–Você parecia muito perturbado hoje à noite, Roger. – disse Jennifer em frente ao toucador deslizando alguns cremes rejuvenescedores de pele.– Perturbado?! – exclamou Roger sentado na beira da cama refletindo sobre a tormenta daquela noite. – Você e suas paranoias.
– Sim. Estava confuso, distante da socialização.
– Impressão sua. A noite, às vezes, é um reflexo do nosso dia, e eu tive um péssimo dia com o caso que estou trabalhando.
– Eu entendo, Roger. Mas não era só isso, algo parecia lhe incomodar, você ficou indiferente quando sentamos na mesa do doutor Callamar. Conheço muito bem você e não sou de me enganar.
Roger estendeu as pernas, fazendo movimentos inarticulados com os pés. Aquilo era uma espécie de exercício que fazia; uma forma de relaxar os membros inferiores, mas para a esposa era como se quisesse disfarçar o tremor das pernas devido aos questionamentos desta. E Jennifer não parava de fazer perguntas sobre a noite, cada palavra proferida pela mulher entrava como um objeto pontiagudo nos ouvidos do marido.
– Talvez se a gente tivesse recusado a generosidade do Roberto, a noite teria tido seus pontos positivos. – disse Roger, dando ênfase à palavra generosidade.
Pelo o espelho, Jennifer o olhou de canto do olho, os pés de galinha, cobertos pelo creme, pareciam agora mais visíveis, o semblante metamorfoseava, a tez enrubescia. Sabia que não era aquele o motivo.
– O que quer dizer? Vocês são sócios!
– Você sabe muito bem que não sou íntimo de Callamar. Somos sócios, sim, mas não amigos de um ir à casa do outro. Ele bate no meu ombro e eu bato no seu, e as coisas andam bem por causa disso; cada um fica no seu canto e tratamos apenas de negócios. Por isso volto afirmar: não devíamos ter aceitado a droga do convite.
– Mas que mal tem em socializar na mesa com desconhecidos?! Estávamos apenas conversando coisas supérfluas, nada que atinja nosso lar e o que criamos.
– Não importa. Eu não gosto.
– Eu não entendo você, Roger, você anda muito diferente!
– Volto a dizer que é impressão sua. Vá dormir, Jennifer. Amanhã acordo cedo.
– Não! Acho que devemos conversar.
– Conversar sobre o quê?! O que mais você quer conversar, Jennifer? Meu dia foi péssimo, já te falei.
– Acho que o problema não era o seu dia, não era o seu sócio, não era a festa, e nem qualquer desculpa que queira dar. O problema era aquela garota, a fogosa de sua secretária.
Os olhos de Roger dilataram de surpresa. Por que a esposa colocava agora Ester como o motivo de seu estresse? Será que estava desconfiada de algo entre os dois? Deixara transparecer aquilo sem perceber? Sentou-se na cama lentamente para fitar a esposa, ler a sua fisionomia ou coisa parecida.
– Não acredito no que está dizendo, Jennifer! Estava demorando para você me jogá-la assim como já me jogou várias mulheres.
– Eu nunca lhe joguei mulher alguma. Muito pelo contrário, é você quem se joga para elas. E isto não é de hoje. Você sempre teve essa reputação, e eu sempre relevei tudo que falavam de você. Queria não acreditar que você era um cafajeste, mas eu sempre quebrava a cara. Minha mão já está em carne viva de tanto pô-la no fogo por você. Vi tudo, Roger. A troca de olhares, o rosto vermelho dos dois, tudo.
– Jennifer, você está alucinada. Bebeu demais, pelo amor de Deus.
– Eu vi tudo, Roger! – berrou a mulher.
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Nove Meses Para Matar
Mistero / ThrillerDeterminada a se tornar advogada, a jovem Ester deixa a segurança de sua família na pequena cidade de Rio Claro, no interior de São Paulo, para cursar direito na renomada Universidade do Largo do São Francisco, na capital paulista. Com pouco dinheir...