Leitor Anônimo

Capítulo 18: Co-autores

LEONARDO

Empolgação. Durante muito tempo achei que sabia lidar com a minha (deixando sempre equilibrada, para que não seja exagerada e nem ausente) e a dos outros. Mas com Camila as coisas são um pouco diferentes. A ruiva que cruzou o meu caminho no começo do ano parece funcionar em apenas dois modos: um que é regido por muita empolgação e adrenalina, fazendo ser difícil de acompanha-la; ou o desânimo total, acompanhado da insegurança, entre outros sentimentos não muito positivos. São modos totalmente opostos e que, em alguns momentos, pode dar um nó na cabeça por nunca saber o que esperar.

No começo, isso me causou certa estranheza e situações que me vi sem saber como agir. Mas depois me acostumei com o seu jeito. Fui até mais além. Acho que me encantei tanto com ela, por inteiro, que imaginar alguém tirando um dos seus traços me parece um absurdo - mesmo que esse traço seja sua empolgação, ora sem medida, ora inexistente.

No dia em que ela me ligou aos pratos após uma briga com o namorado, vi o seu modo de desânimo atingir o nível mais extremo. Mas foi depois daquela ligação e da conversa que tivemos que vi o seu outro modo surgir em uma intensidade desconhecida até então, e a nossa amizade mudar para melhor. Não quero associar o fato da relação deles estar estremecida a uma melhora na nossa, mas acredito que as coisas que João não se interessa ou pelo menos parece não se importar estão sendo as que estão nos unindo cada vez mais.

Quando ela me contou da sua fanfic, fiquei tão empolgado por ela. Não tanto por fazer parte desse mundo ou por saber das dores e dos prazeres desse tipo de escritores, mas porque sei que aquilo é algo importante para ela, algo que a move e traz aquele sorriso contagiante. Cada detalhe de sua história e desse universo que ela compartilha comigo, me deixa mais interessado. Tão interessado que até me ofereci para lhe ajudar com seus textos, sendo uma espécie de editor da história dela. Olívia não ficou muito feliz em saber que roubei seu antigo cargo, mas assim que soube da forma como João lidou com tudo isso, até ouso dizer que ela ficou feliz por ter alguém apoiando a sua melhor amiga.

Veronica Cooper e o debate final, a fanfic dela, se tornou o nosso mais novo algo comum, o nosso novo projeto em conjunto e até mesmo o nosso segredo. Cami me manda mensagens ou stories privados cheios de empolgação para me mostrar o que está escrevendo, me conta das suas ideias sempre que possível e de vez em quando, no meio daquela aula chata, me manda um bilhetinho com algum convite para escrevermos juntos ou revisar o capítulo novo. Tem sido assim nas últimas semanas.

Apesar de tudo estar fluindo muito bem e amar passar tanto tempo ao seu lado, tenho que confessar que não tem sido algo assim tão fácil para mim. Camila mexe comigo de uma forma que há algum tempo uma garota não consegue. E acho que tudo isso fica ainda mais confuso quando inserimos o namorado dela nessa equação. Uma coisa é ter que lidar com os tais efeitos colaterais que ela me provoca e buscar coragem no fundo do meu ser para tomar alguma atitude; outra é sentir tudo isso, mas ser barrado a cada vez que me lembro do outro cara, aquele que faz as borboletas do estômago dela se agitarem, como ela mesma já me confessou.

Sim, mesmo diante de tudo o que aconteceu, eles fizeram as pazes. Eu já esperava por isso. Ela o ama e não vai desistir desse relacionamento assim tão fácil. Isso fica claro para qualquer um que passa, pelo menos, cinco minutos ao lado deles e para mim, que sou quase seu confidente, fica mais claro ainda. Assim como também ficou bem claro para mim que os nossos encontros para trabalhar no projeto, além de ser um segredo nosso, só acontecem quando a nossa rotina universitária permite e ela não tem planos com João. E tá tudo bem assim.