Capítulo 33

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       Durante duas semanas, Roger não teve mais notícias da gestante misteriosa. E, o fato de estar supostamente livre daquilo, o deixava mais aliviado e até mesmo animado para aproveitar a festa de quinze anos de sua filha Brenda que seria no sábado. A única informação que tinha da festa, era o exorbitante valor que teve de desembolsar para custeá-la e o local de escolha para o evento, um salão elegante no bairro do Morumbi. Jennifer e Brenda ficaram à frente da organização, assessoradas por uma equipe de cerimonialistas, caríssimas por sinal. Esse suspense trazia um certo receio para Roger dada a fase dark rebelde que a filha estava passando.

No dia da festa, a casa estava agitada, cabeleireiros e maquiadores entravam a todo o instante, a Roger só restava aguardar para descobrir as surpresas que aquela noite traria. Vestiu o seu smoking italiano preto e ficou esperando as mulheres da casa bebendo uma dose do seu melhor whisky escocês na sala. Jeniffer foi a primeira a aparecer e estava lindíssima em um vestido frente única lilás , em seguida veio Beatriz com um modelo princesa rosa pink com tranças no cabelo, uma boneca, pensou Roger. Na sequência surgiu a aniversariante usando um curtíssimo vestido preto, saltos altíssimos e uma maquiagem tão carregada que a deixou cinco anos mais velha. Não era pra ser tudo branco angelical, Roger pensava abismado olhando para a sua filha. Contou mentalmente até dez para não ter que brigar com ela e acabar com a festa. Bebeu o restante do whisky em um só gole, deixou o copo no bar e ofereceu a mão para Jennifer a fim de seguirem para a festa.

O local já estava bastante movimentado dada a quantidade de veículos congestionando a rua. Roger entregou seu carro ao manobrista e de braços dados com Jennifer entrou na festa. O salão pouco iluminado estava todo decorado nas cores preta e roxo, ao fundo uma pequena pista de dança embalava ao som de musicas da geração rebelde da filha, meninas com vestidos tão curtos quanto o dela. O ambiente estava mais para um velório chique, se é que isso existe, do que para uma festa de quinze anos. Roger lançou um olhar questionador para a esposa cuja única resposta foi um erguer de ombros como quem diz" Não tive escolha".

Familiares e amigos chegavam a todo instante, e, para Roger, o jeito era interagir com os convidados e fingir que toda aquela decoração fúnebre era mais um modismo da juventude. E assim Roger e Jeniffer permaneceram por um bom tempo circulando juntos pelas mesas cumprimentando os convidados.

Algum tempo depois, o jantar foi servido, à francesa, para evitar aquelas longas filas de pessoas famintas aguardando para se servir. Após o jantar, os convidados foram informados pela cerimonialista que uma performance seria realizada pela aniversariante e suas amigas. Roger aguardou pelo pior, manteve a aparência impassível e esperou qual seria a novidade agora. Brenda e mais duas amigas dançaram com esmero a coreografia da música Single Ladies de Beyoncé, ao final foram muito aplaudidas por todos no salão, inclusive por Roger que tambem adorou  a apresentação das meninas. Chegando o momento dos parabéns, a família ficou junta, todos de mãos dadas, o exemplo de familia tradicional, os convidados permaneceram em seus lugares. Após uma sequência de fotos em família, deu-se o início oficial ao baile com a presença de um Dj muito conhecido na noite paulistana.

Tudo parecia bem, Brenda dançava feliz com as amigas, Beatriz brincava com alguns primos, enquanto isso, Roger e Jennifer conversavam animados com alguns amigos. Em um dado momento, Jennifer pediu licença para ir ao toalete, a esposa de um dos casais que estavam na mesa decidiu acompanhá-la. Tiveram que esperar por algum tempo, pois o banheiro estava lotado. Na saída, Jennifer esbarrou em alguém que vinha no sentido contrário, virou para se desculpar e observou que se tratava de uma jovem gestante. A amiga seguiu para à mesa e, assim que se acomodou, Roger perguntou por Jennifer. A amiga contou que Jennifer ficou conversando com uma jovem gestante na saída do banheiro. Roger por pouco não se engasgou com um quitute. Perguntou como era essa jovem e pela descrição soube que se tratava da gestante perseguidora. Sem mais nada a dizer, partiu em direção ao banheiro. Encontrou Jennifer no caminho e a questionou sobre a sua demora e essa lhe explicou que havia esbarrado em uma jovem gestante.

– E como era essa moça? – perguntou Roger, afoito.

– É... bom...muito bonita, com traços delicados e com longos cabelos loiros.

– E o que vocês tanto conversavam? – insistiu Roger sem perceber que aquilo traria desconfianças a esposa.

– Nada de mais. Apenas sobre a festa, de como ela estava elegante, essas coisas.

– Só isso?

– Foi. Mas a achei bastante familiar. Eu já vi aquele rosto em algum lugar, só não lembro de onde. – disse agora uma Jennifer pensativa. – Talvez outra hora me venha na memória.

Notando a desconfiança da esposa em meio a tantas perguntas, Roger dissimulou dizendo:

– Bom, deve ser só impressão sua. Vamos voltar pra nossa mesa. – Roger disfarçou dando o assunto como encerrado.

Mas acontece que não estava encerrado. O casal voltou para à mesa tentando retomar a animada conversa com os amigos. Ambos estavam agitados. Jennifer não tirava da cabeça os questionamentos de Roger sobre a mulher gestante. Por que tantas perguntas, perguntando até mesmo as descrições da mulher? Para Jennifer, alguma coisa estava errada. E se a mulher gestante fosse uma amante do esposo carregando em seu ventre um filho seu? Sim, era isto. Tudo fazia sentido. Tentou, em meio a músicas eletrônicas e o olhar de felicidade da filha, se lembrar de onde tinha visto aquele rosto. Um rosto meigo, simpático, porém enigmático. Lembrou quando a questionou se estava acompanhada. "Sim", disse a mulher sem entrar muito em detalhes. Na verdade, a conversa se concentrou mais sobre a festa. Averiguou o salão apenas com olhares para ver se encontrava a mulher, porem não a viu mais.

Para Roger, a festa havia acabado, mas precisava manter as aparências especialmente para Jennifer não notar ainda mais a sua aflição. Acontece que não conseguia disfarçar, andando de um lado para o outro, olhando reiteradamente o relógio e coçando a cabeça. Chegou a ir até a sacada onde tinha uma visão panorâmica da rua. Olhou para todos os lados, mas não encontrava a misteriosa mulher gestante loira. Estava perturbado para descobrir a sua identidade e acabar de uma vez por todas com essa aflição. A situação estava se tornando perigosa para ele e sua família, pois não sabia quais eram as reais intenções dessa mulher, uma vez que nunca falou diretamente com ele.

Nove Meses Para MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora