Infinity

Capítulo 4: Espionagem Corporativa

Engolir esse risoto é uma tarefa árdua. Por que tudo o que eu cozinho é sempre uma droga? Não evoluí nada desde SAO. Asuna está tentando me ensinar, mas não tenho o menor talento. Sempre fecho os olhos quando o grude passa pela garganta. Não consigo evitar, é involuntário.

Asuna se esforça pra disfarçar a repulsa. Ela mastiga bem devagar, contorcendo o rosto para não fazer nenhuma careta, e depois dá um sorriso amarelo para mim. Tento colocar tudo na boca para acabar logo e irmos para o trabalho. Fomos convocados para uma reunião às 13:30.

- O que você colocou nesse risoto querido?

- Garanto que não cuspi nele e não pus nenhum inseto. - digo.

- Não está tão ruim assim... - ela tenta me animar.

- Está horrível. - eu disse, consciente.

- A Yui parece estar gostando. - Asuna diz, depois que Yui-chan digitaliza a receita e reproduz o risoto para experimentar.

- Nossa papai, você é péssimo. - ela diz, depois de fazer caretas ao engolir e tossir um pouco.

- Acho que não nasci para ser chef em mundo nenhum - concluí.

- Quem foi convocado para a reunião na Meca, além de nós? - Asuna pergunta.

- Alguns designers e outros 2 engenheiros. - respondi.

- Já são 12:30, é melhor terminar logo de comer e sairmos. - disse Asuna.

Comemos o resto da tentativa de risoto e saímos.

- Comporte-se, Yui! - disse Asuna, antes de fechar a porta.

Pegamos minha moto e eu dirijo até a Mecaphial Technologies. Quando chegamos na frente do prédio, estacionamos e entramos. Asuna parou de repente.

- Preciso vomitar. - disse, num aviso.

- O meu risoto estava tão ruim assim?

- Não, não foi o risoto... Argh, preciso vomitar agora mesmo.

Ela saiu correndo para o banheiro e voltou uns 5 minutos depois, com o rosto meio pálido, parecia desconfortável.

- Está tudo bem?

- Está, vamos subir.

No elevador, apertamos para o 45° andar. É onde as reuniões sobre desenvolvimento são realizadas. Umas 2 ou 3 pessoas entraram e saíram até chegarmos ao nosso andar. Atravessamos os cubículos do escritório e chegamos até a sala.

- Os jogadores de ouro chegaram! A propósito, parabéns pelo noivado, Kirigaya-kun, Yuuki-kun. - Tanaka logo percebeu nossa presença.

Akira Tanaka é nosso chefe de departamento. Ele supervisiona o desenvolvimento dos consoles e softwares. Sabe como funciona cada etapa da programação dos sistemas.

- O senhor Ishikawa quer vê-los na sala dele no 70° andar.

- E quanto aos outros que foram chamados? - perguntei.

- Eles compareceram à orientação geral. Ishikawa quer falar com vocês em particular. - respondeu ele.

Eu e a Asuna nos entreolhamos. Nunca havíamos sido chamados para falar com Ishikawa pessoalmente - ele é o CEO da Mecaphial. Caminhamos novamente até o elevador. Entramos e apertei o 70°. Silêncio durante toda a subida, talvez por estarmos ocupados demais com o turbilhão de pensamentos em nossas mentes. As portas se abriram e fomos até o balcão.

- Olá, somos o Kazuto e a Asuna. Tanaka-san nos disse que o senhor Ishikawa queria falar conosco. - eu disse à recepcionista.

- Pode entrar, ele está esperando vocês. - ela avisou nossa chegada pelo interfone.

Entramos na sala e ele nos recebeu.

- Bem vindos. - disse o homem, cordial - Kirigaya-san, Yuuki-san. Sabem, há uma razão para receberem instruções diferentes dos outros envolvidos nesse projeto. Separamos uma equipe aqui da Meca para entrar em Universe Online. Há 5 desenvolvedores que escolhemos, além de vocês. - relatou.

- Senhor? E por que isso? - eu disse surpreso. Não acredito que tudo está me levando a entrar nesse jogo. Primeiro, faria isso para acompanhar a Asuna, agora, nosso chefe diz que quer nós dois dentro do jogo.

- Os outros 5 pensam que é mera espionagem corporativa, mas há coisas mais importantes em questão. Tenho um contato na polícia que me pediu um favor. Há duas semanas, receberam uma denúncia de um funcionário da Sigmadot Inovations, dizendo que houve sabotagem no sistema Infinity, e que os servidores não estão mais sob controle da corporação. Não existem evidências de que o programa tenha sido sabotado, mas eles afirmam que perderam totalmente o controle. Também não há sinais de invasão nas instalações deles, mas há rumores de que foi um ex-empregado da Sigma. Supostamente, ele se aproveitou do acesso que tinha ao sistema e o hackeou bem antes de se demitir. - diz Ishikawa.

- Então o sistema de Universe Online está sendo gerenciado por um desconhecido? - pergunto.

- Alguns rumores apontam alguém chamado Ichiro Suzuki.

- O que ele fazia na Sigma? E por que se demitiu? Ou talvez seja cúmplice de outra pessoa, um infiltrado. - Asuna disse.

- São apenas rumores. Mas meu contato colocou detetives para investigar o caso. Eventualmente, podem achar provas de que ele está envolvido. - continuou Ishikawa.

- E não vão avisar os jogadores de que algo está errado? - ela perguntou.

- Meu amigo também se preocupa com o risco que os jogadores podem correr. Mas os operadores da Sigma não podem enviar um anúncio pelo jogo, e mesmo a mídia exige alguma credibilidade jornalística para fazer alarde - ao menos os noticiários - e intervenção militar nesse caso está fora de questão. Mas se encontrarem provas suficientes, podem acabar declarando emergência nacional e até alertar outras nações onde o jogo já está em circulação. É por isso que nossa ajuda é necessária. - explicou o CEO.

- O que quer que a gente faça, então? - questionou minha noiva.

- Investiguem. Juntem o máximo de informação técnica possível de dentro do jogo. Como engenheiros, talvez possam encontrar algum mecanismo dentro do jogo que permita rastrear quem está fazendo isso. - concluiu ele.

- E quanto aos riscos dessa investigação? - perguntei, ansioso.

- Nós valorizamos nossos funcionários. Vamos enviá-los lá com uma réplica do Infinity elaborada aqui mesmo, na Mecaphial. O console estará totalmente sob controle, e serão supervisionados aqui 24 horas por dia. - assegurou.

- O que os outros farão lá? - perguntei.

- Basicamente, te dar apoio, todas as informações que coletarem serão reportadas a vocês. Vocês sempre foram jogadores de destaque, não? Ouvi falar que você foi aquele que derrotou Sword Art Online. - ele me olha como se eu fosse um herói de histórias em quadrinhos - E você também é famosa, Yuuki-san. - ele desvia o olhar para Asuna - Não só foram os jogadores mais fortes, mas também os estudantes mais brilhantes. Foram os dois primeiros de sua classe na universidade, certo? É um currículo e tanto o que vocês dois têm. Isso sempre garante muitas recomendações. Fiquei admirado de recusarem a RECT Progress, mas feliz também.

Quando nos formamos, Shouzou nos chamou para trabalhar na RECT, mas Asuna não quis. Principalmente depois do que houve com Sugou e do que ele fez a ela, jamais aceitaria. Eu olho para ela, parece perturbada, provavelmente se lembrando daqueles momentos terríveis em ALO.

- E quanto ao seu amigo na polícia, vai nos apresentar a ele? - pergunto, quase como se impusesse uma condição.

- Pode ser feito, se quiser. Então, posso contar com vocês?

- Aceitamos. - disse Asuna, resoluta, como se tivesse pesado as circunstâncias por um longo tempo. Assenti em concordância, concluindo que faríamos isso de qualquer forma.

- Excelente. Podem começar amanhã?

- Se isto ajuda. - confirmei.

- Ótimo. E mais uma coisa, não mencionem essa conversa aos outros desenvolvedores. Não tenciono causar pânico desnecessário, principalmente em relação a outra catástrofe com realidades virtuais. Meu amigo estará aqui amanhã antes de logarem, vou apresentá-los na ocasião.