13. TMZ: Boatos do desaparecimento de Nia Kaled são confirmados.

996 85 7
                                    

A neve caia lá fora, um esquilo subindo correndo a arvore enquanto o vento aumentava. Me encolhi na poltrona, apertando a caneca em minha mão. A lareira estava acessa, e ao fundo uma musica clássica tocava. A casa tinha cheiro de chocolate quente e madeira.

Sentindo a solidão me envolver, peguei o controle da televisão e a liguei. Era a única coisa que me fazia companhia naquela casa vazia.

Eu estava em uma pequena cidade no interior de Nevada, a quase três mil kilometros de Miami. Ao pensar nessa distancia meu coração se apertou no peito.

Meu novo celular vibrou na mesa ao lado da poltrona, o número de Joel aparecendo na tela. Me inclinei e desliguei a chamada. Na tela de bloqueio, 17 chamadas perdidas e 53 mensagens. Isso porque apenas 4 pessoas tinham esse número.

Me encostei na poltrona, apertando a coberta ao meu redor e fechando os olhos, soltando um suspiro. Lembranças dos últimos dias passando por meus olhos.

Foi Chris quem me achou no telhado do prédio, desmaiada. Quando sai lá eu não notei que tinha uma segunda porta, e que ter trancado a pela qual passei não adiantou de nada. Ele tinha ido atrás de mim após eu sair da reunião, e ao ver Patrick tentando abrir a porta de emergência, foi para a segunda porta que dava as escadas do outro lado do prédio. Sabendo que eu tentaria fugir, ele pensou igual a mim: que Patrick me procuraria nos andares de baixo, e não nos de cima. Foi assim que chegou ao terraço.

Acordei tão desesperada quanto desmaiei. Chris tentava me acalmar, aparentemente não sabendo a gravidade do que tinha acabado de acontecer naquela sala. Conforme eu negava aquilo, outras coisas vinham a minha cabeça: a minha orientadora dizendo que eu precisava emagrecer; os emails de hate após meu email vazar; a reunião com minha equipe em que eles falaram que se eu continuasse naquele ritmo, nunca alcançaria o topo das melhores modelos; pessoas dizendo que ser a mais bem paga do ano não me faz a melhor; e diversas outras coisas que aconteceram naquela semana.

Eu não sabia como Christopher tinha conseguido me acalmar no meio daquilo tudo, e quando dei por mim eu estava em seu hotel. Eu tinha pedido para ele ligar para James e Martin, por isso quando cheguei no hotel eles já estavam lá.

Eu surtei de novo.

Se não fosse por Martin, que sabia melhor do que ninguém a como me ajudar a controlar crises de ansiedade, eu provavelmente teria desmaiado de novo.

Patrick ligava para o meu celular, e para o dos meninos, me procurando. Disse a eles para não falarem onde eu estava, e por isso ninguém atendeu as ligações.

Eu só fui me acalmar de verdade após três calmantes, que Martin me deu com muita relutância. A ultima coisa que ouvi antes de apagar na cama de Chris foi Martin dizendo: esta na hora de uma fuga.

Isso foi uma referência a uma conversa que tivemos há muitos meses, em uma viajem a negócios. Patrick tinha perdido a cabeça e estava cuspindo fogo para todos os lados. Alguma coisa tinha acontecido em sua vida pessoal, e ele descontava no trabalho. Naquele dia James brincou que ele estava precisando tirar uns dias de folga e dar uma fugida da realidade por um tempo. Eu disse que isso só aconteceria se ele enfiasse a cabeça em muita neve.

"Eu tenho uma prima, que foi criada pela minha avó, que ganhou uma casa do pai dela. Mas ela não queria nada que viesse do pai, por isso deu a casa pra avó. Ai quando nossa vó morreu a casa ficou para mim no testamento, a pedido dessa minha prima, que não queria a casa de forma alguma. Mas nós tivemos alguns problemas com documento, e não conseguimos transferir a casa para o meu nome. Ela fica entre duas montanhas em Nevada, cercada por neve. Lá é um lugar perfeito para uma fuga" foi o que Martin disse aos nossos comentários.

Olhamos para ele como se fosse louco, sem entender nada.

A questão era que a casa realmente existia, e não possuía ligação alguma com Martin, e por isso, nunca a ligariam a ele. Era o lugar perfeito para eu me esconder.

Fiquei três dias em um carro para conseguir chegar aquela casa, com James e Martin juntos. Eu não podia arriscar vim de avião, se queria realmente sumir do mapa. Eles atualizavam suas redes sociais nesses dias para simularem uma viagem ao Canadá. Patrick começou a surtar ao se passarem quatro dias e nada de eu aparecer.

Enquanto eu ainda estava sumida, o clipe de Estoy Enamorada de Ti havia sido lançado, e querendo ou não a notícia do meu desaparecimento deu uma imagem que o clipe não precisava. Apesar das pessoas estarem assistindo — e pelo o que eu fiquei sabendo, as visualizações estão crescendo a cada dia—, elas só assistiam pelo fato de quererem ver a "modelo desaparecida".

Vários comentários no vídeo ou até mesmo no Twitter diziam que meu sumiço na verdade era apenas jogada de marketing por eu ter entrado numa nova agência. Mal sabem eles o que realmente acontece na minha vida...

James e Martin me ligavam no mínimo duas vezes por dia, e me contavam tudo o que estava acontecendo e sempre diziam que odiavam saber que eu estava sozinha aqui. Nos dois primeiros dias eles ficaram comigo, mas logo depois tiveram que voltar para Miami ou iria ficar muito suspeito.

Eles me contaram que Patrick surtou com eles querendo saber onde eu estava. James disse que ele gritava tanto que a veia em sua testa saltava, ele estava completamente fora de si.

"— Eu sei que vocês sabem onde ela está. Agora me digam!

— Se você tem tanta certeza que a gente sabe pra onde ela foi, por que você não tenta jogar na loteria? Vai que ganha — diz James, o que faz com que Patrick se irrite mais.

— Não brinca comigo, James. Eu quero saber onde a Nia está!

— Primeiro, — começou a falar Martin — para de escândalo. Segundo, seu zíper está aberto, o passarinho vai voar.

Patrick respirou fundo três vezes tentando se acalmar, ele estava mais irritado pelo fato de James e Martin estarem tranquilos do que com o próprio desaparecimento meu.

— É o seguinte, avisem a amiga irresponsável de vocês que mesmo ela não aparecendo para assinar esse contrato, ele irá acontecer de qualquer jeito. Então se ela não quer que outra pessoa completamente desconhecida para Christopher assine isso, é melhor ela aparecer.

Dito isso ele sai deixando James e Martin sozinhos."

Quando eles me contaram isso, eu realmente pensei em voltar na mesma hora, mas eu também tinha que pensar em mim. Eu não queria assinar aquele contrato, mas eu não queria que Chris tivesse que passar por isso com uma completa estranha.

Desde que eu saí do hotel dele naquela noite, eu havia deixado meu número novo com ele — já que no antigo podiam me rastrear e me encontrarem —, e pedi que ele desse para Joel. Apesar de eu não responder as mensagens ou atender as ligações...

Quando eu paro para pensar em tudo o que estava acontecendo na minha vida, eu só me afastava mais da vontade de voltar. Eu amava o que fazia, eu amava desfilar, tirar fotos, entrar numa loja e ver uma revista com uma capa minha, mas por trás de todo esse glamour, havia uma pressão imensa em cima de mim e eu apenas não estava aguentando mais.

Eu sabia que tinha que voltar, sabia que não poderia continuar desaparecida, e mesmo que eu não quisesse fazer parte daquele contrato, eu não poderia deixar o Chris na mão.

Tudo o que eu precisava era pensar bem e me fazer somente uma única pergunta. Eu iria aguentar?

Não tive a chance de responder essa pergunta, pois a porta da casa foi aberta, e Patrick entrou por ela.

FocusOnde histórias criam vida. Descubra agora