Suspiro e encaro a parede do quarto como se ela fosse meu meio de segurança para iniciar o relato da minha vida. Não entendo minha reação, mas não consigo encarar a psicóloga para tentar contar o que aconteceu na minha vida.
Tem poucos minutos que Daniel saiu do quarto relutante por me deixar sozinha com a Alyssa, precisou sua mãe lhe falar algo para que ele me olhasse uma última vez de um jeito que não pude decifrar antes que saísse do quarto.
— Não precisa se forçar a me contar querida, iremos com calma, hoje podemos falar coisas básicas que não lhe tragam dor.
— Isso é impossível Alyssa, só conheci a dor — sussurro com pesar.
— Acho que não querida — sorri ternamente e me sinto bem com o seu sorriso — O Daniel e a Clarisse pelo o que pude perceber são próximos a você, isso é algo muito bom.
— Eu só conheci o Daniel tem poucos dias, agora Clarisse tem uns dois dias se não me engano. No começo pensei que ela estava brincando comigo, não quis aceitar sua amizade — faço uma careta ao falar amizade.
— Você não gosta dela?
— Pelo o contrário, ela me fez sentir normal por poucos minutos antes que eu viesse parar no hospital — confesso.
— Defina o que é normal para você Victoria? — pergunta com atenção e não perco o bloco de notas em sua mão.
Suspiro e penso um pouco em como respondê-la.
— Ser feliz eu acho — penso mais um pouco, continuo —, ter alguém que te ama e está lá do seu lado apoiando ou lhe aconselhando sobre suas decisões. Eu nunca tive isso, então por isso nunca me considerei uma adolescente normal.
— E o que mais? — instiga com cuidado e aos poucos sinto mais confiança para lhe contar sobre meus demônios internos.
— Ter amigos, sei que isso não é tudo, mas eu nunca tive amigos ou alguém com que eu pudesse desabafar um pouco sobre o que eu passo em casa — pauso um pouco para organizar meus pensamentos — Não sei se eu conseguiria contar para outra pessoa naquela momento, mas eu só queria alguém para segurar minha mão e me dizer que tudo vai ficar bem, já que meus próprios pais nunca fizeram isso além de me bater ou me humilhar.
Ouço seu suspiro e vejo Alyssa me encarar com pesar, não entendo sua reação, acho que eu não sou a primeira paciente que sofreu com algo e ela teve que ouvir seus relatos dolorosos. Mas sinto que Alyssa tem me tratado diferente desde que me revelou que sou parecida com a sua mãe. Pode ser algo completamente diferente e eu estar imaginando algo aonde não tem, mas não posso mentir que me sinto segura ao seu lado desde que acordei e a encontrei sentada na cadeira ao canto do quarto me observando atentamente.
— Me fale um pouco sobre seus pais — pede com cuidado e vejo que ela tem um pouco de dificuldade em pronunciar pais.
— Pais — dou uma risada fraca e completamente sem humor algum — Eles não merecem ser chamados assim, nunca me trataram como filha, sempre fui um peso no qual eles faziam questão de me mostrar todos os dias, seja com gritos e até partiam para agressão física — sinto meus olhos marejados e seguro minhas lágrimas, não quero me quebrar na frente dela — Aprendi que eles realmente não me amavam quando eu ia todo dia para a escola e presenciava os pais dos meus colegas tratando eles com amor e carinho, enquanto eu morria de medo de ir para casa sem saber o que me aguardaria daquela vez. Se seriam gritos ou tapas. Mas eu era muito ingênua e achava que meus pais tinham passado por algo ruim no trabalho.
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Um Novo Recomeço (Único) | ✓
Genç KurguHISTÓRIA NÃO REVISADA ➜ +16 • A história aborda violência (física e psicológica), bullying e automutilação. ➜ TODOS OS DIREITOS RESERVADOS | Não permito que façam adaptações ou a utilize para outros fins. Às vezes tudo o que precisamos é de um rec...