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     O segundo dia de trabalho na advocacia, foi ainda mais tenso. Ester não conseguia memorizar nenhuma das ordens passadas por Callamar e se sentia perdida pedindo refúgio a terceiros. A profissão de secretária era bem mais complexa do que imaginava. Quando Roger chegava, tudo piorava, parecia que o nervosismo triplicava e a improdutividade também. Não fazia nada certo, os papéis sempre caíam no chão; as anotações eram sempre precipitadas nunca coincidindo com as rogatórias dos clientes, tudo parecia conspirar contra ela.

Definitivamente as coisas não estavam saindo como o esperado para Ester naquela semana. Chegou dois dias atrasadas na faculdade perdendo as primeiras aulas por conta do celular, um modelo ultrapassado da Samsung que desligava sozinho em momentos inoportunos. Não teve alternativa a não ser recorrer a sua poupança para comprar um aparelho novo que por sorte encontrou um modelo mais atualizado em promoção em uma loja de departamento.

O único alívio para tantos infortúnios foi saber através da secretária Laura que o Dr Roger só retornaria para o escritório na próxima semana em virtude de uma viagem para assessorar um antigo cliente no Mato Grosso. O suspiro indiscreto da moça com a novidade inesperada fez a secretária gargalhar o que a deixou bastante envergonhada com a sua reação intempestiva à notícia.

Camila deu sinal de vida na sexta-feira através de mensagem de texto, se desculpou pela ausência e convidou Ester para um happy hour em um barzinho descolado da Vila Madalena. Combinaram de se encontrarem no pensionato para Camila rever as amigas e Ester trocar de roupa.

Foi uma noite memorável como há muito tempo Ester não tinha. O local bastante movimentado e com uma variedade enorme de bebidas e petiscos fez Ester sucumbir à tentação e tomar um chopp cremoso, logo sentiu os efeitos do álcool que a deixaram falante e ruborizada atraindo a atenção de dois rapazes para a mesa das moças. O ambiente se tornou deveras descontraído que o bate-papo entrou madrugada adentro com muitas piadas e histórias contadas pelos jovens. Ao final da noite trocaram telefones e as moças chamaram um UBER conhecido de Camila para retornarem em segurança. Ester passou a noite no apartamento da amiga regressando para o pensionato no final da tarde de sábado. Passou o domingo estudando e finalizando alguns trabalhos da faculdade.

Na segunda-feira Ester tentou de todas as maneiras ignorar a presença do professor Roger evitando cruzar o olhar com ele permanecendo boa parte do tempo de cabeça baixa, até o momento que o docente a parabenizou perante a turma pela conquista do estágio no seu escritório. Se o propósito dele era a atenção da moça, alcançou o objetivo desejado e como bônus muitos burburinho na turma decorrentes das indiscrições constantes do professor, além, é claro, dos olhares raivosos de algumas alunas para ela, principalmente das que estavam na entrevista de empregos naquele dia.

Ester deixou a sala furiosa, exasperada com o doutor pela exposição desnecessária a que foi submetida. Ela tinha conhecimento que as investidas do Roger geravam comentários maldosos por parte de alguns alunos, mas depois dessa atitude infeliz dele, a sua aprovação no estágio passaria a ser motivo de chacota e desmerecimento, a colocando em uma situação de inferioridade diante da turma.

No estágio procurou se manter focada, buscando aprender o máximo que podia com o Dr Callamar atendendo ao Dr Roger somente quando requisitada, evitando estar a sós com ele nas dependências do escritório. Porém, no final do expediente da quarta-feira, Roger solicitou a sua ajuda para encontrar nos arquivos um processo de 2013. Passaram em torno de 30 minutos na sala apertada procurando o tal processo, Ester o encontrou na última gaveta no arquivo do canto da parede, precisou ficar de joelhos para alcançar a pasta e, antes de se erguer, sentiu um leve roçar no seu bumbum, no momento pensou ter se enganado, mas o toque se repetiu, sorrateiro. Ela então deixou a pasta sobre uma pequena mesa e saiu ignorando a ação inusitada do doutor.

Mais toques como aqueles vieram a partir de então. Involuntários ou não, aquilo constrangia Ester que não sabia como se comportar. Eram toques que nunca havia sentido antes. Pequenos contatos, às vezes tão sútil, mas ao mesmo tempo tão fortes. Geralmente, nestes pequenos tatos, Roger não lhe direcionava o olhar o que a levava a acreditar que aquilo fosse coisas da sua cabeça, que seu subconsciente estava lhe pregando uma peça. Por vezes teve sonhos estranhos em que acordava com o peito arfando, totalmente suada e encravando as unhas no colchão num total desespero. Eram de fato sonhos eróticos que voltavam a se repetir e sempre com os mesmos protagonistas: ela e o patrão. Transavam alucinadamente naquela saleta, com Roger lhe metendo forte por trás. Acordava envergonhada com os rumos dos seus pensamentos.

Mas acontece que aqueles toques evoluíram e se tornaram mais intensos e ousados a partir de então, não eram mais leves roçar de dedos, mas mãos no seio e bumbum, e nada que involuntários. Em determinada reunião, Roger a colocou sentada ao seu lado e por debaixo da mesa alisou a parte interna das coxas almejando encontrar o elástico da calcinha. Ester o repeliu com um beliscão e se dispersou com a desculpa de ir ao toalete. E de fato lá estava, em frente ao espelho com as mãos nas têmporas lamentando o que estava acontecendo no emprego. A secretária Laura entrou e a viu naquela estranha situação.

– Ester, sente-se bem?

Rapidamente limpou os olhos camuflando a aflição.

– Sim, estou. Apenas um mal estar; acho que foi o meu café da manhã apressado.

Revoltada com tudo aquilo, pensou em dar queixa por assédio ou até mesmo deixar o estágio, mas com o tempo àquelas mãos grandes a apalpando deixaram- na excitada, parecia que era algo que tinha que acontecer e acostumar, e, no fundo, aquele pecado, que vibrava o coração, que desaferrolhava o gemido, começa a ser bem vindo. Quando Roger a tocava nos seios, sentia a calcinha umedecer, o prazer aflorar como uma rosa no deserto. Cruzava as pernas para aliviar o tesão crescente quando o via passar com aquele olhar safado. Não tinha coragem de contar para Camila que embora fosse sua melhor amiga tinha receios em expor a sua intimidade ou até mesmo de sofrer com os julgamentos da colega. 

Nove Meses Para MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora