Nove Meses Para Matar

Capítulo 15

      Envolvida em pensamentos, Ester mal escutou o que os professores disseram nas aulas de terça-feira, somente o corpo permanecia no auditório, a mente ficara nas indagações sobre o futuro. Na saída, trocou poucas palavras com algumas colegas a respeito dos trabalhos a serem entregues naquela semana, mas sem dar a devida atenção ao assunto. Manteve o celular desligado desde a noite de domingo, uma medida cautelar para seu traiçoeiro coração, e para não se sentir tentada a falar com o Roger. Uma bobagem, ela sabia, pois teria que encontrá-lo em algum momento na faculdade ou no escritório.

Como de costume, chegou um pouco mais cedo no estágio levando consigo frutas e barras de cereais para o lanche da tarde. Precisava cuidar da alimentação por conta da gravidez. Encontrou Paulo almoçando na copa e acabou fazendo companhia a ele escutando as histórias hilárias do rapaz até o início do expediente.

Sua mesa de trabalho continuava como a deixou na sexta-feira, contudo quando abriu o computador, quatro recados escritos em post it estavam colados na tela com as seguintes mensagens: "Cadê você?", "Por que não atende as minhas chamadas?", " Está doente?", "Venha imediatamente à minha sala". Em um outro momento, os olhos estariam brilhando com tanta atenção, sairia correndo ao encontro do seu amado, mas não agora, lembrava da maneira indiferente como foi tratada por ele na sexta-feira e do exame de gravidez escondido na bolsa. Sua vontade era sim de correr, mas para longe dele. Ignorou as mensagens jogando-as no lixo e iniciou a sua tarde de trabalho. Enquanto procurava por dois processos no arquivo o seu telefone da mesa tocou apressou-se para atende-lo a tempo, era Paulo avisando que o Dr .Roger a estava a aguardando com urgência na sua sala. Respirou fundo e seguiu para a sala do chefe ciente que não poderia fugir desse encontro por mais tempo. A porta estava entreaberta mesmo assim deu duas batidas antes de entrar. Roger estava sentado com os braços cruzados em frente ao corpo e com os olhos cravados nela. Permaneceu em pé em um duelo silencioso de olhares com o amante. O clima tenso entre eles foi quebrado pelo tom autoritário do advogado a questionando,

– Por que não atendeu as minhas chamadas, Ester ? Não foi a faculdade nem veio ao estágio ontem! O que está havendo?

Ester o respondeu de forma evasiva

– Estive acamada esse final de semana, com dores na cabeça e no corpo. – explicou a ele

– Muito bem, então, mas agora, que está aqui, chegue mais perto para eu lhe dar o que tanto gosta e logo ficará boa novamente. – disse com um leve deboche na voz.

Não era isso que Ester esperava escutar, em nenhum momento perguntou se ela estava melhor ou se precisava de alguma coisa, ignorou o motivo da sua ausência no dia anterior interessado somente em satisfazer os seus desejos. Ester sentiu um aperto no peito seguido por uma vontade enorme de chorar, e reunindo o pouco que lhe restava de dignidade respondeu com petulância ao amante

– Desculpe, mas não quero e não estou em condições, se é somente isso que deseja estou retornando para a minha sala a fim de continuar o meu trabalho, com licença. – e saiu fechando a porta.

Roger ficou estático olhando para a porta fechada sem entender a atitude da amante. Sabia que havia algo errado com ela, mas não estava interessado em descobrir, tinha assuntos mais importantes a tratar.

No final da tarde o office boy do prédio entregou ao escritório um belo convite em papel texturizado com o remetente da OAB destinado ao escritório Bittencourt e Callamar advogados associados. O convite e outros documentos foram entregues pessoalmente por Paulo ao Dr. Roberto, o único dos sócios ainda presente no escritório naquele horário. Todos os anos os sócios compareciam à festa de anuência dos novos advogados, somente os grandes escritórios participavam por se tratar de uma festa muito elegante e restrita. Como o convite se estendia a todos os membros do escritório, Laura, a antiga secretária, comparecia todos os anos acompanhada pelo esposo.