Capítulo 20

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Roger deixou a cidade de Santos rumo a São Paulo no final da tarde de domingo depois de ter passado horas à procura de Ester com o médico incompetente e sua auxiliar. Como um plano tão bem arquitetado, como pode ter dar errado, pensava. Por vezes socou o volante enquanto dirigia de tanta raiva. Como advogado sabia que o sumiço de Ester rapidamente seria notado e uma queixa, dada por algum familiar ou amigo, logo seria ocorrido. O escritório, com absoluta certeza, seria no mínimo visitado por policiais. Logo agora que o seu nome estava em vários veículos de comunicação em função do grande caso que estava defendendo. Merda, merda, merda!, gritou várias vezes.

A polícia, como supusera Roger, foi acionada dois dias depois do sumiço de Ester. O sr Frankie e sua esposa se encontravam perturbados, pois viam aquelas crianças como filhos. Ester tornou-se uma moça muito rebelde nos últimos dias, era verdade, mas nem por isso estimavam carinho por esta. Comunicaram os pais que largaram tudo em Rio Claro para viajar para São Paulo.

- Tudo o que ela me disse, detetive Sherman, - detetive responsável pelo caso. - era que passaria o final de semana fora da cidade, sem entrar em detalhes. Ela já tinha feito isso outras vezes, e sempre nos alertava dizendo que chegaria no dia tal. Porém faz dois do prazo que nos deu, por isso nossa preocupação. - dizia dona Matilde, dona do pensionato.

O detetive Sherman escutava os fatos pontilhando seu ralo bigode. Era um sestro que tivera desde que aqueles pelos pubianos cresceram na adolescência. Era um homem esbelto de cabelos mal tratados e camisas sempre desabotoadas. Tinha um nariz fino e pontiagudo e não média nem um metro e setenta. Quem não conhecia aquele sujeito, diria que se tratava de mais um policial preguiçoso que não tirava a bunda da cadeira, comendo biscoitos recheados, tomando café de meia em meia hora e fazendo piadinhas machistas com as prostitutas pelos corredores da delegacia. Falava sempre na terceira pessoa e os dedos da mão direita fediam a tabaco.

- Quais as pessoas mais próximas de Ester, às que ela sempre mantinha contato?

- Apenas as companheiras de quarto e uma moça, que também morava conosco, a... a...

- Camila. - disse o porteiro Antônio, lembrando a pobre idosa.

- Isso. É tambem uma boa garota, posso confirmar isso.

- E aqueles tipos de amizades, do tipo sair para baladas, festas, essas coisas?

- Festas não. Tinha a de confidências, como esta Camila. - disse o porteiro.

- Confidências? Bom, muito bom. Por acaso vocês têm o atual endereço da moça.

- Temos sim. - arguiu a sra Matilde. - Ela dos deixou pensando nas possíveis correspondências que chegariam aqui. Vou pegá-lo.

- O que mais o sr tem a dizer, sr Antônio? - inquiriu Sherman, tentando extrair mais alguma coisa do porteiro que se encontrava solícito e disponível.

- Bom, deixe-me ver. Acho que só isso... - deu uma pausa. - Ah! - exclamou com algo que vinha à cabeça. Sherman se empolgou.

- Nos últimos dias ela estava chegando com um sujeito que desconheço o rosto. Só o que me vem é o seu Corolla vinho.

- Então ela andava com um sujeito? Ou, bom, pode ser também de outro sexo. Mas vamos pelo óbvio. A moça era heterossexual, homossexual?

- Essa pergunta é indiscreta. Não sei lhe responder.

- Perdoe -me, senhor. Mas alego que não é irrelevante. Nós precisamos de todas as informações possíveis.

- Sinceramente, não sei. Não posso detalhar sobre a sexualidade desta moça. Até porque ela era bem fechada.

Nove Meses Para MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora