Capítulo 16: A Fronteira Final

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Na aldeia, entregamos o filhote apático e imóvel a seus pais, que só choraram com o choque da situação. Os demais aldeões, alarmados com a confusão e o pranto, chamaram logo os sacerdotes da tribo, numa tentativa de trazê-lo de volta à vida. O pequeno yalko parecia quase catatônico.

Depois de muitos cânticos e mandingas realizados num ritual um tanto peculiar, a criança finalmente reviveu. Foi a vez de seus pais perguntarem sobre o grande Foshin, para respondermos que ele estava morto, e que o povo yalko estava agora livre de sua tirania. Rapidamente um clima festivo se apossou da vila, junto com muitos agradecimentos.

"Parabéns! Você completou a missão: A Esperança dos Oprimidos. Recompensas da missão: 7500 solyns, armadura mítica x2, sabre do herói x2"

- Parece que realmente saímos no lucro dessa vez, quão insólito. - digo, incrédulo de felicidade.

- Agora temos mais que o suficiente para comprar uma nave, e das decentes. - Asuna lembra, animada.

- Finalmente um pouco de sorte. Vamos? - digo, saindo do vilarejo.

- Logo atrás de você.

Nos dirigimos, um pouco apressados e com a ajuda do mapa, até a loja de cosmonaves mais próxima. Eu mal podia conter minha ansiedade. Este estabelecimento se chamava "Cosmic Motors", havia um grande banner na entrada que deixava isso explícito, assim como a placa de metal no estacionamento e a fachada que acompanhavam.

Assim que entramos, a vendedora, e possivelmente proprietária, nos atendeu. Parecia etudiana, a aparência de demihumano guaxinim me deu a pista. Máscara de pêlos negros ao redor dos olhos, grandes orelhas pontudas e cinzentas e, por fim, uma longa cauda cheia e felpuda cinza e preta saindo da roupa.

- Em que posso ajudá-los? - levantou a cabeça enquanto mexia em um computador bem moderno - Ack!  Kirito? Asuna? - exclamou esbarrando e derrubando alguns objetos no balcão.

- Nos conhecemos? - perguntei, curioso.

- Sou eu, Silica! Quer dizer, nesse mundo, eu me chamo Silverya, mas não estou tão diferente assim... Juram que não me reconheceram?

- Agora que você falou, o seu cabelo lembra muito da Silica de SAO e ALO. - falei, notando dois coques louro escuro plantados atrás de suas orelhas de guaxinim.

- Como chegaram tão longe em tão pouco tempo? Transferiram suas outras contas pra cá também? - pergunta ela, com curiosidade.

- Não, não, na verdade recebemos uma mãozinha, ou duas, aliás. Mas é uma longa história e estamos com pressa, estamos atrás de uma nave já há algum tempo... - Asuna responde, tentando fugir da conversa e evitar mais delongas.

- Bom, se esse é o caso, que tipo de máquina estão procurando? Com certeza tenho alguma coisa pra vocês, independente do que têm em mente.

- Precisamos de uma para viagens intergaláticas. - especifico.

- Certo, então que tal esta feita de tungstênio com revestimento de amiantro? Os semicondutores são feitos de silício e as acomodações e assentos foram construídos com poliuretano. Ela aguenta e protege de temperaturas até 10000 °C. Custa apenas 18000 solyns.

- Apenas, você disse? - questionei, chocado.

- Tudo bem, o preço é salgado, admito, mas a nave vale a pena. Veja você mesmo, não é uma beleza de máquina?

- Sim, é linda mas... - comecei, hesitante.

- Está bem no limite do nosso orçamento. Se comprássemos essa, nos sobraria pouco mais que 300 solyns. - Asuna ponderou, em conflito - Mas com essa máquina, podemos chegar bem rápido onde queremos, não parece que se danifica com impactos moderados. Por acaso ela tem a função de marcha ré? 

- Sim, mas não vai te ajudar com os buracos negros, se é o que está pensando. Foram programados para não serem superados por ninguém, independentemente do nível ou da nave que pilota. Diante desses, sim, todos são iguais.

- Está bem, então. Obrigada pela sinceridade. - digo - mas não tem algo um pouco menos incrível que esteja acessível pra gente? Afinal mesmo sendo tentadora, ela não tem qualidades cruciais, seria pura ostentação mesmo.

- O que posso garantir com essa compra é a vantagem em relação a outros veículos num campo de asteroides e em corridas. Ela pode ser cara, mas é muito veloz. Se conseguirem um bom piloto para correr nela nos circuitos, vão ser compensados por cada solyn que gastaram.

- Tudo bem, você me convenceu. O que me diz, Asuna? Vamos comprar? Acho que não levaria muito tempo para chegar lá.

- Eu topo, foi pra isso que juntamos todo esse dinheiro, no fim das contas. - respondeu.

- Aonde estão indo? Se é que posso perguntar - Ayono parece mais intrigada agora.

- Ah, é complicado. Mas depois explicamos quando voltarmos. - respondi, bem evasivo.

Nos despedimos de Silica, tentando driblar sua curiosidade e um pouco chateados por não podermos nos reunir com nossos amigos no jogo e reviver a melhor party de todas. Como nos velhos tempos, até gostaria de me aventurar com eles nesse mundo virtual.

Como todas as embarcações à venda já estavam posicionadas estrategicamente em uma plataforma à céu aberto, não seria difícil sair com a nave da loja. Simplesmente entramos nela e nos sentamos nas poltronas fixas na frente do visor e do painel de controle.

- Então... Como ligamos essa coisa? - me pergunto em voz alta.

- Talvez a gente tenha que apertar esse botão para ativá-la. - Asuna disse afundando o indicador no mesmo.

Dois disparos de energia atingiram em cheio o vidro da vitrine na frente da qual a nave se encontrava, causando rachaduras.

- Agora temos que pagar o prejuízo da Ayono. - suspirei, aborrecido.

- Tudo bem, foi só um equívoco. Tenho certeza de que esse aqui é o certo.

Os poucos segundos que Asuna manteve o botão pressionado foram suficientes para quase atropelar o vidro dessa vez.

- Deixa eu tentar agora - digo num tom inquisitivo.

- Não adianta apertar botões aleatórios, precisamos de um manual antes. - ela responde, desistindo das tentativas cegas.

- Acho que estou sentado em cima dele. - me levantei ligeiramente e puxei os papéis que estavam no assento.

- Isso facilita um bocado as coisas - ela disse, tomando o manual da minha mão e observando as primeiras páginas.

Asuna apertou os botões certos dessa vez, e a espaçonave ascendeu devagar pelo teto de ar da plataforma mostruário. Ela parece estar mesmo se divertindo pilotando isso. Assim que alcançamos os primeiros 100 metros de altitude, ela mexe no painel e ganhamos velocidade. 

Teve que desviar de um prédio erguido no centro comercial aonde chegamos, e quase atropelou uma ave estranha que voava, um pouco depois. Coloquei as duas mãos no rosto. Yui se escondeu em meu bolso outra vez. Subitamente, sou acometido por uma saudade avassaladora de Suguha. 

Logo conseguimos sair da atmosfera do planeta, e ganhamos o grande vácuo mudo novamente. Seguimos simplesmente em frente, na velocidade da luz, atentos a qualquer aviso da nave sobre buracos negros. Estou certo de que não vai demorar para chegarmos no limite do cenário de Universe Online.

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