Capítulo 37

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      Após a agressão e ameaça sofrida, Jennifer deixou a casa com as filhas para passar alguns dias no sítio da família em Atibaia. Evidente que Roger não se opôs a viagem, pelo contrário, ficar sozinho nesse momento para poder se dedicar aos seus dois objetivos principais, reverter a situação do caso do frigorífico e descobrir a identidade da gestante misteriosa, sem ter que olhar diariamente para a cara de Jeniffer, seria perfeito. O que ele não imaginava é que logo ficaria frente a frente com a causadora de alguns dos seus infortúnios.

Dedicado em redigir a petição para impetrar um habeas corpus libertatorio para o seu cliente, bem como o recurso da pena, Roger passou os próximos dois dias recluso no escritório, sem atender a outros clientes e licenciado da universidade. Nem mesmo Paulo tinha acesso ao advogado, a ordem dada a ele foi para não ser incomodado em hipótese alguma e para que os documentos e correspondências fossem deixados sobre a mesa pela manhã antes de chegar, pois elas seriam analisadas quando possível. Após finalizadas a petição e o recurso, Roger preparou uma dose de uísque, retirou o terno e passou as próximas horas a analisar os documentos e correspondências acumuladas na sua mesa de trabalho. Em meio a estas correspondências, havia um envelope negro perfumado sem remetente. Roger analisou o objeto como se o tivesse periciando, cheirou-o, identificou como conhecida a fragrância feminina, mas não lembrava de onde. Com cuidado, o abriu e retirou o conteúdo, uma gravata de seda italiana vermelha que após avaliar reconheceu como sendo da sua vasta coleção, pois as suas iniciais RB estavam gravadas no verso, e um cartão negro com um número de celular escrito em dourado. Roger estranhou o presente; pensou em Camila, mas logo a descartou pois ela sempre fora muito direta quanto aos seus desejos e vontades. Então lhe enviaria uma mensagem e não uma gravata com um número de celular. É certo que se tratava de alguém da sua convivência pois estava de posse de um objeto pessoal dele, mas quem, pensou. Ponderou um pouco se deveria ou não fazer uma ligação para aquele número, uma vez que era desconhecido para ele. Resolveu arriscar e sanar a sua curiosidade, mas não sem antes ter o cuidado de colocar o seu próprio número no modo privado. Na primeira tentativa tocou por três vezes caindo na caixa postal. Embora isso o tenha irritado, Roger tentou mais uma vez, no terceiro toque uma voz feminina anasalada e desconhecida atendeu.

– Alô. – disse a voz

– Quem fala? – perguntou Roger

– Depende de quem deseja saber.

– É o seguinte: recebi esse número junto com uma gravata minha sem remetente, portanto gostaria de saber quem me enviou. – disse impaciente.

– Ah, é você. – a voz respondeu com desdém.

– Acho que sim. É o que parece, não é?

– Eu lhe enviei a sua gravata.

– Você, quem? Pelo amor de Deus. Não estou para joguinhos.

– A mulher que perturba os seus dias, desestabiliza a sua vida meticulosamente planejada e que conhece cada um dos seus passos.

– A gestante misteriosa? – disse com espanto na voz.

– Se você quer me chamar assim, por mim tanto faz.

– Eu quero é saber quem é você e o que quer comigo!

– O que eu quero com você, isso é muito interessante.

– Por que interessante?

– É sempre interessante brincar com a expectativa do outro. Não acha? Mas vou ajudar você.

– Como?

– Me encontre amanhã às quatorze horas na Rua Augusta 221 sala 301.

– E como vou ter certeza que isso não é um trote para me deixar esperando ou até mesmo uma cilada? Preciso de mais do que isso, alguma dica ou informação sobre você.

Nove Meses Para MatarOnde histórias criam vida. Descubra agora