Bônus: Dia das mães

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"E se caso for, eu vou esperar
A chuva passar pra recomeçar
E se caso for, de ter que esperar
A chuva se vai pra tudo recomeçar"

Bilhetes - Tiago Iorc


Acordo num domingo preguiçoso sentindo alguns raios de sol tocarem as minhas costas nuas. Estamos no outono e o sol, certamente, está entre algumas nuvens, mas nem por isso deixo de sentir o seu calor em minhas costas. Também não preciso de muito esforço para saber de quem foi a ideia de abrir uma fresta da cortina. Essa é a maneira que Leonardo encontrou para me fazer despertar, mesmo que contra a minha vontade. Mas, como se para compensar, logo depois sinto o seu corpo próximo ao meu, como esteve durante toda a noite e seus lábios distribuindo beijos em meu ombro.

— Ei, preguiçosa. Acorda ou vamos nos atrasar. — ele me diz, com sua voz ainda um pouco sonolenta, entre um beijo e outro. Não posso negar, essa é uma ótima maneira de se começar o dia.

Ter convidado Leo para morar comigo foi uma das melhores decisões que tomei em meses. Na verdade, volta e meia me pego pensando porque não fiz isso antes. E não digo isso só porque é maravilhoso poder, todos os dias, buscar o calor do seu corpo no meio da noite ou não me incomodar se ele está me acordando no horário em que vai trabalhar só pra não ir embora sem se despedir e ver como estou; mas porque ele já passava tanto tempo aqui que acredito que a minha sogra nem estranhou a mudança.

É claro que nem tudo são rosas e muito menos tão simples. A nossa vida não se parece com uma produção norte-americana em que as pessoas vivem aquela vida perfeita. Nós também temos os nossos dias ruins, os problemas que não sabemos como lidar e acabam afetando a relação, e as brigas bobas (principalmente quando estou chateada com algum preparativo do nosso casamento que não saiu como esperado e acabo descontando nele). Mas mesmo assim, hoje não me vejo mais longe dele.

Ainda um pouco sonolenta, demoro para me lembrar que hoje é o dia das mães e temos um almoço na casa de Leo, com toda a sua família - que também já considero minha, mesma que as alianças ainda estejam na mão direita. E é por isso que hoje ele está sendo um pouco mais insistente em sua missão de me acordar.

Infelizmente, neste ano, essa vai ser uma daquelas datas em que estou longe da minha mãe. Mas é por uma boa causa. Depois de tantos anos sonhando com isso, ela conseguiu conhecer boa parte da Europa. Ao lado do meu pai, embarcou nessa aventura há duas semanas e acho que nunca a vi tão feliz. Durante a madrugada nós conversamos por chamada de vídeo e pude sentir toda a empolgação deles, que estão passando esse final de semana na Itália.

Acho que o fato dela estar longe e já termos "comemorado" essa data durante a madrugada me fez esquecer que aqui em Riviera o dia está apenas começando e que mesmo na ausência da minha mãe, posso comemorar essa data com a mãe do meu noivo e toda a sua família. Por isso, depois de despertar por completo e tomar o café da manhã que Leo trouxe pra mim na cama (um agrado por estar me tirando do meu sono maravilhoso, com certeza), me apresso para me arrumar para o nosso compromisso.

Quando chegamos, um pouco atrasados, notamos que a casa que ele morou durante todos esses anos está cheia. Primeiro noto a minha sogra, elegante como sempre, com uma taça de vinho branco em suas mãos. Depois percebo que a avó dele está sentada em um canto, contando alguma história para Lulu e suas tias estão espalhadas na enorme sala de estar, acompanhadas de seus filhos, enquanto os maridos conversam em outro canto.

— Chegou quem estava faltando! — a mãe de Leo anuncia a nossa chegada e de repente sinto boa parte dos olhares e sorrisos direcionados para nós.

Leitor AnônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora