas não estranho se meu pai estiver procurando a sua ficha nesse momento. — João começa a rir na mesma hora, mas não sei se só por achar graça ou de nervoso também.

— Tô tranquilo! O sogrão não vai encontrar nada comprometedor. — ele me lança mais um daqueles sorrisos encantadores e logo depois aqueles lábios estão se unindo aos meus.

Não sei muito bem o motivo, mas a atitude dele me pega de surpresa. Eu, definitivamente, ainda não estou acostumada com demonstrações de carinho em público. Sabia que isso aconteceria, é claro. Afinal nós estamos namorando e não tem por que nos escondermos. Mas tudo isso ainda é novo demais para mim. Não costumo ser o tipo de garota que fica aos beijos na lanchonete em frente ao prédio em que estuda.

Tenho a impressão de que, por alguns segundos, acabamos chamando atenção. Algo como aquelas cenas de filme que o cara popular beija a nerd toda desengonçada e todos que estão passando assistem aquilo em choque. Mas, na verdade, isso é apenas mais uma paranoia minha, até porque todos devem estar passando apressados por ali ou cansados demais do feriado para ficar reparando no novo casal. Então paro de pensar sobre e o beijo como se não tivesse nenhuma plateia nos assistindo. Que se danem as bochechas coradas que podem vir quando o beijo acabar.

Leitor AnônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora