Leitor Anônimo

Capítulo 26: Irmã mais velha

No meu primeiro domingo de férias, percebo que esse mês livre será bom para mim - ao contrário do que imaginei quando acordei na sexta e me lembrei do mico que passei na festa de despedida do semestre. Também me dou conta de que estava ansiosa pelas férias não só para estar longe da correria dos estudos ou da possibilidade de me encontrar com João nos corredores, mas também porque sentia falta de passar muito tempo com as pessoas que me fazem bem.

Acabei passando o final de semana inteiro com Olívia. Seus pais estão tão envolvidos com um grande evento da cidade que não pararam durante muito tempo em casa e como as coisas não parecem estar muito bem na minha, fazer companhia a minha melhor amiga não foi só uma ajuda para ela, mas para mim também. Na verdade, era tudo o que estava precisando. Nada melhor do que um momento com sua melhor amiga para fazer com que as coisas pareçam mais leves.

Mas quando chego em casa, no final do domingo, a paz que tinha acabado de conquistar parece ter se esvaído. Tudo parece tranquilo demais, há um silêncio um pouco estranho ali e isso acaba chamando a minha atenção. Então escuto uma movimentação vinda da nossa sala de estar e assim que me aproximo do cômodo, noto que meus pais estão ali, mas não sozinhos.

Sentada no sofá, está uma moça bonita, que apesar de ser jovem, deve ser mais velha que eu. O seu tom de pele lembra o meu, mas o seu cabelo é num tom de loiro que chega a brilhar com a luz do lustre. E seus olhos, eles são claros, mas de onde estou não consigo ter certeza se são verdes ou azuis. Ela parece um pouco desconfortável ali, mas tentando manter as aparências - ou socializar, como eu diria. Mas ela não é a única. Meus pais parecem não saber lidar com a sua presença.

- Filha, que bom que você chegou! - meu pai arrisca dizer assim que me vê parada, com cara de quem não está entendendo nada. Ele também não parece saber muito bem o que fazer e a desconhecida volta toda a sua atenção para mim.

- Senta aqui com a gente, meu amor. - diz a minha mãe, batendo no espaço do sofá ao seu lado. O meu estômago revira no mesmo momento, mas acabo seguindo para o local indicado, meio que no automático.

Sabe quando você tem a sensação de que está diante de um momento sério, que talvez possa a vir mudar a sua vida ou te afetar diretamente? E sabe quando entra em uma conversa, mas antes que lhe digam qualquer coisa, você já consegue sentir o quão séria ela será? Então, foi assim que me senti naquele momento.

Desde o feriado de primeiro de maio, quando a minha vida amorosa estava um caos e resolvi acalmar meu coração na casa dos meus pais, senti um clima estranho. Os meus pais não estavam brigados ou em pé de guerra como muitos diriam, mas estava claro que havia algo gerando um desconforto entre eles dois. E quando me sentei naquele sofá, senti que estava prestes a descobrir o que era. Mais: senti que aquela moça tinha alguma relação com tudo isso.

- Então, Cami, eu queria te apresentar uma pessoa... - os olhos do meu pai se voltam para a moça sentada em nosso sofá e acabo fazendo o mesmo - Essa é a Juliana, a sua irmã.

- Oi Camila! - ela diz, com um sorriso amarelo. Na verdade, desde o primeiro momento que olhei para ela só consegui ver isso: sorrisos amarelos. Mas aquilo deixou claro para mim que ela estava tentando se aproximar, mesmo estando tão nervosa quanto eu.

- Oi! - respondo, completamente no automático e sem conseguir demonstrar uma emoção que não seja confusão. Acho que qualquer pessoa que estivesse ali notaria isso, o meu desconforto e a minha falta de tato para lidar com essa situação. Inclusive ela, a irmã de quem já ouvi falar, mas nunca vi.

- Então filha, a Juliana chegou hoje e vai passar um tempo aqui...

Então, o meu pai, que definitivamente não está sabendo lidar com essa situação, solta a outra novidade. E de repente as peças vão se juntando e a compreensão vai chegando até mim. Quer dizer, a compreensão sobre todo aquele clima tenso, pois no que diz respeito a minha irmã mais velha (que estranho dizer isso!), tudo ainda está confuso demais!