Leitor Anônimo

Capítulo 25: Noite do pijama

OLÍVIA

Depois de meses longe de casa, acordar no meu quarto parece ter um gosto todo especial. Ontem pela manhã, quando cheguei em Magnólia, me dei conta de como sentia falta das pequenas coisas que só a minha cidade pode me proporcionar como, por exemplo, o abraço quentinho dos meus pais; uma conversa bem inteligente com a minha avó que já não se lembra tão bem de mim, mas não esquece as suas histórias e quanto o mundo mudou desde que ela chegou aqui; a noite de jogos com os primos mais velhos; e o chocolate quente da minha mãe antes de dormir.

Quando saio do meu quarto, noto que estou sozinha em casa. Mas isso não me surpreende. Os meus pais estão tão envolvidos nas comemorações juninas da cidade, que vê-los em casa vai ser algo pouco frequente nessas férias ou pelo menos até as festas passarem. Então, para não ficar aqui sozinha, decido ir para a casa de Camila logo depois do café da manhã. Ela também está na cidade, mas não nos falamos muito nos últimos dias com toda a correria do final de período e as horas de viagem. Só ontem recebi uma mensagem sua, dizendo que já está na cidade e tem muita coisa para me contar.

Se dependesse de mim, ontem mesmo teria corrido para sua casa e implorado para que ela me contasse tudo, sem deixar um mínimo detalhe escapar. Mas como sei que nós duas queremos matar a saudade dos nossos pais, preferi ir só hoje.

O caminho até a casa dela segue curto como sempre, mas dessa vez ele está cheio de nostalgia. É impossível não ser invadida pelas lembranças das tardes e noites em que fugíamos uma para a casa da outra ou de todas as conversas que já tivemos passando por esse mesmo caminho ao final das aulas da escola. Isso não existe mais. Estamos vivendo em lugares bem diferentes e distantes. Mas saber que ainda posso contar com ela e vir até aquela que é quase a minha segunda casa me conforta.

- Olívia! - tia Ana parece animada quando me recebe - A Cami ainda está dormindo, mas já estava pensando em chamar ela mesmo. Temos que acordar o Leonardo também, acho que ele queria viajar logo cedo...

Leonardo está aqui? Oi? Então é isso que Cami quer tanto me contar? São essas as fofocas? Será que eles estão juntos e ela ainda não teve coragem de me contar?

- Enfim... - ela diz, parecendo sair dos seus pensamentos e voltar para a nossa conversa - Ela está no quarto dela, pode subir.

Assim que me despeço da mãe da minha melhor amiga, tento não demonstrar como estou ansiosa para nos encontrarmos novamente e ela me explicar direitinho essa história do Leonardo ter vindo para Magnólia. Isso não estava na mensagem que ela me mandou ontem, nem nos nossos planos de férias.

Estou tão acostumada a invadir o quarto de Camila, que nem me preocupo em bater antes de entrar. Mas penso se devo entrar fazendo um escândalo e pulando em sua cama ou se prefiro ser um pouco mais cautelosa. Acabo optando pela segunda opção e abro a porta de seu quarto com o maior cuidado possível, mas acho que não consigo fazer o mesmo quando vou fechá-la novamente.

A primeira coisa que meus olhos captam é a cama da minha melhor amiga, onde ela está deitada, mas não sozinha. Com a sua cabeça apoiada no peito de Leo, ela dorme tão tranquilamente que não desperta mesmo com todos os ruídos que já fiz desde que entrei. Ele também parece estar em um sono profundo, servindo de travesseiro para a garota que vi crescer.

Começo a me questionar se devo tentar acordar a ruiva ou se saio do quarto fazendo de conta que nem presenciei essa cena, dizendo para tia Ana que não consegui acordar a filha dela de jeito nenhum.