Poucas sensações são tão terríveis quanto a de acordar após passar uma noite inteira chorando. Quando desperto na manhã de sábado, tenho a sensação de que fui atropelada por um caminhão. Ou pelo menos essa é a melhor forma que encontro para descrever como me sinto depois da terrível briga que tive com João na última noite.
No meu celular, há milhares de ligações perdidas de Leo e mensagens cheias de preocupação com tudo o que aconteceu assim que ele saiu da porta do meu condomínio. Perceber que as coisas não estavam tranquilas do lado de cá não foi tão difícil ou que necessitava de muito esforço. O modo como meu namorado bateu na janela do carro já deixou isso bastante claro. Mas não quis preocupar o cara que, pelas mensagens que li, já estava se culpando pela grosseria do meu namorado ou por qualquer coisa que ele tenha feito.
Reúno todas as minhas forças para sair da cama e corro para arrumar a minha mochila com algumas roupas. Não estava nos meus planos ir para a casa dos meus pais nesse feriado, estava pensando em passa-lo na companhia de João. Mas diante de tudo o que aconteceu, sinto que preciso do colo da minha mãe e também dos seus conselhos. Por isso me apresso para ver se consigo encontrar algum ônibus que vá para Magnólia ainda hoje.
Estou funcionando no automático. É nesse modo que arrumo as minhas coisas, que bebo o meu copo cheio de iogurte e sigo em direção a rodoviária da cidade. E é com muita sorte que encontro um ônibus com saída programada para daqui a 20 minutos.
Preparo os meus fones de ouvido e a minha playlist mais melancólica para me acompanhar nas próximas duas horas de viagem. Mas não chego nem a escutar metade dela, já que acabo pegando no sono logo no começo do trajeto.
Sou acordada pela senhora que está sentada ao meu lado quando passamos pela entrada da cidade. Desligo a música que ainda é reproduzida em meu celular e volto a minha atenção para a paisagem que vejo em minha janela. Essa é a minha cidade, o meu cantinho e eu não imaginei que fosse sentir tanta saudade e tanta paz só de ver suas casinhas coloridas, as ruas cheias de paralelepípedos e as idosas cuidando de seus jardins.
Caminho da pequena rodoviária até a minha casa e o aperto no meu peito parece diminuir um pouco quando vejo os portões brancos, as orquídeas da minha mãe na nossa varanda e aquela casa, que foi pintada na cor que eu escolhi. Não vejo a hora de sentir o cheirinho que só a minha casa parece ter e de me sentir acalantada pelos braços da minha mãe.
— Minha menina! — é a primeira coisa que a minha mãe diz quando me vê entrando na cozinha, onde ela prepara os meus biscoitos preferidos. É como se ela estivesse prevendo não só a minha visita de última hora, mas a minha necessidade dessa comida de conforto.
— Oi mãe! — digo, tentando soar mais animada, mas acredito que não tenho muito sucesso nessa missão. Embora esteja muito feliz em vê-la, ainda estou abatida com os últimos acontecimentos, o meu peito ainda dói.
— Você não disse que vinha... O seu pai foi trabalhar no escritório hoje de manhã e eu nem preparei o seu quarto, está do jeitinho que deixamos antes de você ir.
— É, eu não ia vir mesmo... Mas mãe...
— O que foi? Aconteceu alguma coisa? A sua carinha tá tão abatida...
— Eu acho que estou precisando dos seus conselhos. — assumo, dessa vez, sem tentar disfarçar o quão arrasada e perdida estou. Até mesmo porque a minha mãe já sabe disso, não dá para esconder isso dela.
— Então vai deixar suas coisas no seu quarto. Se quiser, fica deitada lá, que vou preparar um chocolate quente para você e depois nós duas conversamos sobre o que está te deixando assim tão angustiada.
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Leitor Anônimo
Genç KurguCamila Borges está prestes a ver a sua vida mudar. E não é só porque ela está se mudando para Riviera para começar a universidade. A maior fã de The Debate Club e escritora de uma fanfic bastante conhecida entre os amantes da série americana, precis...