Leitor Anônimo

Capítulo 9: We are carnaval (parte I)

Quando a segunda feira chega, ela não é como todas as outras. Isso porque estamos naquela semana em que todo mundo fica feliz, se fantasia e sai pelas ruas para se divertir. É isso mesmo, estou falando do carnaval. E não, não estou tão animada como todos ao meu redor. Claro que essa semana tem tudo para ser maravilhosa, mas por não ser muito fã da festa, estou com receio de não conseguir aproveitar tanto os dias que virão.

Desde o começo de fevereiro era comum passar pelos corredores da universidade e ouvir o tom animado dos grupinhos combinando para qual cidade irão nesses dias livres. Mas essa não é a minha maior surpresa. O que está deixando a mim e a todos que me conhecem de boca aberta é o fato de que eu estou fazendo parte de um desses grupinhos e planejando viajar também – mesmo que isso tenha acontecido aos quarenta e cinco do segundo tempo.

Essa não foi uma decisão que tomei sozinha, como se um belo dia tivesse acordado e decidido que esse ano vou vestir as fantasias mais engraçadas e me jogar nas festas. Até porque isso não é muito a minha cara. O desejo foi despertado em mim quando, no domingo, João mandou uma mensagem para o nosso grupo não para falar sobre os textos da Sra. Pimenta, mas nos convidando para passar os dias de folga em uma cidade do litoral.

Olívia, que tinha acordado de ressaca depois da festa do dia anterior, esqueceu a sua dor de cabeça e a garrafa de água que estava sendo sua maior companheira para tentar me convencer a ir para essa viagem. Ela utilizou todos os argumentos que deveriam estar guardados em uma parte do seu cérebro. Um deles, inclusive, era sobre a sua aposta de como as coisas entre mim e o organizador dessa viagem irão para o próximo nível. Essa informação me deixou empolgada e ao mesmo tempo muito nervosa, mas mesmo assim aceitei. Mas com uma condição: que ela fosse curtir o feriado comigo.

Leonardo também acabou sendo convencido a ir, mas não pela minha melhor amiga e sim por João, com o seu discurso sobre como seria legal, uma oportunidade de estar com a galera, de talvez conhecer umas meninas... Enfim, um discurso bem motivador. Talvez até demais, já que agora Leo está no meu apartamento, com mala, look praiano e competindo com Olívia para o cargo de mais empolgado.

Embora uma parte de mim também esteja no clima de curtição do feriado prolongado, a outra está um pouco nervosa com todo contexto. Iremos viajar de carro com João e ficaremos hospedados na casa de praia de um dos seus familiares. Ou seja, terei por volta de umas quatro horas de viagem ao lado dele e ainda passarei uma semana inteira debaixo do mesmo teto que ele. Pensar nisso e em tudo o que pode vir a acontecer me deixa com um misto de empolgação e frio na barriga. Olívia não estava errada quando disse que as coisas podem avançar entre nós nos próximos dias.

— Cami, o João já chegou!

Sou retirada do meu devaneio quando escuto Leo me chamar da sala do meu apartamento. Apresso-me em fechar a mochila que estava organizando e desço junto com os meus amigos. Não demoro muito para avistar João, encostado em um carro mais esportivo, com seus óculos de sol e de bermuda e regata – algo que nunca tinha visto ao vivo e a cores. Assim que nos vê, ele corre para nos ajudar a organizar as coisas na mala do seu carro.

Olívia não perde a oportunidade de me empurrar para o banco do carona e dividir o banco traseiro com Leo e Fernando, um dos amigos do João. Fico sem saber como lidar com essa situação, principalmente quando vem todos os flashbacks de nós dois dentro de um carro, mas o motorista me parece satisfeito quando entra e me vê ocupando o lugar que era do seu amigo.

***

Chegamos em Laguna bem na hora do almoço. Todo mundo estava faminto e sem coragem para cozinhar. Então a nossa primeira parada foi em um restaurante de frente para o mar, que tem como especialidade os pratos com frutos do mar, mas, para minha sorte, também agrada outros gostos ao trazer filé com fritas em seu cardápio.