Capítulo 12: A Armadilha do Buraco Negro

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Admiro a paisagem impressionante de UO através das janelas da nave. Sugu parece mesmo saber por onde vai. Quando penso mais nisso, não haveria lugar melhor para ela do que aqui, mergulhando na imensidão e se perdendo na grandeza que existe além dos céus.

Me lembro do quão triste era para ela em ALO, com aquelas restrições de vôo e limites de altura a que se poderia chegar. Sempre imaginando o que a esperava do outro lado daquela barreira invisível, mas sem poder descobrir.

Vendo-a controlar o painel desse ônibus voador, vejo em minha irmã uma capitã em potencial. Nossa tripulação desfruta de um passeio agradável pelo espaço rarefeito, até Urania nos alertar sobre uma possível ameaça.

- Droga! Tem um buraco negro na nossa frente e está muito perto da nave. - avisa Suguha, de repente.

- Isso significa o que eu acho que significa? - pergunto, nervoso.

- Significa que se eu não conseguir me afastar a tempo, vamos ser sugados e mandados pra sei lá onde. - respondeu ela.

- Não tem como dar marcha ré na nave? Virar as turbinas para o outro lado, qualquer coisa...? - Asuna pergunta, um pouco desesperada.

- Não, a nave foi bem projetada, mas nem tanto. - Sugu se esforça no "volante" para tirar  a máquina do caminho da armadilha - Não estou conseguindo, ela nem se move. A gravidade do buraco negro já nos atingiu. É questão de tempo até sermos engolidos e reaparecermos num lugar que nem faço ideia.

- Mas que inferno! Finalmente saímos da Terra para sermos puxados para dentro de um buraco, que a propósito é um portal que leva ao desconhecido - digo, irritado.

Num ímpeto de resistência, fui até o painel e comecei a apertar os botões e tentar virar a nave na direção oposta. Nada adiantou. Minha irmã apenas se afastou do painel e assistiu aos meus esforços desesperados, certa de que eram inúteis. 

Enquanto isso, Asuna se assentou e apertou os cintos no caso de uma aterrissagem, onde quer que fosse, desagradável. Até mesmo Yui demonstrou instintos defensivos se escondendo no meu bolso. Urania apenas aguardava o momento em que aquela armadilha gravitacional lhe devolveria o controle de sua nave.

A inteligência artificial da nave comunicava que a distância entre nós e o ralo espacial já era apenas de 500 metros. A velocidade da nave aumentava e logo todos iríamos desaparecer no vazio e dar adeus aos nossos planos. Em pouco tempo, a contagem regressiva para o encontro com o buraco negro começa.

- 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1... - a voz artificial se cala.

Passar por aquele buraco negro foi como atravessar a Bifrost. Em centésimos de segundo, vivenciamos um fenômeno único no espaço-tempo. Logo após essa viagem mental, reaparecemos numa atmosfera estranha e avermelhada. A névoa densa ofuscava a visão do solo ou qualquer outra coisa.

Urania desacelerou a nave e inclinou sua trajetória a 30 graus em relação ao chão. Se tivermos sorte, conseguiremos pousar, e não bater. O programa da nave vai relatando a distância até o chão que vai diminuindo gradualmente. Quando essa distância se reduz a 5 metros, Sugu cautelosamente coloca a nave paralela ao chão para em seguida descer devagar.

Logo a grande porta lateral do veículo se abre, formando, simultaneamente, uma rampa de desembarque. Ainda bem que não precisamos respirar dentro do jogo, o ar parecesse horrível, e nem um pouco respirável. O lugar todo possui uma aparência tóxica, envolta em areia e névoa.

No desembarque, pisamos o solo arenoso do planeta estranho em que chegamos. A visão está totalmente bloqueada pela neblina. Decidimos andar na direção ao leste da espaçonave, que tão receosamente a piloto conseguiu estacionar.

Pergunto a Yui sobre informações desse lugar:

- Consegue descobrir aonde estamos Yui? E como fazemos para sair daqui?

Ela começa a digitar e mexer num painel à sua frente, examinando o mapa do jogo.

- Relionur. Planeta não habitado, é usado como destino para exílio. Raças que vivem nessa galáxia usam o local para banir seus renegados como punição.

- E a parte em que diz como saímos daqui...?

- O planeta possui uma missão de nível 65. Ela não foi concluída nenhuma vez ainda. Há um NPC eremita que vive no planeta e explica o mistério da névoa vermelha que vemos. Ele atribui a desolação dessa terra a um monstro, que no fim será o boss que iremos enfrentar. Após sua derrota, o planeta voltará a seu aspecto normal.

- Que creio eu é a dissipação dessa neblina inconveniente. - diz Asuna.

- Recompensas da missão? - continuo questionando.

- 10000 solyns, armadura épica, poção grande de vida x10 - Yui responde.

-  Não sei vocês, mas eu acho que caímos direto num banquete de exp. Mesmo com nível acima dos nossos, temos muitas poções que compramos, além das que conseguimos como recompensas, certo Asuna?

- Temos 450 poções de vida grandes, 40 poções pequenas e 50 médias. - checou Asuna.

- Não é a imortalidade, mas acredito que seja o suficiente para uma missão, mesmo difícil. - acrescentei.

- E eu vou me unir à equipe e participar da quest com vocês, preciso da visão limpa se quiser sair daqui dirigindo.

- Então devemos começar a procurar o NPC. - Asuna disse.

- Pelos ícones no mapa, ele deve estar uns 3 quilômetros naquela direção. - Yui aponta o sul em relação à nave.

Rumamos todos naquela direção, em linha reta, por meia hora. Quando chegamos lá, vimos apenas um vulto estranho escondido na neblina e poeira, cuja voz se dirigia a nós.

- Vocês são exilados? - pergunta.

- Não. - digo.

- Então o que procuram num lugar como este? - diz a voz, que parece vir de um homem encapuzado.

- Somos aventureiros e o acaso nos trouxe aqui. - responde Asuna.

- Se é assim, podem me ser úteis. Já faz 6 anos desde que fui amaldiçoado por aquele demônio, seu hálito empestia o ar e ele arrasa tudo por onde vai. Como se não me bastasse o exílio, agora tenho que conviver com aquele monstro, à espreita nas sombras, as mesmas sombras em que me escondo, buscando segurança e distância dessa criatura abominável. Mas aqui estão vocês, guerreiros. Acham que são corajosos o bastante para enfrentar tal criatura?

- Como vamos enfrentar qualquer coisa sem poder enxergar? - Sugu pergunta.

- Vocês precisam subir a montanha, e de lá evocar sua presença, ele virá por vocês e naquela arena, irão confrontá-lo. - o NPC explica a última parte da missão.

- Quando matarmos o monstro, toda essa névoa some?

- Quando ele se for, levará todo o mal consigo. - declarou o NPC, dramático.

- Então que seja. Pessoal, vamos? - começo a andar na direção da elevação, seguido por Urania e Asuna.

Não foi nada fácil escalar aquela rocha deformada com toda aquela camada vermelha sobre os olhos. Pelo menos a neblina não é tóxica. A montanha imponente se ergue acima das dunas, oferecendo uma vista espetacular do planeta inteiro. Dava até para ver a nossa nave dali de cima.

Me perguntei como chamaríamos o boss até ali em cima. Logicamente, haveria alguma ação gatilho para fazer ele aparecer. Foi quando notei uma gigantesca corneta de chifre, que jazia sobre um suporte feito de pedra, apontada para o abismo abaixo dela. 

Me preparei para soprar e empunhar sabres, um que Firest nos deu e outro um dos que ganhamos por último como recompensa. Sei que começamos  do zero aqui e que não tenho mais minha habilidade especial, mas quem sabe posso reaprende-la. Não custa tentar e ver se funciona. Asuna e Sugu fizeram o mesmo e prepararam suas armas. Inspiro o ar poluído e sopro com força a corneta. A criatura foi despertada.

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