Capítulo 38: Final feliz

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4 ANOS DEPOIS


Quando entrei no ensino médio, passei a ter um sonho: o de me formar. A minha fantasia consistia em uma formatura como aquela que cansei de ver nos filmes e séries americanas - até mesmo em The Debate Club - mesmo sabendo que as coisas, nessa outra América, são bem diferentes das que vemos nessas produções. E realmente elas foram bem diferentes quando acabei o tão famoso e até mesmo temido terceiro ano. Mas dentro de mim passei a carregar o desejo, e talvez até uma vaga certeza, de que quando chegasse na minha outra formatura, a da faculdade, tudo seria melhor e mais próximo do que sempre sonhei.

E então esse dia chegou. Estamos todos reunidos no enorme auditório da Universidade de Riviera e tenho certeza que dentro de cada um de nós há um universo de sentimentos, mas o maior deles é a alegria: por termos chegado até aqui, por mostrarmos para nós mesmos que conseguimos, pelos novos sonhos que estão se formando e em breve se concretizarão, por estarmos juntos. São tantos os motivos dos nossos sorrisos que prefiro nem me arriscar a continuar listando.

No palco do grande auditório está o reitor da nossa universidade e os mestres que selecionamos, mesmo com um aperto no coração por termos que deixar alguns de lado, para representar todos aqueles que transformaram aqueles universitários em excelentes profissionais. Todos eles já fizeram os seus discursos e juntamente com todas as outras mulheres que compõe a nossa turma, agradeci por ter escolhido maquiagens a prova d'água, porque já nos emocionamos bastante com suas palavras. E nos emocionamos mais um pouco com o nosso juramento e o momento em que realmente colamos grau.

- Gostaria de convidar ao púlpito, a nossa oradora, Rebeca Han. - escutamos a cerimonialista anunciar e o nosso olhar se volta para a garota de traços asiáticos que está entre nós.

Ao olhar Rebeca se levantar de onde está, a algumas cadeiras de distância da minha, é impossível não ser tomada por todas as lembranças da nossa amizade. Aquela falta de intimidade que havia entre nós no nosso primeiro ano não existe mais e a cultura das nossas famílias, que em alguns pontos são tão diferentes, não nos impediu de construir uma grande amizade, capaz até de causar um pouco de ciúmes em Olívia.

É meio louco parar para analisar como aquela garota, que entrou por acaso no meu grupo de uma disciplina, lá no meu primeiro semestre da faculdade, acabou se tornando alguém tão íntima, com quem tenho tantas memórias e tantas histórias que ainda desejamos compartilhar. Mas ao mesmo tempo é tão gostosa essa sensação de saber que fomos capazes de passar por cima de qualquer obstáculo (real ou criado por nós mesmas) em prol dessa amizade, que construímos algo verdadeiro e tão forte ao ponto de nos fazer ter a certeza de que essa amizade vai muito além dos portões da Universidade de Riviera. É uma amizade para a vida toda.

Quando ela se posiciona no púlpito, posso sentir a sua emoção e nervosismo de onde estou. Sei o quanto ela sonhou com esse dia, em fazer parte dessa cerimônia de uma maneira ainda mais especial. Mas também sei quantas madrugadas ela passou acordada tentando pensar em uma mensagem especial para todos nós, quantas vezes pensou em desistir por achar que não conseguiria fazer algo à altura e de como sua última noite foi mal dormida devido a ansiedade para esse momento. Por isso, quando o seu olhar pousa em mim, faço um sinal positivo e mesmo sem sair um ruído de minha boca, te peço para que arrase.

- Senhoras e senhores, queridos mestres, pais, familiares, formandos, amigos e companheiros de jornada, boa noite! - ela inicia seu discurso após respirar fundo e dentro de mim já começo a ficar orgulhosa - Quero começar a minha fala dizendo que, para mim, é uma honra e responsabilidade ser aquela que fala por todos nós, em uma tentativa de expressar o que vivemos nestes últimos anos e como nos sentimentos agora, que saímos de uma fase para adentrarmos em outra. Mas usando essa lógica das fases, quero fazer uma espécie de linha temporal. Aos cinco anos, quando nos perguntavam o que queríamos ser quando crescêssemos, certamente muitos de nós sonharam alto e se imaginaram como astronautas, cantores, atores ou até mesmo princesas e super-heróis. Alguns, talvez, só queriam ser como seus pais, pois não há exemplo melhor, não é mesmo?! E então, quando crescemos mais um pouco, lá para os nossos 15 ou 16 anos, exigiram de nós uma resposta séria e sei que muitos de nós não souberam o que dizer ou sentiram o peso dos olhares tortos por suas escolhas. Alguns perseveraram e outros acabaram desistindo. Alguns acertaram de primeira, outros não. E aposto que durante esses quatro anos, muitos que hoje estão aqui tiveram dúvidas, perderam um pouco do fôlego ou da paixão, pensaram em desistir... Mas não desistiram. E é por isso que hoje é um dia importante, um dia de comemoração. Parabéns para nós, formandos, que chegamos até aqui, cada um com suas dores e alegrias, erros e acertos, vitórias e derrotas. Mas parabéns também a vocês, nossos pais, irmãos, namorados e namoradas, mestres e chefes de estágio que nos ajudaram a ser quem hoje somos. Muito obrigada!

Leitor AnônimoOnde histórias criam vida. Descubra agora