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         Camila pincelava a face com reiterados olhares para o celular. Na cômoda, havia diversos cosméticos e um enorme espelho retangular. Pensou, naquele momento, em Ester. Como a garota havia ficado fria, com poucas palavras pelo o celular. Às vezes apenas visualizava as suas mensagens e, quando a respondia, eram apenas por monossílabos. Sabia que o responsável pela a sua mudança era o professor e agora patrão. Roger estava lhe deixando doida, provavelmente fazendo de tudo com ela na cama. Ester, empolgada com aquela coisa nova na vida, deixava de lado tanto os amigos como os antigos costumes. Mas aquilo até que viera como um santo remédio, pois por diversas vezes Ester se equilibrava no muro da depressão. Estava mais solta, se inserindo na vida social, se interagindo mais com as pessoas. "É o sexo que está mudando a sua vida, o sexo com aquele idiota", pensava Camila pintando os lábios. Vestiu uma bermuda jeans e uma camiseta expondo o umbigo e saiu rumo ao pensionato.

Eram por volta das dezessete e trinta. Os elevados edifícios proporcionavam agradáveis sombras pelo bairro nobre da cidade. Próximo ao pensionato, assim que desceu do táxi, seu celular tocou alto chamando-lhe atenção. Tirou-lhe da bolsa pensando ser Ester, mas vira que se tratava de um ex namorado que já pensava ter desistido dela. Deixou tocar guardando-lhe de volta na bolsa. Na portaria do pensionato, Camila conversou amigavelmente com o senhor Antônio que lhe oferecera o seu tradicional chá de sidreira da noitinha. Camila aceitou e comeu com deliciosos biscoitinhos de cenoura feitos pelo o próprio senhor. Conversaram coisas banais do tipo como estava o tempo e de algumas receitas culinárias.

Quando dera por quase vinte, em ponto, Camila questionou o senhor Antônio como andava Ester. Antônio franziu o cenho, num evidente gesto de insatisfação, e disse que já nem conhecia mais a moça. Estava indiferente, quando saía para a faculdade já nem lhe desejava bom dia e só chegava tarde da noite, sempre conduzida por um belo carro prata. Rapidamente, Camila ligou o caso com o famigerado doutor Roger. Ela ainda estava com ele e pelo o jeito estava levando o caso com o adúltero a sério demais.

Camila matou a saudade com algumas amigas da casa e quando o relógio marcou vinte e trinta, pegou suas coisas e desceu as escadas para voltar para casa. Ainda era cedo, verdade, mas Camila teve a sorte de encontrar Ester no hall de entrada. Difícil definir a reação de Ester, não foi de surpresa nem de espanto. Tratou Camila como pelo o aparelho celular e, pelo o semblante sadio que trazia na face, não aparentava sofrer nenhum tipo de problema. Ester vestia uma blusa super decotada e uma saia curta, transparente, sua calcinha rosa era visível adentrando no bumbum.

– Ester! Que bom ver você.

– Oi, Camila. Igualmente.

– Como vai a vida? – perguntou Camila puxando assunto.

– Tudo bem. Muitas tarefas, tanto no trabalho como na faculdade. Estou quase sem tempo pra nada.

– Eu sei como são essas coisas.

Ester fitou Camila desdenhosamente, dos pés a cabeça, e disse:

– Ah, você não sabe, não! Você sempre teve tudo aos seus pés. No meu caso tive que ir buscar.

Camila ficou perplexa com a resposta da amiga. Sim, tinha tudo que queria. Seus pais lhe deram um apartamento luxuoso, como disse à Ester, e tinha o tanto de dinheiro que quisesse sacar no banco. No entanto, não esperava tanta grosseria por parte da amiga que sempre fora tão dócil com ela.

Percebendo que se excedeu um pouco, Ester continuou:

– Sabe, ando tão atarefada como te disse, que o estresse está me tirando do sério estes dias, e às vezes digo coisas sem pensar. – sorriu como que tentado apaziguar o modo grosseiro que foi com a amiga. Mas Camila não deixou por barato.

Nove Meses Para MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora