Capítulo 38

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       O trânsito não era mesmo os dos melhores naquela manhã de terça feira. Sherman seguia Roger de uma certa distância sempre com dois ou três carros a sua frente para não levantar suspeita. Assim que o advogado deixou a advocacia, o detetive saiu com seu Corsa. Roger parecia com pressa sempre acionando a buzina para que os veículos saíssem do seu caminho, aquilo deixou Sherman mais empolgado com a perseguição. Adorava aquilo, talvez por ser fã de perseguições policiais. Sempre quando tinha tempo assistia vídeos no Yotube.

Tudo parecia correr bem para Sherman, o trânsito pesado o permitia se camuflar entre os carros e não perder Roger de vista, no entanto, no cruzamento da Avenida Nove de Julho com a Avenida Paulista um Fiat Palio azul atravessou o sinal vermelho acertando em cheio a lateral do Pegout prata, carro este posicionado entre o Corolla de Roger e o Corsa de Sherman. Por pouco não houve um grande engarrafamento, Sherman usou o máximo dos quatro pneus carecas para frear o seu carro e não se envolver no acidente enquanto avistava ao longe o elegante Corolla do advogado virar na rua Augusta. Trânsito completamente parado, buzinas soando de todos os cantos, motoristas deixando os seus veículos para se inteirar do ocorrido. Sherman muito irritado fez o mesmo, saiu do seu carro para avaliar a situação e acompanhar os motoristas envolvidos no acidente travarem uma discussão acalorada sobre a culpabilidade da infração. Por fim, foi necessária a sua intervenção como representante da lei e da ordem a fim de apaziguar os ânimos exaltados.

Duas horas se passaram até o trânsito ser liberado novamente, Sherman já havia passado por todas as etapas, indo da irritação à calma, do desespero à resignação, toda a empolgação com a excitante perseguição foi se esvaindo à medida que o relógio andava.

Mesmo acreditando ter perdido o rastro do escorregadio advogado, Sherman seguiu a sua última pista virando na rua Augusta. Dirigia devagar olhando os carros estacionados ao longo da rua e averiguando os poucos estacionamentos privados existentes no local. Quem sabe com um pouco de sorte o encontraria ali. E foi exatamente em um desses estacionamentos, localizada ao lado de um antigo prédio com característica de abandono que avistou o Corolla. Por impulso adentrou o local com o seu velho Corsa , pensou em aguardar o retorno do advogado mas a curiosidade e o faro de investigador o instigavam a procurá-lo e quem sabe descobrir o que um homem de tão fina estirpe fazia naquela região, e, principalmente, naquele edifício gasto. Novamente fez valer a sua posição inquirido o jovem guardador do estacionamento sobre o destino do dono do Corolla. Embora surpreso com a abordagem do policial, o rapaz, um pouco gago, colaborou indicando o prédio ao lado .
    
                              ***

Roger começou a despertar sentindo uma dor intensa no lado esquerdo da cabeça, um odor fétido, nauseante, preenchia suas narinas. Demorou um pouco para lembrar onde estava e dos momentos que antecederam a perda de consciência. Tentou se mexer, mas em vão. Olhou para os seu braços e viu grossas algemas o prendendo a barras de ferro, nas suas pernas o mesmo, como se estivesse sendo crucificado. Porém, com uma diferença, não estava suspenso preso a uma cruz, mas a barras de ferro deitado em um chão úmido e sujo com as pernas e braços abertos. Suas vestes foram removidas, estava nu e vulnerável. Com dificuldades para enxergar, pois a única luz que iluminava parcamente o ambiente piscava sem parar o deixando ainda mais enjoado do que já estava, apertou os olhos para se proteger e analisar melhor o local. Mirou o ambiente à procura de alguma coisa, encontrou apenas uma cadeira de madeira velha destas usadas em antigas escolas. Tentou gritar por socorro, mas a voz falhava, a boca estava seca, com um gosto ruim. Com muito esforço, conseguiu emitir um som rouco semelhante a um grito, nada aconteceu. Continuava sozinho, preso e desesperado. Não tinha idéia de quanto tempo estava naquela posição, lembrava de ter sido golpeado na cabeça e da ligação para a gestante misteriosa marcando aquele encontro. Uma cilada muito bem articulada o levara àquela situação humilhante. Com dor, raiva e sem poder gritar, começou a movimentar as algemas pelas barras de ferro, o barulho era alto e irritante, mas o ideal para despertar a atenção de alguém que o escutasse. Mesmo sentindo a pele dos punhos ser dilacerada pela fricção das algemas, continuou até a exaustão dos braços amortecidos pelo excesso de movimentos. Quando acreditava estar perdido, preso àquela situação, ouviu passos se aproximarem e uma voz feminina rompeu o silêncio sepulcral do ambiente. Estava a salvo, pensou.

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