Capítulo 22: Falsa calmaria

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Sabe aquelas coisas que nos dizem e que levamos para a nossa vida? Então, certa vez, a minha psicóloga me pediu para viver o meu luto. E, confesso, no começo eu não entendi. O luto não existe somente quando perdemos alguém de quem gostamos? Era isso que ficava repetindo para mim mesma e me impedindo de entender o que ela queria dizer com aquele papo.

Mas então, com o amadurecimento, descobri que vivemos vários lutos. O luto mais conhecido, que é o de quando alguém que amamos morre. Mas também tem o luto de quando nos separamos de alguém importante, de quando algo acaba, quando nos decepcionamos, quando passamos por um momento delicado... Enfim, são vários. E bem, durante o mês de maio vivi o luto pelo fim do meu relacionamento. Passei por todas as suas fases; da negação até chegar à última e melhor fase, a da aceitação.

Durante o último mês, Olívia, mesmo de longe, cuidou de mim. Quase todas as noites nós trocávamos mensagens e ela sempre encontrava algum filme, série, livro, fofoca ou até mesmo um meme para compartilhar comigo e me fazer pensar em outra coisa. Leonardo, com o seu enorme coração e seu jeito superamigo, também foi essencial para que passasse por tudo isso. Por ser a pessoa mais próxima, foi ele quem ouviu todos os "não acredito que tudo acabou assim", me viu querer matar João, limpou todas as minhas lágrimas e ouviu todos os meus soluços, e agora está me ajudando a seguir em frente - até mesmo quando acabo voltando lá para aquele estágio da depressão ou o da raiva.

Junho chegou e com o final do semestre se aproximando e o grande trabalho final da Sra. Pimenta, sou forçada a passar mais tempo com o meu ex-namorado, mesmo que isso seja a coisa mais contraindicada em caso de um término tão cheio de mágoas quanto o nosso. Mas me propus a não misturar as coisas; deixar a minha vida sentimental um pouco de lado e me dedicar a esse trabalho. Também visto a minha armadura antes de cada possível encontro nosso e só a retiro quando estou a sós com um dos meus melhores amigos.

Tudo está funcionando perfeitamente bem até agora. Ainda bem.

- Esse sorriso é porque a Liv mandou mais algum meme para você? - Leo pergunta após colocar a bandeja com os nossos pedidos sob a mesa do Johnny's.

- Não. Tô respondendo o meu leitor anônimo. - digo enquanto observo ele separar os nossos lanches.

- Ah, o Bender98?

- Ele mesmo. Quer que eu diga que você mandou um oi? - pergunto com um tom brincalhão e vejo meu amigo primeiro revirar os olhos e depois me mostrar sua língua. Isso é um não, eu suponho.

O meu leitor anônimo não é um segredo para Leonardo, ele soube da existência desse amigo virtual no mesmo momento em que conheceu a minha história. Mas esse assunto, que não era muito frequente, parece ter ficado mais presente nos nossos últimos encontros de escrita. As reações do meu amigo variam sempre que toco nesse assunto. Em alguns momentos sinto um ar de julgamento, por estar sendo tão aberta para alguém que não conheço; Leo sempre me apresenta o ar extremamente cético que há dentro dele nessas ocasiões. Mas também sinto que o meu melhor amigo parece tão curioso quanto eu a respeito da identidade desse leitor, mesmo que seja por estar preocupado com a minha segurança (ou a do meu coração, que não pode se partir novamente).

- Vem cá... Você não suspeita de alguém que possa ser o Bender98? - Leo me pergunta após mastigar o seu hambúrguer.

- Não faço ideia... - confesso após dar um gole no meu milk-shake - E sendo bem sincera, tenho até medo de começar a suspeitar de alguém, porque você sabe o que aconteceu da última vez, não é?! Juntei a minha quedinha por você sabe quem com a minha teoria de que ele era o meu leitor e quebrei minha cara e o meu coração em mil pedacinhos.

Leitor AnônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora