Nove Meses Para Matar

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Ester nunca imaginou que conciliar faculdade com estágio fosse lhe causar tamanho desgaste. Quando retornava para o pensionato no final de cada dia, revisava as matérias do curso na própria cama para aliviar o desconforto nas pernas doloridas pelas longas caminhadas e pelo uso obrigatório de salto no estágio. O tempo também se tornou escasso para ela, as conversas com Camila eram apenas por mensagens de voz para não perder tempo digitando e poder realizar outras tarefas enquanto conversam.

Não retornou para Rio Claro desde que havia se mudado para a capital, nem mesmo no feriado de Páscoa ou dia das mães. Os pais além de saudosos estavam aborrecidos com Ester, pois a distância entre as cidades era de três horas apenas. O único contato que mantinha com a família eram as ligações aos sábados pontualmente às dezoito horas que duravam em média vinte minutos.

Ciente que a sua crença também tinha sido negligenciada, Ester valeu-se de um dia atípico na Universidade em que as aulas foram encerradas antes do horário costumeiro, por conta de uma paralisação dos professores por melhores condições de trabalho, para conhecer a Catedral da Sé e ir em busca de auxílio para abrandar a sua alma atormentada. Contemplou em silêncio as belezas da Catedral construída em estilo neogótico enquanto aguardava a sua vez para confessar os seus pecados. Permaneceu de joelhos no confessionário por longos minutos, saiu com o coração aliviado, pronta para cumprir sua penitência e assim expiar as suas faltas.

Encaminhou-se para o escritório de advocacia com o propósito de encerrar a sequência de assédios nem que para isso fosse preciso dar queixa a OAB do Dr. Roger. Porém, todo o discurso ensaiado exaustivamente por ela foi esquecido no instante em que sentiu as conhecidas e deliciosas mãos apertarem os seus seios por trás beliscando os mamilos pela camisa de seda, enquanto preparava um chá de camomila na copa. Fechou os olhos pedindo perdão a Deus pelo fogo que queimava a pele a consumindo de desejo. Por instinto, empinou o bumbum para sentir a dureza do membro do homem que a estava levando direto para o inferno. Por um momento imaginou ter escutado a voz do pároco da Catedral que há poucas horas atrás a havia aconselhado. Só podia ser um aviso dos céus. Pensou.

Desvencilhou-se do contato íntimo empurrando o advogado com brutalidade retornando para o seu pequeno espaço de trabalho derrotada pela sua fraqueza. Contudo, Roger a seguiu trazendo nas mãos a xícara fumegante ainda com o saquinho de chá e lhe informando que em 30 minutos a estaria aguardando na garagem para que ela o auxiliasse na procura de alguns documentos em sua residência. Deixou a xícara sobre a mesa saindo sem esperar resposta.

Ester tremia da cabeça aos pés, sabia que nada a salvaria de se entregar para aquele homem, os dados foram lançados no momento em que os olhares se cruzaram na faculdade, o destino pregou uma peça os colocando juntos diariamente. Xeque mate para o doutor, o rei venceu.

Recomposta, Ester seguiu para a garagem, Roger a aguardava dentro do carro. Nem uma palavra foi dita por eles, somente o som do Bolero de Ravel que preenchia o ambiente. Pela sequência de placas, Ester deduziu que seguiam para o bairro de Moema, bairro conhecido pelas residências de classe média alta. Em uma rua bastante arborizada, com nome de pássaro, o carro desceu a rampa para o subsolo de um edifício que, pela fachada, parecia luxuoso. Em um canto pouco iluminado, Roger estacionou o carro, Ester observou outros dois carros igualmente elegantes nas vagas adjacentes. Ainda em silêncio, Roger destravou o carro e desceu seguido por Ester apreensiva pelo que viria a seguir. Entraram em um elevador tão bonito quanto o do escritório, porém exclusivo, notara ela, pois Roger o acionou com a leitura biométrica do polegar a cobertura.

O apartamento era de fato bastante arejado, com uma adega recheada de diversas bebidas, do Martini ao Bacardi, poltronas confortáveis com almofadas que cheiravam a rosas, uma estante com diversos livros e revistas de publicidade, o aroma delicioso que exalava o apartamento deixou Ester excitada.