Durante duas semanas, Roger não teve mais notícias da gestante misteriosa. E, o fato de estar supostamente livre daquilo, o deixava mais aliviado e até mesmo animado para aproveitar a festa de quinze anos de sua filha Brenda que seria no sábado. A única informação que tinha da festa, era o exorbitante valor que teve de desembolsar para custeá-la e o local de escolha para o evento, um salão elegante no bairro do Morumbi. Jennifer e Brenda ficaram à frente da organização, assessoradas por uma equipe de cerimonialistas, caríssimas por sinal. Esse suspense trazia um certo receio para Roger dada a fase dark rebelde que a filha estava passando.No dia da festa, a casa estava agitada, cabeleireiros e maquiadores entravam a todo o instante, a Roger só restava aguardar para descobrir as surpresas que aquela noite traria. Vestiu o seu smoking italiano preto e ficou esperando as mulheres da casa bebendo uma dose do seu melhor whisky escocês na sala. Jeniffer foi a primeira a aparecer e estava lindíssima em um vestido frente única lilás , em seguida veio Beatriz com um modelo princesa rosa pink com tranças no cabelo, uma boneca, pensou Roger. Na sequência surgiu a aniversariante usando um curtíssimo vestido preto, saltos altíssimos e uma maquiagem tão carregada que a deixou cinco anos mais velha. Não era pra ser tudo branco angelical, Roger pensava abismado olhando para a sua filha. Contou mentalmente até dez para não ter que brigar com ela e acabar com a festa. Bebeu o restante do whisky em um só gole, deixou o copo no bar e ofereceu a mão para Jennifer a fim de seguirem para a festa.
O local já estava bastante movimentado dada a quantidade de veículos congestionando a rua. Roger entregou seu carro ao manobrista e de braços dados com Jennifer entrou na festa. O salão pouco iluminado estava todo decorado nas cores preta e roxo, ao fundo uma pequena pista de dança embalava ao som de musicas da geração rebelde da filha, meninas com vestidos tão curtos quanto o dela. O ambiente estava mais para um velório chique, se é que isso existe, do que para uma festa de quinze anos. Roger lançou um olhar questionador para a esposa cuja única resposta foi um erguer de ombros como quem diz" Não tive escolha".
Familiares e amigos chegavam a todo instante, e, para Roger, o jeito era interagir com os convidados e fingir que toda aquela decoração fúnebre era mais um modismo da juventude. E assim Roger e Jeniffer permaneceram por um bom tempo circulando juntos pelas mesas cumprimentando os convidados.
Algum tempo depois, o jantar foi servido, à francesa, para evitar aquelas longas filas de pessoas famintas aguardando para se servir. Após o jantar, os convidados foram informados pela cerimonialista que uma performance seria realizada pela aniversariante e suas amigas. Roger aguardou pelo pior, manteve a aparência impassível e esperou qual seria a novidade agora. Brenda e mais duas amigas dançaram com esmero a coreografia da música Single Ladies de Beyoncé, ao final foram muito aplaudidas por todos no salão, inclusive por Roger que tambem adorou a apresentação das meninas. Chegando o momento dos parabéns, a família ficou junta, todos de mãos dadas, o exemplo de familia tradicional, os convidados permaneceram em seus lugares. Após uma sequência de fotos em família, deu-se o início oficial ao baile com a presença de um Dj muito conhecido na noite paulistana.
Tudo parecia bem, Brenda dançava feliz com as amigas, Beatriz brincava com alguns primos, enquanto isso, Roger e Jennifer conversavam animados com alguns amigos. Em um dado momento, Jennifer pediu licença para ir ao toalete, a esposa de um dos casais que estavam na mesa decidiu acompanhá-la. Tiveram que esperar por algum tempo, pois o banheiro estava lotado. Na saída, Jennifer esbarrou em alguém que vinha no sentido contrário, virou para se desculpar e observou que se tratava de uma jovem gestante. A amiga seguiu para à mesa e, assim que se acomodou, Roger perguntou por Jennifer. A amiga contou que Jennifer ficou conversando com uma jovem gestante na saída do banheiro. Roger por pouco não se engasgou com um quitute. Perguntou como era essa jovem e pela descrição soube que se tratava da gestante perseguidora. Sem mais nada a dizer, partiu em direção ao banheiro. Encontrou Jennifer no caminho e a questionou sobre a sua demora e essa lhe explicou que havia esbarrado em uma jovem gestante.
– E como era essa moça? – perguntou Roger, afoito.
– É... bom...muito bonita, com traços delicados e com longos cabelos loiros.
– E o que vocês tanto conversavam? – insistiu Roger sem perceber que aquilo traria desconfianças a esposa.
– Nada de mais. Apenas sobre a festa, de como ela estava elegante, essas coisas.
– Só isso?
– Foi. Mas a achei bastante familiar. Eu já vi aquele rosto em algum lugar, só não lembro de onde. – disse agora uma Jennifer pensativa. – Talvez outra hora me venha na memória.
Notando a desconfiança da esposa em meio a tantas perguntas, Roger dissimulou dizendo:
– Bom, deve ser só impressão sua. Vamos voltar pra nossa mesa. – Roger disfarçou dando o assunto como encerrado.
Mas acontece que não estava encerrado. O casal voltou para à mesa tentando retomar a animada conversa com os amigos. Ambos estavam agitados. Jennifer não tirava da cabeça os questionamentos de Roger sobre a mulher gestante. Por que tantas perguntas, perguntando até mesmo as descrições da mulher? Para Jennifer, alguma coisa estava errada. E se a mulher gestante fosse uma amante do esposo carregando em seu ventre um filho seu? Sim, era isto. Tudo fazia sentido. Tentou, em meio a músicas eletrônicas e o olhar de felicidade da filha, se lembrar de onde tinha visto aquele rosto. Um rosto meigo, simpático, porém enigmático. Lembrou quando a questionou se estava acompanhada. "Sim", disse a mulher sem entrar muito em detalhes. Na verdade, a conversa se concentrou mais sobre a festa. Averiguou o salão apenas com olhares para ver se encontrava a mulher, porem não a viu mais.
Para Roger, a festa havia acabado, mas precisava manter as aparências especialmente para Jennifer não notar ainda mais a sua aflição. Acontece que não conseguia disfarçar, andando de um lado para o outro, olhando reiteradamente o relógio e coçando a cabeça. Chegou a ir até a sacada onde tinha uma visão panorâmica da rua. Olhou para todos os lados, mas não encontrava a misteriosa mulher gestante loira. Estava perturbado para descobrir a sua identidade e acabar de uma vez por todas com essa aflição. A situação estava se tornando perigosa para ele e sua família, pois não sabia quais eram as reais intenções dessa mulher, uma vez que nunca falou diretamente com ele.
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Nove Meses Para Matar
Mistero / ThrillerDeterminada a se tornar advogada, a jovem Ester deixa a segurança de sua família na pequena cidade de Rio Claro, no interior de São Paulo, para cursar direito na renomada Universidade do Largo do São Francisco, na capital paulista. Com pouco dinheir...