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   Ester passou o restante do dia na faculdade entre aulas e visitas à biblioteca iniciando as pesquisas para os vários trabalhos que já haviam sido solicitados. Sempre fora aplicada nos estudos ficando em primeiro lugar em alguns concursos que disputou; inclusive as olimpíadas de matemática. Brilhante nos estudos, porém com uma vida social morna, para não dizer quase inexistente. Namorava Erik até algumas horas atrás, um rapaz bonitinho que conheceu no grupo de jovens da igreja que frequentava com a família. Aquele nunca foi um amor arrebatador daqueles que deixam o coração acelerado e as pernas bambas; foi um pouco mais do que uma paixão criada pelos pais de ambos. Ester, sempre muito tímida, não notava os olhares mais cobiçosos dos rapazes da cidade.

Dotada de uma beleza incomum, uma mistura de negro com europeu, um tom de pele cor de oliva, grandes olhos verdes e cabelos negros ondulados, com cinquenta e sete quilos distribuídos em um metro e sessenta e cinco de altura. Obstinada nas suas escolhas, almejava retornar para Rio Claro e abrir o seu próprio escritório de advocacia, mas, para isso acontecer, estava ciente que foco e determinação eram alguns dos ingredientes para o sucesso, e esses até o momento ela os tinha de sobra.

Faltando pouco para às dezoito horas, Ester guardou suas anotações, dois livros locados na biblioteca, e seguiu para estação do metrô. O tempo estava fechado com muitas nuvens, logo uma forte chuva cairia na cidade. Nessa época do ano, março, essas chuvas no período da tarde são comuns em São Paulo deixando a cidade em um completo caos. Precisava ser rápida se quisesse chegar antes da tempestade cair.

Próximo ao pensionato, parou em uma padaria local, agradável, bastante frequentada pelos moradores do bairro, para fazer um lanche e comprar algumas guloseimas para o café da manhã. Permaneceu um tempo no balcão avaliando as opções; as tentações eram muitas e a fome estava grande. Sentou-se em uma mesa nos fundos da padaria e, enquanto devorava um Cheese Burguer com batatas fritas, quase gemendo entre uma mordida e outra, uma moça solicitou compartilhar a mesa, pois o local se encontrava lotado. Ester prontamente aceitou e as duas iniciaram uma conversa agradável com muitas afinidades, inclusive por ambas estarem morando no mesmo pensionato. A moça se chamava Camila; loira com olhos castanhos, baixinha e muito falante; tinha vinte e um anos, a mesma idade de Ester. Natural de Itu, a moça estava em São Paulo cursando o primeiro semestre de publicidade e propaganda na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

– Então você é de Rio Claro? – perguntou Camila demonstrando muito entusiasmo. Ester meneou com a boca cheia de batatas fritas. – Puxa, ainda não conheço, mas espero um dia conhecer. Sabe, apesar de ter nascido em Itu, eu não vivo sem São Paulo. Eu adoro a badalação daqui, a sua diversidade. Não me vejo morando em outro lugar que não seja São Paulo. Meus pais querem... Aliás, querem não, só faltam me obrigar a morar em Itu porque é lá que estão meus irmãos, eles, e tudo mais. Porém eu nunca tive está pretensão de morar com eles, sabe. E eu acho que isso é desde que eu era criança e brincava de boneca. Eu sempre criava um mundo independente para elas.

Ester sorriu daquele jeito desinibido da moça. Camila não parava e parecia uma necessidade falar um pouco da sua vida. O seu lanche já estava frio, e algumas moscas já cercavam, Camila apenas sacudia as mãos para espantá-las.

– Então você veio para São Paulo para ficar de vez? – perguntou Ester que acabava de terminar seu lanche limpando a boca com um lenço de papel, tirando as mechas da face para ouvir Camila.

– Sim. O pensionato é só por um tempo. Meus pais têm um apartamento na vila Mariana que meu pai herdou de meus avós, estava todo este tempo sendo alugado, e você sabe como são inquilinos, depredam tudo. Parece que fazem isso de propósito.

– E você vai morar por lá?

– Sim. Só estou terminando acabar a reforma e, ah, está ficando linda, você não tem noção do quanto. A decoração está ficando do jeito que eu idealizei, e olha que sou muito enjoada, sou bastante exigente. Meu pai teve que chamar uns dez decoradores para poder deixar meu quarto como eu queria quando ainda morava com eles. Eu Sempre quis um lugarzinho só meu, onde eu pudesse chamar meus amigos, fazer festa americana, uma guerra de travesseiros, essas coisas.

Nove Meses Para MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora