Capítulo 21

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      Roger, em nenhum momento, entre o trajeto do prédio até o seu carro, percebeu que estava sendo vigiado. Falava ao celular com o Dr Phillipe sobre a queixa que havia sido feita à polícia do desaparecimento de Ester. Ambos concordaram que era preciso que o médico e sua auxiliar sumissem por um tempo até o caso cair no esquecimento. Roger, então, sugeriu que eles, o médico e a auxiliar, fizessem uma viagem para um outro estado paga por ele mediante um depósito em dinheiro em sua conta. Além disso, ficou acordado que durante esse tempo, Roger o manteria informado sobre o caso, mas que de forma alguma o médico deveria procurá-lo.

O detetive acertou em esperar pelo dono do carro. Naquele curto período, reuniu algumas informações interessantes: o dono do Corolla frequentava o mesmo andar do escritório, parecia ser uma pessoa com boa condição financeira, a julgar pelo carro e as roupas que trajava, mas o que tornou tudo mais interessante foi o por quê de um homem tão elegante estar usando um modelo de celular tão ultrapassado. Sherman fez toda essas anotações no seu caderninho e ainda com discrição fotografou o homem para juntamente com a placa do carro fazer a conferência no banco de dados da polícia.

Antes de seguir para a sua residência, Roger parou em um grande shopping da cidade para fazer o depósito no caixa eletrônico para o médico. Como se tratava de um shopping muito grande e bastante movimentado naquele horário, Roger teve que consultar o painel de informações para encontrar o andar exato do banco que procurava. Naturalmente, havia uma pequena fila no banco que Roger enfrentou com irritação. Chegada a sua vez, depositou o dinheiro em um envelope e dali mesmo fez uma ligação para Phillipe o avisando que a transação financeira havia sido concluída.

Após realizar o depósito, Roger lanchou na praça de alimentação e deixou o shopping rumo ao seu apartamento a fim de preparar as suas malas para o fim de semana em Angra dos Reis, como havia prometido à Jennifer.

O final de semana foi excelente. De helicóptero, a família foi para um badalado resort em Angra. Fizeram muitas atividades juntos e Roger investiu pesado em uma aproximação com a esposa. Não dormiram no mesmo quarto, pois Jennifer ainda tinha algum receio em estar à sós com ele, mas era visível que o clima entre os dois havia melhorado muito pois por diversas vezes caminharam de mãos dadas trocando algumas carícias na companhia das filhas. Retornaram da viagem na segunda-feira após o almoço, uma vez que era feriado nesse dia em São Paulo.

Na terça-feira pela manhã, Roger recebeu no escritório o seu cliente de Ribeirão Preto, o então sr. Laércio Ferreira, que veio à cidade para participar da primeira audiência do seu caso. Após a ida de Roger à fazenda da família Ferreira em Ribeirão Preto, os dois vinham mantendo contato por e-mails e mensagens. O caso tinha um alto grau de dificuldade, pois a parte denunciante havia reunido ao longo dos anos provas consistentes contra o frigorífico Ferreira. O denunciante em questão era Leonardo Santana, um ex funcionário do frigorifico responsável pelo controle da carga que chegava a então empresa. A denúncia dele baseava-se no fato do frigorífico Ferreira estar comprando carnes de abatedouros clandestinos que não possuíam a supervisão de um médico veterinário atestando a saúde dos animais e, por conta disso, o envio de atestados falsificados à Anvisa.

Há aproximadamente um ano, Leonardo Santana foi demitido do frigorífico pelas faltas constantes ao trabalho. Segundo o relato do sr Laércio Ferreira a Roger, após a demissão, Leonardo o procurou em seu escritório para chantageá-lo com algumas provas que ligavam o frigorífico aos abatedouros clandestinos como fotografias dos caminhões do frigorífico sendo carregados nos próprios abatedouros clandestinos, cópias dos atestados falsificados. Ao longo de seis meses foi tentado um acordo sigiloso entre as partes, mas que não foi possível, pois a quantia de dinheiro que Leonardo Santana exigia era exorbitante e causaria um grande desfalque à empresa. Exato um mês após a última conversa dos dois, uma revista de grande circulação nacional, inclusive nas redes sociais, mostrava em sua primeira capa uma foto do frigorífico com o seguinte noticiário: "Famoso frigorífico vende gato por lebre". A partir daí o frigorífico passou a ser alvo de especulações de todo o tipo, repórteres faziam plantão na porta, tentavam falar com os funcionários. A queda nas vendas foi imediata, as ações da empresa despencaram na bolsa de valores. O desespero do sr Laércio era visível com a gravidade da situação.

Roger, por sua vez, tinha como provas concretas para a defesa do seu cliente, uma gravação clara da chantagem de Leonardo Santana e o depoimento de alguns funcionários que relataram que o denunciante afirmava para quem quisesse ouvir que ele enriqueceria de um jeito ou de outro as custas do frigorífico ao qual trabalhava. Ele estava ciente que tinha um caso difícil nas mãos, com grande relevância para sua carreira que envolvia muito dinheiro e o emprego de muitas pessoas. Precisava se manter focado no caso e usar todo o seu vasto conhecimento jurídico para ganhar a causa, ou ao menos conseguir um acordo interessante para o seu cliente. Para isso, o assunto Ester devia ser colocado de lado e ganhar mais uma grande causa de repercussão nacional.

Nove Meses Para MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora