Capítulo 6: Proximidade

55 12 18
                                    


Durante todos esses anos, havia uma frase que volta e meia era obrigada a escutar: quando isso acontecer com você, irá entender. Era assim que a minha mãe me alertava que entenderia suas atitudes quando fosse mãe, o meu pai explicava que entenderia a necessidade de saber controlar minhas finanças quando fosse dona do meu próprio nariz e Olívia me pedia para não julgá-la por estar tão animada após sair com algum cara, porque um dia passarei pelo mesmo. E bom, ainda não posso dizer que entendo os meus pais, mas tenho que dar o braço a torcer quanto à afirmação da minha melhor amiga.

Ainda não sei explicar o que aconteceu na noite passada e nem me sinto capaz de afirmar se aquilo foi um encontro ou não. Acho que ainda sou inocente e inexperiente demais nessa coisa para poder julgar. Também acho que as minhas expectativas podem vir a distorcer tudo. Mas independente do que tenha sido, não posso negar (até mesmo porque está estampado no meu rosto) o quanto gostei de como o dia anterior acabou. Volta e meia me pego tendo flashbacks do sorriso de João enquanto nós conversávamos, de como era gostoso o som da gargalhada dele (mesmo que estivesse rindo da minha cara), do seu olhar atento e talvez a minha melhor lembrança, a do nosso beijo.

Mas por mais agradáveis que sejam essas lembranças, criei uma espécie de nota mental para não me esquecer de que não devo criar muitas expectativas sobre aquele beijo, já que ele pode ter sido o único. Ou que pode ter significado muito mais para mim do que para João. Só que se há algo que não aprendi nem com o amor e muito menos com a dor, é a não criar expectativas. Por isso, desde que pisei os pés no campus, a minha mente começou a ser bombardeada por questionamentos. Quando o verei novamente e como será esse encontro? Será que vai ser tão bom quanto o último ou ficarei envergonhada quando estiver de frente para ele? Será que nos beijaremos novamente ou ele vai agir como se nada tivesse acontecido e fossemos apenas bons amigos?

Fui caminhando até a minha sala com essas perguntas rondando em minha mente e criando possíveis diálogos para caso, por uma coincidência, nos encontrássemos aqui, talvez em algum esbarrão como nos filmes americanos. Mas o encontro não aconteceu. Tive que lidar apenas com os meus pensamentos, a minha vontade de encontra-lo, a necessidade de não me atrasar ainda mais e um sorriso estampado no meu rosto, que pelo visto estava muito maior do que imaginava, já que assim que entrei na sala ouvi a seguinte frase:

- Luz na passarela, que lá vem ela... E olha só, isso é um sorriso? OH MEU DEUS, EU GANHEI UM SORRISO!

Leonardo anunciou assim que me viu cruzar a porta, utilizando todos os seus dotes teatrais para encenar uma surpresa digna de levar a sua mão ao peito. Agradeci por a sala estar vazia, porque caso contrário, estaria tão vermelha quanto os meus cabelos nesse exato momento. Mas espera...

- Ué, por que a sala tá vazia? - pergunto, trocando a minha expressão feliz por uma de confusão.

- Porque, adivinha só, hoje tá tendo uma reunião super chata entre os professores e fomos liberados.

- Ah, eu não acredito! - reviro meus olhos - Leonardo, você tem noção de como corri para chegar aqui e não ter aula?

- A culpa não é minha. - diz, levantando as mãos - E estou tão puto quanto você. Mas tenho algo para te animar, minha doce e amada Camila. Quer dizer, você não me parece estar precisando de algo para te animar, já que você chegou atrasada, mas toda sorridente... - os olhos do garoto sentado na minha frente pareciam me analisar e sua fala queria insinuar algo, que logo ignorei.

- Pois é, mas esses professores acabaram de estragar a minha alegria matinal, então pode fazer aí a sua mágica para salvar o meu dia.

- É o seguinte, estou com uma missão fantástica! - o tom irônico em sua voz já me fez temer o que viria daqui em diante - Amanhã é aniversário da Luísa e minha mãe quer fazer uma festinha para as amiguinhas dela. Mas por causa de umas mudanças no trabalho, ela não conseguiu comprar as coisas da festa. Então adivinha quem ficou responsável por isso?

Leitor AnônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora